–— Esse tal Trevor McDuty. Quem ele é exatamente? — Pergunto enquanto mexo o meu chá com leite.Sebastian baixa o jornal para me olhar. Ele coça a garganta e bebe um gole do seu café.
— Tens a certeza de que queres falar disso agora? — Pergunta cauteloso.
Eu não sei, quero?
Tive duas semanas para pensar, sentir e pensar de novo na situação e no que fazer. Eu passei de estar presa numa casa para estar em outra, o que mudou foi que uma tem uma estilo moderno e a outra clássico, isto é, não mudou quase nada.
Eu não sei onde estou. Tem essa parte também. Sinceramente, não sei se quero saber...isso faria com que o golpe que levei na cabeça tivesse sido para nada.
Mas, de qualquer forma, fugir daqui seria um tiro no escuro. Não sei para onde iria e, por mais estranho que pareça, Sebastian é simpático e bastante hospitalar.
Mas Sebastian não é ele.— Absoluta. — Dou um gole em seco e olho nos olhos de Sebastian.
Ele remexe-se na cadeira e pousa de vez o jornal.
— McDuty...um jovem americano de trinta e poucos anos, trinta e dois para ser mais exato, usa o nepotismo como forma de conseguir tudo. Inclusive pessoas. — Coça a garganta. — Costuma frequentar bastante leilões—
— Leilões do tipo... — Interrompo.
— Sim, Lilith. Um leilão extremamente exclusivo e secreto para que só os melhores dos melhores possam participar e levar alguém para casa.
O meu coração erra uma batida e minha boca torna-se seca. Eles leiloam pessoas como se fossem objetos de coleção.
— Isso é horrível. — Exalo em puro desgosto. — Já foste a algum desses leilões?
Ele ergue uma sobrancelha e acabo por perceber o que falei. Apresso-me a consertar de um jeito desastrado.
— Não que eu esteja a insinuar que compras pessoas. Nada disso. Só...só queria saber se já foste chamado ou participaste só para ver como é. — As minhas bochechas aquecem.
Sebastian reprime um sorriso.
— Não é algo que aprecio. — Bebe um gole de café.
Eu seguro um suspiro de alívio. Ele pode ser tudo, mas pelo menos não é grotesco o suficiente para participar nesses eventos.
— Eu posso mostrar-te uma foto do Trevor.!— Pega o seu telemóvel, levanta-se e vem na minha direção.
Olho para a tela e vejo um homem de cabelo loiro não natural lambido para trás, barba escura de uns dois dias e uns olhos azuis tão claros como céu. Parece um homem normal. Ele pareceria bonito se não fosse toda aura ao redor dele e a expressão medonha que me causa arrepios. Para não falar dos gostos invulgares.
— Não se deixe enganar por ele. Pode parecer medíocre, mas ele participa nesses leilões desde os vinte. — Sebastian volta para o seu lugar.
Enrosco as minhas mãos na minha caneca e tomo um gole de chá.
— Eu não entendo. Por quê eu?
— Lilith, és uma mulher bonita.
Reprimo um riso sarcástico.
— Sim, mas tem outras mulheres igualmente e mais bonitas que eu. — Questiono em brusquidão.
Sebastian trava, como se não tivesse por onde correr ou onde buscar as palavras, antes de tomar uma expressão de uma espécie de derrota falsa.
— Apenas porque ele pode. — Suspira. — Ele tem dinheiro e isso basta.
Um certa rajada de ira atravessa o meu peito. Como que ele pode comprar pessoas e as obrigar a permanecer ao seu lado só porque tem dinheiro? Que tipo de monstro faz isso? Será que ele sabe que elas provavelmente têm família à sua espera?
Tem uma pergunta que ocupa a minha mente desde o início. E é algo que tenho que saber.— O que acontece com elas?
Sebastian olha para mim com dúvida.
— Lilith... — Contorce-se na cadeira.
— Diz-me. — Demando sem dar qualquer escapatória.
Ele alarga um pouco a gravata e vejo o seu peito encher de ar.
— Algumas nunca mais foram vistas, não se sabe o que aconteceu com elas, outras...foram encontradas mortas. — Levanta-se. — Em decomposição ou apenas ossos.
Uma sensação apodera-se do meu corpo. Medo, ira e sobretudo mágoa. Mágoa por existir pessoas assim, mágoa pelas garotas que nada poderam fazer e por nada poder ser feito por elas.
Custa-me admitir que só pensei nisto porque estou a ir para o mesmo caminho, mas mais vale tarde que nunca.— Não há nada que possas fazer por aquelas que ainda estão vivas? — Pergunto em um disfarce de súplica.
As suas linha de expressão ficam mais visíveis e seu maxilar mais cerrado.
— Receio que não.
E com isso, a pequena centelha de esperança que eu tinha de, talvez, por pouco que seja, ajudar essas pessoas se desfez.
— Estou de saída. Retorno para jantar. — Sebastian sai da área de jantar e desaparece da minha vista.
Um silêncio desconfortável e pesado permanece no espaço. Fico imóvel na minha cadeira enquanto que a mesma rotina se repete uma e outra vez.
Acordar, despedir de Sebastian, almoçar, ler, tv, jantar, dormir.
Acordar, despedir de Sebastian, almoçar, ler, tv, jantar, dormir.
Acordar...
Eu não aguento mais. Não foi isso que ele me prometeu. Eu chamei-o, pedi-lhe ajuda, porque o Sebastian mesmo disse que seria livre. Não sou livre aqui.
Ele diz que não é seguro, acreditei nas primeiras semanas, mas já passou dois meses. Lucian não deve estar à minha procura. Ele não se daria ao trabalho.
Se Sebatian não me dá aquilo que prometeu e aquilo que mereço. Eu mesma darei.
Eu tenho que sair daqui antes que enlouqueça.
A minha perna treme e mordo o meu lábio em ansiedade.
Mas como? Não tenho telemóvel, não tenho como me comunicar com o exterior.
Não tenho nada... Mas ele...tem.
Levanto-me e corro para as escadas. Subo os degraus apressada e vou até à zona norte. A zona do Sebastian. Ando pelo corredor bem iluminado e decorado com vasos de flores elegantes, quadros emoldurados em ouro e um longo tapete vermelho. Deparo-me com a primeira porta de madeira e a abro.
Um enorme quarto, em tons de dourado e bege, uma cama king de veludo vermelho e armários de madeira, mostra-se para mim.
Deveria sentir-me mal por invadir um espaço que não é meu, mas não posso ficar mais tempo neste lugar. Fazem semanas que não tenho notícia de nada nem de ninguém.
Abro a primeira gaveta do criado mudo só para encontrar papéis e canetas espalhadas. Abro a segunda para encontrar mais coisas inúteis. Suspiro e sigo para o armário embutido de 5 portas com um enorme espelho. Abro porta por porta para encontrar dúzias de fatos engomados e outras peças de roupas, mas sem sinal de algo que me vá ajudar. Olho para as prateleiras penduradas na parede, mas, tirando algumas fotografias, livros e peças de decoração, não tem nada.
A minha frustração aumenta e o meu corpo treme em ansiedade.
Procuro em todo o lugar, seja em baixo do tapete, debaixo da cama até dentro do candeeiro.
Nada.
Saio do quarto e vou até à porta na minha frente. Uma casa de banho. Será improvável ter algo aqui, mas não custa tentar.
Abro os armários amadeirados só com toalhas, cremes e outro produtos quaisquer. As gavetas da pia não têm nada demais também, tal como máquina de barbear, gillete e... Preservativos.
Fecho a gaveta e saio.
As minhas bochechas coram e decido que não faz sentido procurar mais lá.
Muito bem. Próxima e última porta.
A minha mão entra em contato com a superfície sólida, mas, quando tento girar, nada acontece. Tento com mais força, mas nada.
Porra. Porra. PORRA.
Encosto-me na porta e deslizo os meus dedos pelo cabelo.
Tudo bem. Não consigo entrar. Mas não foi um esforço desperdiçado. Se está trancada é porque tem algo lá. Algo importante. Algo que me vai tirar daqui. Só preciso de saber onde ele guarda a chave e, para isso, preciso de esperar que ele volte.
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Ready-Set-Kill | BILL KAULITZ
RomanceLilith,uma garota de 19 anos usada com moeda de troca por seu pai,Alistor, numa forma de obter poder e dinheiro. O homem para o qual foi vendida é conhecido como Lucian Kaulitz, o mais temido do mundo da máfia. Veja a vida de Lilith virar de cabeça...