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Nicole
24 de Maio de 2024 Irajá Zona Norte, Rio de Janeiro.
Dhiô: Ele não vai voltar, mãe. Ele tá... - a voz dela morreu, incapaz de continuar a frase.
Eu me senti pequena demais no meu lugar. Os pais dela estavam se despedindo, iam embora e a dona Lindalva pediu para a Dhiô avisar se ele aparecesse, e a essa foi a resposta da filha.
Lindalva: Ele não tá, Dhiôvanna. Para de repetir isso.
Dhiô: É mais fácil se você aceitar!
Lindalva: Teu irmão vai voltar! - rebateu, usando o mesmo tom de voz.
Dito isso, ela e o marido viraram as costas e saíram sem dizer mais nada. Era doloroso ver uma família se afundar, assim como era bem doloroso ouvir a Dhiôvanna falando aquelas coisas, mesmo sabendo que ela não queria falar e muito menos acreditar no que dizia.
Nicole: Me mostra o que você ganhou.
A tentativa de distrair ela não pareceu boa o bastante, mas foi suficiente pra que ela fosse até o sofá e a mostrasse seus presentes. Eu me sentei no chão, no tapete da sala e o Thiago ficou ao lado dela, passando as mãos nas costas da Dhiô.
Nicole: E a aliança? - perguntei, dando um sorrisinho malicioso pra ela.
A Dhiô soltou uma risadinha e esticou a mão na minha direção. Meu melhor amigo revirou os olhos, sentindo o meu deboche.
Thiago: Para de ser falsa, foi tu que me ajudou a escolher.
Dhiô: Eu amei - ela falou, olhando para o anel no próprio dedo - Nunca namorei de aliança.
Thiago: Tua primeira e última vez, gatinha. O próximo anel a parar nesse dedo é de ouro.
Ela sorriu toda bobinha e abraçou o pescoço dele, dando um beijo no seu rosto.
Eu tinha muito que agradecer por ter o Thiago na minha vida, mas sinceramente, ela deveria agradecer tanto quanto eu.
Nicole: Tá bom, pombinhos. Eu vou me deitar antes que essa melação me dê diabetes.
Ela riu, mas ele torceu o nariz. Eu sabia que vinha besteira.
Thiago: Se tu parasse de enrolar o moleque e desse uma chance pro meu irmão, tu não ia ter diabetes com essa melação aqui - provocou.
Revirei os olhos com tanta força que fiquei com medo de não voltarem pro lugar.
Nicole: Você nunca vai desistir, né? - levantei do chão e cruzei os braços, vendo que a Dhiô se divertia com a discussão.
Thiago: Só quando vocês ficarem juntinhos. Ah qual é, Nicole?! O cara já falou que te quer pra caralho.
Dhiô: Quem tem que querer é ela, não ele.
Nicole: Viu? Escuta a voz da razão.
Ele bufou.
Thiago: E quem disse que ela não quer? Ela quer sim, só tá de graça porque se acha velha demais pro Igor.
Eu quis ignorar aquela discussão, porque eu não tinha como argumentar.
Conheci o Igor a uns dois meses, e o Thiago estava super afim de bancar o cupido com a gente, mas não tenho certeza se eu estava mesmo afim dele. Quer dizer, ficamos algumas vezes, ele era sempre legal como o Thiago e eu gostava muito da companhia do Igor, mas ele só tinha vinte anos e essa questão da idade me prendia pra caralho. Não tinha preconceito e essas coisas, mas sempre me pegava pensando que se fosse namorar, queria namorar com um cara que houvesse maturidade pra não causar mais dor de cabeça na minha vida, e era difícil pensar que um cara de vinte anos conseguiria dar o que eu estava pedindo, então preferi não aprofundar essa relação, mas a gente ainda se falava e se via algumas vezes.
Nicole: Cala a boca.
Ele deu uma risada eu virei as costas, para ir até a escada e depois ao meu quarto, mas eu fui impedida de seguir com os meus planos quando ouvi o portão de abrindo de novo.
Pensei que poderiam ser os pais da Dhiô, eles deviam ter esquecido algo e tiveram que voltar pra pegar. Bom, foi o que eu quis acreditar, só que tanto eu, quanto os outros na sala, sabiam que era mais do que isso.
Automaticamente ficou quase impossível de respirar. O clima tenso no ar era sufocante, e eu pensei como a Dhiôvanna deveria estar se sentindo.
Se me atingia daquela forma, com certeza era muito pior pra ela.
Conseguimos ouvir os passos se aproximando, e eu virei em direção a porta a tempo de ver ela se abrindo e o Gabriel aparecer.
Depois de meses de angústia, mesmo sem nem o conhecer direito, eu senti o alívio no peito de saber que ao menos ele continuava vivo. Seria trágico se morresse tão novo por essa merda que nem teve culpa.
Senti o peso nos meus ombros enquanto eu encarei cada pedaço do rosto e do corpo dele. Não parecia tão diferente, mas parecia mais distante... olhar distante. Sua expressão era extremamente rígida e dolorosa só de olhar. Havia muita culpa em seus olhos, assim como medo, e enquanto ele não encarava a Dhiô, eu pude ver o quanto ele sentia saudades.
Ele não tirou os olhos dela. Não se mexeu, e continuou parado, ainda segurando a porta.
Eu não tirei os olhos dele até ouvir um soluço dela.
A Dhiôvanna se levantou e saiu tropeçando nos próprios pés até encurtar a distância e se jogar nos braços do irmão. Ele abraçou ela com força, fechando os olhos.
Eu nunca fui uma pessoa que chorava com facilidade, mas senti meu nariz coçando e a vista embaçar quando ouvi o choro desesperado rasgando o peito dela.
A Dhiô tentava falar, mas a voz não saia. Ela não conseguia falar nada alem de uma sílaba e ele continuava agarrado com o corpo da irmã, ainda de olhos fechados. Talvez estivesse se controlando pra não chorar também.
Tirei meus olhos da cena quando o Thiago virou o pescoço pra me encarar, e ele não parecia nada feliz. Negou com a cabeça, em um recado silencioso me dizendo que aquilo não estava certo.
Não importa. Certo ou não, era a família dela e a pessoa que ela mais amava no mundo. Certo ou não, eu sabia que independente de qualquer coisa, se ele ia ficar por um dia ou uma hora não importava, porque era o melhor presente de aniversário que ela tinha ganhado.