Nicole
13 de Fevereiro de 2024
Irajá
Zona Norte, Rio de Janeiro.A única coisa capaz de me fazer relaxar, era o meu trabalho. Ocupei minha cabeça servindo as pessoas, anotando os pedidos e recebendo pagamentos, assim não tive tempo de me preocupar com a minha mãe e com a criança que ela carregava.
A Dhiôvanna tinha ido pra a aula a alguns minutos e eu fiquei sozinha no bar. Tirando eu, havia só um cozinheiro. Por ser dia de semana o fluxo nem era tão grande, estava tranquilo de atender.
Tentei evitar olhar para o relógio, porque todas as vezes que eu olhava ficava ansiosa sobre a hora de ir embora. Não fazia o menor sentido. Nunca me sentia ansiosa pra ir embora mas hoje sim, porque não queria ter que ir para casa e pensar de novo em toda a merda que tava rolando na minha vida.
Faltava vinte minutos para o expediente terminar quando o Gabriel entrou pela porta da frente.
Automaticamente me desencostei do balcão e engoli o nó na garganta, que nem sabia estar sentindo. Ele não parecia bem, na verdade, nem mesmo quando eu enfiei uma faca no ombro dele, ele me pareceu tão nervoso quanto agora.
Desde que entrou, seus olhos não saíram de mim, e continuaram daquela forma até ele estar em minha frente. Somente o balcão nos separava. Eu não sabia dizer o motivo daquela aparição repentina, mas sua expressão me deixou nervosa pra caralho.
Ele respirada fundo, parecendo tentar ficar calmo, com o nariz inflado buscando cada vez mais ar. As mãos dele pousaram encima do balcão, eu desviei o meu olhar dos olhos, pra encarar suas mãos. Ao perceber meu olhar, ele automaticamente fechou, apertando os próprios dedos com tanta força que eu vi sua pele perdendo o tom.
Deus me livre.
Nicole: A Dhiôvanna não está, ela foi pra aula.
O Gabriel passou língua nos dentes e inclinou seu o corpo pra frente, ficando mais próximo de mim.
Gabriel: Por que um escorpião?
Que cara maluco, mano. Ele ainda tava pirando por isso? Eu hein, era só o que faltava na minha vida.
Não bastava carregar o fardo de que eu tinha transado com ele e não me lembrava de nenhum detalhe, agora tinha que lidar com aquele surto por causa da minha tatuagem.
Nicole: Olha, eu tô trabalhando se não percebeu. Não tô com tempo pra aturar as tuas gracinhas - a minha voz morreu aos poucos, quando fiz menção em me afastar, mas ele segurou a minha mão, me mantendo no lugar - Me solta.