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Nicole

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Nicole

15 de Junho de 2024
Leblon
Zona Sul, Rio de Janeiro.

Era uma boa hora pra dizer que eu matava o avô dele, se ele quisesse?

Aquele filho da puta transformou a vida do Gabriel num inferno. Ele jogou o neto nesse mundo, ele obrigou o cara a ficar contra vontade. Ele machucou o Gabriel, machucou a Dhiô e forjou a própria morte.

Ele era doente, porra?

Internamente eu estava surtando. Mas não deixei transparecer porque o Gabriel precisava de mim.

Dirigi até o apartamento com ele em silêncio do meu lado.

O olhar distante. A cabeça longe. Ele não me olhava e não me tocava. Parecia ter quilômetros de distância entre nós dois.

Quando a porta do apartamento abriu e entramos na nossa casa, o Olaf correu pra pedir carinho para o Gabriel, mas ele saiu correndo para o segundo andar.

Me abaixei pegando o cachorrinho no colo e subi as escadas atrás dele. A porta do quarto de jogos estava aberta e antes que eu conseguisse me aproximar, ouvi o barulho das coisas se quebrando.

Respirei fundo e devolvi o Olaf ao chão.

Quando entrei no quarto, o Gabriel estava de pé, com as mãos apoiada em uma mesa e haviam várias peças de jogos no chão.

Nicole: Amor - ele levantou o olhar pra mim - Quer ficar sozinho?

Ele negou.

Diminui a nossa distância puxando o Gabriel para um abraço. Como uma criança, ele escondeu o rosto em meu peito e ficou quietinho, sem me soltar.

Não sei dizer o quanto aquilo estava me deixando sem reação. Eu não queria ver ele daquele jeito. Eu queria voltar a vinte minutos atrás, onde tudo estava perfeito e aquela bomba ainda não tinha caído no nosso colo. Queria aliviar a dor dele e eu queria que ele soubesse que independente de qualquer coisa, sempre me teria ao seu lado.

Nicole: Quer tomar um banho? Aliviar esse estresse? Eu arrumo um remédio que possa te acalma.

Senti as mãos dele apertando a minha cintura.

Gabriel: Não quero nada - murmurou com a voz rouca.

Nicole: Eu não quero te ver assim.

Ele me afastou, forçando o meu corpo pra longe do seu. Seus olhos vermelhos me encararam cheios de dor.

Gabriel: Quer ir pra casa da Dhiô? Eu vou entender se não quiser ficar aqui.

Nicole: Claro que não. Eu não vou ficar longe de você - voltei a me aproximar, e puxei os braços dele pra contornarem a minha cintura - Me fala o que eu posso fazer pra te ajudar.

Gabriel: Nada, Nicole - ele voltou a se afastar, e dessa vez nem consegui impedir. Ele andou até a cadeira do outro lado do quarto e sentou, apoiando os cotovelos no joelho e fitando o chão - Ele machucou a minha irmã.

Nicole: Ele te machucou.

Gabriel: Por anos. E anos e anos. Eu fugi por anos, e eu tava fugindo dele? - falou e soltou o ar pelo nariz, quase incrédulo - E me fez jogar por anos, comendo todo meu dinheiro, pra pagar uma dívida que ele me disse ter feito com um agiota.

Fechei os olhos, respirando fundo.

Aquele homem era um lixo.

Gabriel: Eu joguei por anos pra pagar a dívida do meu vô morto, e agora descobri que ele não está morto e que nunca existiu dívida nenhuma. O dinheiro era dele. Era pra ele - ele agarrou os próprios cabelos com força - Não dá pra acreditar. Minha cabeça vai explodir.

Nicole: Você quer que eu mate o velho? - ele me olhou, sem emoção alguma - Juro que mato e não me arrependo depois. Eu só quero fazer alguma coisa pra tirar essa agonia de ti. É péssimo te ver assim.

Eu vi a sua expressão mudando de vazio, para dor. E por fim, ele suspirou.

Gabriel: Vai embora, Nica.

Nicole: Cala a boca.

Gabriel: Eu sei que falei que ia te fazer ficar. Que ia fazer tu ficar comigo pra sempre e que nunca ia te deixar pra trás. Mas... só vai embora - neguei com a cabeça - Tu não merece entrar nessa merda junto comigo.

Nicole: Eu já tô nessa merda junto com você, seu idiota - me aproximei em passos firmes e me abaixei na sua frente. Ele foi forçado a me olhar - Vamos sair daqui. O paraguaio lá disse que vai te dar o tempo pra pensar...

Ele me cortou.

Gabriel: Eu não preciso de tempo pra pensar. Eu vou matar ele. Depois do que ele fez com a nossa família? A minha vó morreu de desgosto, Nicole. Tem noção? Eu sempre achei que ele era o herói da minha história, mas tô vendo que era só mais um vilão.

Nicole: Mas você não tá bem pra fazer isso agora. Você precisa de tempo, ou vai acabar fazendo besteira - suspirei - Vem. Saímos da cidade por uns dias. Só nós. E eu juro que isso tudo vai passar. A gente pensa num plano depois de pôr a cabeça no lugar. Eu só não quero te ver perdido desse jeito.

Por um momento ele pareceu pensar, mas depois mudou de ideia e negou, ajeitou a sua postura, se afastando de mim. Ficou encarando a parede, do outro lado da sala.

Senti meus olhos ardendo.

Nicole: Foge comigo, Gabriel. Foge do mundo, mas não foge de mim - os olhos dele me encararam. Deixou seus ombros caírem depois de suspirar pesadamente - Eu só tenho você e não vou suportar te perder também.

Ele vacilou, e me levantou, me puxando para o seus braços.

Eu entendi a postura de tentar me afastar pra fazer com que eu não entre nessa com ele, mas não adiantava. Eu me envolvi até o último fio de cabelo. Eu não deixaria ele, a única pessoa que restou na minha vida, ir embora.

Ele não me queria longe. Ele só achou que seria melhor pra mim.

Mas o melhor pra mim era ele. Sempre seria ele.

Eu prometi que iria com ele até o inferno. E cumpriria a minha promessa até o fim da vida.

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