Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Gabriel
25 de Maio de 2024 Irajá Zona Norte, Rio de Janeiro.
Eu ainda nem tinha dormido, só cochilei por pouco tempo. O dia já tava claro e a gente nem tinha saído do quarto ainda.
Depois que a Nicole pediu pra eu abrir o vinho e ela tomou uns goles, quem tomou o chá foi eu. Não tava entendendo bem o porque daquela parada, mas tinha que me lembrar de não deixar essa garota beber sozinha por aí, porque quando o álcool entrava, ela ficava insaciável. Mesmo que ela estivesse cansada e não tivesse mais forças, ela simplesmente não conseguiu parar até praticamente desmaiar de exaustão.
Eu podia ter ido embora, mas não queria, então continuei do lado dela, mesmo que ela estivesse dormindo por horas.
Minha vida mudou o rumo quando ainda era criança. Todas as minhas decisões e escolhas foram tomadas por terceiros. Eu nunca tive a minha própria escolha. Não escolhi jogar, não escolhi fugir, e também não escolhi ter que abandonar a minha família, a minha vida, deixar tudo pra trás e viver feito um fugitivo.
Mas eu escolhi a Nicole. Escolhi e eu tive ela pra mim.
A noite passada foi a primeira em muito tempo, que senti conseguir alguma coisa que quis. Aquela sensação de êxtase, de vitória, de sucesso... porra, eu não tinha nem conseguido dormir, porque alguma coisa dentro de mim me fez sentir vivo e capaz.
Capaz de ser o dono da minha própria vida.
Virei meu pescoço pro lado, encontrando o rosto da Nicole, ainda dormindo.
Mais uma vez aquela sensação me atingiu, e desejei ser capaz de ser o dono da vida dela também. Quis fazer parte de todas as suas escolhas, suas decisões e seu futuro, se isso significasse que ela continuaria me fazer sentir vivo e capaz... dia após dia, todos os dias.
Nunca fui o tipo de homem que tinha o que pedia. Sempre fui acostumado a ter que buscar, armar e inverter a situação de maneira que ficasse favorável pra mim. Eu não iria me importar de ter que fazer isso com ela.
Depois de ontem, eu não podia me dar ao luxo de ignorar essa sensação. Depois de ontem, eu não podia me dar ao luxo de não ter ela comigo.
Não importava o que eu tivesse que fazer, quem eu tivesse que tirar do meu caminho ou o que eu precisasse dizer... porque eu estava obcecado.
E ela seria minha.
A Nicole já era minha. Ela só precisava se acostumar com a ideia.
Eu tava cansado de viver essa vida de merda, não ia deixar o único gostinho de vida que me restou.
Nem que pra isso eu precisasse ir até o inferno e bater um papinho com o capeta.
Eu com certeza iria até o inferno pra ela ser minha.
Só minha.
****
Ter que sair da cama foi uma tarefa quase impossível, principalmente considerando que tinha um pecado em forma de mulher completamente pelada do meu lado. Mas tive que usar o banheiro e aproveitei pra tomar um banho, antes que a Dhiôvanna saísse do quarto.
Acho que nem dei muita sorte, porque assim que terminei e saí do banheiro, encontrei a minha irmã no corredor.
Os olhos dela me analisaram dos pés a cabeça, duas vezes, antes de abrir a boca pra falar.
Dhiôvanna: Você ainda tá aqui - ela perdeu a voz, e eu perdi a força, vendo minha irmã me olhando daquele jeito, como se fosse um sonho - Terceiro dia e você não foi embora ainda.
Sorri de lado e me aproximei, dando um beijo na testa dela.
Gabriel: Bom dia, linda.
Os olhos dela me analisaram mais uma vez.
Dhiôvanna: Dormiu com ela?
A voz dela não tinha surpresa, não tinha malícia, não tinha nada. Entendi o que a Nicole quis dizer quando contou que a minha irmã já não parecia a minha irmã.
Concordei com a cabeça, engolindo o nó na garganta.
Parecia que eu tava sufocando, embaixo da água. Meu peito tava doendo, mas eu não conseguia respirar direito.
Gabriel: Vou pôr uma roupa, te encontro lá embaixo? - ela balançou a cabeça.
Cocei a nuca e saí em passos apressados em direção ao meu quarto... ou o quarto da Nicole, sei lá.
Abri a porta e entrei no quarto. A Nicole acordou com o barulho e sentou na cama no mesmo segundo, cobrindo o seu corpo com o lençol.
Ela piscou de forma sonolenta, mas eu ainda tava atordoado, não tava conseguindo respirar.
Nicole: Você tá bem? - murmurou baixinho.
Não respondi.
Cortei a distância entre a porta e a cama em um segundo, e quando notei ela tava de joelhos no colchão, abraçando meus ombros.
Foi só naquela hora que consegui respirar.
Foi só naquela hora que me desafoguei e voltei a superfície.
Ela continuou apertando meu corpo contra o dela, enquanto eu controlava minha respiração descompassada.
Era como se a Nicole fosse meu respiro de alívio longe de toda aquela merda que era a minha vida.