Nicole
31 de Janeiro de 2024
Irajá
Zona Norte, Rio de Janeiro.
A Thayla e eu ficamos por meia hora discutindo sobre onde iríamos curtir o meu aniversário. Por mim, podia ser qualquer lugar do mundo, mas ela ficou repetindo um local específico por todo tempo. Disse que era um estabelecimento novo, aberto a um mês mais ou menos, disse que tinha música, bebida boa, e que era bem animado.
Eu só fui entender o motivo de tanta insistência, um tempo depois que nós chegamos e nos acomodamos em uma mesa, quando vi o Thiago entrando no local.
Nicole: Você tá de sacanagem com a minha cara, Thayla!
Ela tirou a cara do celular e encarou a porta, percebi que ficou toda desconcertada quando viu o ex.
Thayla: Ele tá postando story aqui todos os dias, Ni. Eu precisava vir ver o que tem de tão interessante nesse lugar - falou, como se fosse óbvio.
Desviei meus olhos do Thiago, que a essa altura já tinha entrado no estabelecimento e estava falando com uns garotos, pra encarar minha amiga.
Nicole: Você me disse que ele te bloqueou.
Ela deu de ombros e voltou a fixar o olhar nele, do outro lado do barzinho.
Thayla: Eu tenho um perfil fake.
Minha cabeça começou a doer e eu só queria fumar. A Thayla ja estava me irritando com esse lance.
Depois disso, meus minutos seguintes se resumiram em aguentar a Thayla olhando cada passo do Thiago, como se ela fosse uma psicopata.
Nicole: Disfarça, antes que alguém chame a polícia.
Thayla: Me deixa, Ni.
Eu resmunguei baixinho e me levantei da cadeira, avisando que iria no banheiro. Ela nem respondeu. Confesso que enrolei por mais tempo que devia, por não querer que o meu dia terminasse no drama entre Thayla e Thiago. Qualquer coisa era melhor que isso.
Na saída do banheiro, a porta ficava quase encostada no balcão de pagamento, um papel que anunciava a vaga de balconista chamou a minha atenção. O meu coração acelerou na hora, com a sensação de que ia dar certo, eu só precisava tentar.
Precisava tanto de um emprego, de uma casa, da minha paz.
Nicole: Moça - chamei a menina morena que tinha acabado de entrar pela portinha lateral do balcão - A vaga tá aberta?
Ela me olhou meio irritada... não comigo, sei lá, não entendi muito bem. Com o olhar que me fuzilou, ela parecia ser capaz de me decapitar.
- Tá, tá sim - balançou a cabeça concordando, ela parecia tentar se acalmar. Sorriu fraquinho pra mim - Tá interessada?
Nicole: Muito.
- Eu também tô bem interessada que essa vaga seja preenchida, porque tô tendo que me desdobrar em três pra dar conta de tudo - bufou, e passou a mão na frente do rosto. Percebi seu braço e a lateral de sua roupa molhadas, como se tivesse derrubado algo - Preciso trocar de roupa e me secar... se você quiser vir aqui amanhã, a gente pode conversar.
