Nas mãos do Mafioso

58. Selene

🇮🇹 Florença, Itália 🇮🇹

Observar Luce naquele momento me traz uma sensação de náusea que sobe como uma onda pela minha garganta. Suas palavras ecoam na minha mente, cada sílaba arranhando minhas crenças mais profundas.

— Estou te falando, Selene. Lúcio é e sempre será cruel, e você está esperando os filhos dele. — Ela insiste, seu tom suave, mas carregado de veneno.

Sinto minha pele se arrepiar. Lúcio cruel? Já não era mais assim, ou pelo menos era o que eu queria acreditar.

Ele tinha mudado... Ou talvez eu tivesse forçado a acreditar nisso, empurrando os ecos de seus atos do passado para longe, para um lugar onde eu pudesse ignorá-los.

Mas a sombra das dúvidas estava sempre presente, não importava o quanto eu tentasse negá-la.

— Ele vai te entregar ao conselho e sabe o que eles farão? Vão tirar seus filhos de você.

— Porquê ele faria uma coisa dessas? O conselho gostou de mim quando fui apresentada à eles no meu casamento. E como descobriu isso?

— Tenho um informante. — Ela admite.

— Lúcio só queria alguém para ter os herdeiros dele e vai se livrar de você com a desculpa de que o conselho não os quer mais juntos! Lúcio estava apenas jogando com você.

— Não, Lúcio... Lúcio está mudado, ele não é mais como antes. Ele cuida de mim, cuida de nós. — Digo, tentando manter a voz firme, mas há uma hesitação que nem eu consigo disfarçar.

— Selene... — Luce começa, seu olhar carregado de algo que parece pena.

— Por favor, pare. — Minha voz soa mais como um apelo do que uma ordem. Estou cansada dessa discussão. Cansada das suposições, das mentiras e das meias verdades que rondam minha vida como predadores à espreita.

Mas, apesar da ordem, suas palavras continuam martelando minha mente, penetrando cada camada da minha confiança em Lúcio. Ele seria mesmo capaz de fazer uma coisa dessas? De me trair da forma mais baixa, de usar meu corpo, minha confiança, e depois me descartar como se fosse nada?

O silêncio paira entre nós. Eu mal consigo respirar com o peso dessa incerteza esmagando meu peito. Olho para Luce, buscando algum tipo de consolo, algo que me confirme que tudo aquilo é apenas uma mentira, uma ilusão cruel.

Mas então...

— SELENE? — A voz de Lúcio ressoa pela mansão, arrancando-me de meus pensamentos.

Meus olhos se arregalam e, num reflexo, olho para Luce. Seu rosto também está pálido, os olhos saltando de medo. Os passos dele estão ficando mais próximos, cada um ressoando como um prenúncio de desgraça.

— Vai pra lá! — Sussurro, apontando para um dos corredores estreitos da biblioteca. Luce não hesita. Ela se levanta com agilidade e desaparece pelo corredor, deixando apenas o rastro de sua presença e suas palavras amargas.

Eu me levanto num salto quando a porta se abre bruscamente. O olhar de Lúcio se fixa em mim imediatamente, e por um instante, não consigo decifrar o que vejo em seus olhos. Há algo lá, uma mistura de raiva e desconfiança, algo que faz minha espinha se arrepiar.

Ele se aproxima, seus movimentos lentos, calculados, e a tensão cresce a cada passo que dá. Parando apenas a alguns centímetros de mim, posso sentir sua respiração pesada. Pela primeira vez em muito tempo, me sinto intimidada por ele. Lúcio nunca havia sido assim comigo, não tão... Intenso.

— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto, tentando soar calma, mas minha voz é apenas um sussurro trêmulo.

— Você sabia, não sabia? — Ele murmura entre dentes, sua mandíbula rígida.