57. Lúcio

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🇮🇹 Florença, Itália 🇮🇹

As paredes do meu escritório eram um santuário de silêncio. O único som era o leve tilintar dos cubos de gelo no meu copo de uísque. Tomei um gole, sentindo o líquido queimar minha garganta, mas a dor era bem-vinda. Era algo que eu podia controlar, diferente do caos que estava girando em minha mente.

Ana Lúcia estava casada com Luca, e o casamento havia sido uma bela celebração. Marina e Luigi tinham se casado uma semana antes, e a máfia estava mais unida do que nunca. Porém, mesmo com essas vitórias, uma sombra pairava sobre mim — uma dúvida que eu não podia sacudir.

Essa dúvida tinha um nome: Selene.

Olhei para a janela, observando a escuridão do lado de fora. Selene estava em algum lugar da casa, talvez no jardim, talvez já deitada, e minha mente não parava de retornar a ela. A mulher que eu amava. A mãe dos meus filhos, Celine e Max, que ainda nem haviam nascido. A mulher que, contra todas as probabilidades, havia se tornado o centro da minha vida. Mas ela também podia ser a ruína de tudo o que eu construí.

Ela estava grávida de nossos filhos, Celine e Max. Oito meses. E, em menos de um, eles estariam aqui. Dois novos herdeiros, o futuro da nossa linhagem. Eu deveria estar focado em nossa família, mas havia algo que eu não podia ignorar. O conselho. Eles estavam começando a questionar se Selene era realmente quem dizia ser. Os rumores sobre ela ser uma herdeira perdida da máfia francesa estavam circulando com mais força, e a pressão sobre mim estava crescendo.

As suspeitas surgiram semanas antes. Pequenos rumores começaram a se infiltrar entre os meus homens, cochichos nos corredores, olhares de soslaio. Diziam que Selene tinha uma ligação com a máfia francesa. A herdeira perdida, falavam. Era ridículo no começo, quase risível. Como Selene poderia ser uma espiã? Ela não sabia nada sobre o nosso mundo antes de entrar nele. Ela não fazia ideia das alianças, dos segredos que governavam o submundo. Mas, à medida que o tempo passava, comecei a me questionar.

Eu não queria acreditar. Não podia acreditar que Selene seria capaz de algo assim. Ela não sabia sobre seu passado, sobre suas origens. Ou pelo menos, foi o que me disse. Mas e se ela soubesse? E se estivesse me enganando esse tempo todo?

A dúvida corroía meu espírito. Minha lealdade à família era inquestionável, mas minha lealdade a Selene... era complicada. Eu a amava. Deus, como eu a amava. Mas em nosso mundo, o amor e a traição andam lado a lado. O preço de confiar cegamente em alguém pode ser a própria morte, e isso era algo que eu não podia arriscar.

Eu me levantei da cadeira, caminhando até a janela. Lá fora, as árvores balançavam ao vento, e a mansão parecia tão tranquila. Como se nada estivesse errado. Mas dentro de mim, tudo estava prestes a desmoronar.

O conselho queria respostas. Eu sabia que, em breve, seria pressionado a tomar uma decisão. Se eu não entregasse Selene para eles interrogarem, minha própria posição na máfia poderia ser questionada.

Eles não toleravam incertezas, muito menos a suspeita de que eu estivesse protegendo uma traidora. E ainda assim, a ideia de entregar Selene ao conselho me deixava nauseado. Eles não seriam gentis. Eles a quebrariam, a torturariam até obter uma confissão, fosse verdadeira ou não.

Eu não podia fazer isso. Não com ela.

Mas o que eu podia fazer? Manter a farsa? Fingir que não havia suspeitas?

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