71.Selene

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🇮🇹 Sicília, Itália 🇮🇹

Quando a enfermeira entrou no quarto com um sorriso suave no rosto, soube imediatamente o que aquilo significava. Era o momento. Depois de três dias de recuperação, exames e noites mal dormidas por conta do desconforto pós-parto, finalmente receberia alta.

O sol atravessava a janela do hospital, derramando uma luz amarelada sobre o berço dos meus filhos, e uma sensação de tranquilidade tomou conta de mim pela primeira vez em muito tempo.

Lúcio estava sentado ao meu lado, o olhar fixo em Max, que dormia tranquila ao meu lado. Seline, sempre a mais inquieta, mexia os bracinhos dentro do bercinho ao lado, os olhos curiosos olhando para tudo ao redor.

Lúcio tinha aquele olhar que eu não via há meses — um misto de admiração e vulnerabilidade, algo que ele raramente deixava transparecer, exceto nos momentos mais íntimos. E ali estávamos nós, depois de tudo, depois de tantos conflitos, indecisões e medos, juntos. Não como antes, é verdade, mas juntos. E isso era suficiente para o agora.

— Então, finalmente vão me libertar do cativeiro? — Perguntei.

A enfermeira riu e assentiu, conferindo pela última vez o prontuário em suas mãos.

— Sim, Sra. Caccini, está tudo em ordem. Vocês podem ir para casa hoje. Eu só vou chamar a doutora para assinar os documentos de alta. — Ela sorriu gentilmente e saiu, fechando a porta com cuidado atrás de si.

As enfermeiras trouxeram Seline e Max até mim, enrolados em pequenos cobertores brancos, e, por um momento, eu fiquei sem palavras. Como era possível que algo tão pequeno pudesse carregar tanto peso? Eles eram o resultado de todas as nossas decisões, das boas e das ruins. Eram o símbolo do que nos unia, e também do que quase nos destruiu.

— Eu seguro um. — Lúcio disse, aproximando-se e pegando Max com uma delicadeza que, se eu não soubesse quem ele era, jamais teria imaginado.

Eu segurei Seline contra o peito, sentindo seu pequeno corpo quente e vulnerável. Ela se remexeu, soltando um leve gemido, mas logo voltou a se acalmar. Meus olhos se encheram de lágrimas involuntariamente, mas eu pisquei, limpando-as antes que caíssem. Não era hora de chorar.

Lúcio abriu a porta do carro para mim. Max já estava em seu bebê conforto, e ele levou Seline para a colocar também. Lúcio entrou no lado do motorista.

O caminho de volta para casa foi silencioso, mas não era um silêncio desconfortável. Era como se ambos estivéssemos absorvendo tudo o que acabara de acontecer.

Eu olhava pela janela, observando a paisagem passar em um borrão de cores e formas. Tudo parecia ao mesmo tempo familiar e estranho, como se eu tivesse saído de um sonho e ainda estivesse tentando entender o que era real.

Quando chegamos à mansão, algo dentro de mim relaxou. Lúcio parou o carro e saiu para pegar Seline, enquanto eu, saí e peguei Max nos braços. A porta da frente se abriu antes que pudéssemos chegar, e Analu estava lá, sorrindo, com os olhos brilhando de emoção. Ela veio até mim e me abraçou com cuidado, como se estivesse com medo de me machucar.

— Bem-vinda de volta. — Ela sussurrou.

— Obrigada. — Respondi, sentindo-me grata pelo acolhimento. Ana Lúcia tinha sido um pilar durante os dias mais difíceis. Mesmo sem saber de tudo, ela estava lá, pronta para apoiar da melhor maneira que podia. Não acredito que um dia quis destruir sua família!

Ana Lúcia me ajudou a entrar, e logo estávamos na sala de estar, onde os bercinhos já estavam montados. Eu coloquei Max com cuidado no berço, enquanto Lúcio ajeitava Seline ao lado dele. Por um momento, ficamos apenas olhando para eles, nossos dois filhos, lado a lado, tão pequenos e indefesos. Era surreal. Tínhamos sobrevivido a tantas coisas, e agora estávamos aqui, começando uma nova fase, uma que eu nunca soube que queria até agora.

— Mandei preparar o quarto deles, do jeito que o outro estava. Sei que fez tudo com muito carinho e do seu jeitinho. — Eu sorrio.

Realmente, eu tinha feito o quarto antigo com muito carinho, tudo do meu jeitinho.

Eu me sentei no sofá, exausta, mas com o coração cheio. Lúcio se sentou ao meu lado, e ficamos ali, em silêncio, observando os bebês dormirem.

— Não achei que isso seria possível... — Disse Lúcio, finalmente quebrando o silêncio. Sua voz era baixa, como se ele tivesse medo de que falar alto demais pudesse acordar as crianças.

Eu não sabia o que responder. Porque, por muito tempo, eu também achei que isso não seria possível. Que a paz entre nós era uma ilusão, algo que nunca conseguiríamos alcançar de verdade. Mas agora, com Seline e Max aqui, as coisas pareciam diferentes. Como se o passado finalmente estivesse onde deveria estar: para trás.

— Nem eu. — Confessei, minha voz saindo mais fraca do que eu esperava.

Ele olhou para mim, e pela primeira vez em muito tempo, eu vi uma vulnerabilidade em seus olhos. Lúcio, o homem que comandava com mãos de ferro, que sempre soube exatamente o que fazer, agora estava diante de mim, incerto, talvez até um pouco perdido.

E isso, de alguma forma, fez com que eu o visse de maneira diferente. Como alguém que, apesar de tudo, ainda estava aprendendo a ser humano.

— Queria te agradecer por...ficar. — Ele disse, sua voz quase se quebrando no final.

Eu virei para ele, surpresa. A palavra "agradecimento" nunca pareceu algo que combinasse com Lúcio. Mas ali estava ele, me agradecendo por uma decisão que eu tomei por nós dois, por nossos filhos.

— Não precisa me agradecer. — Eu disse, tocando sua mão com a minha. — Eu fiz o que tinha que fazer. E acho que, no fundo, você também fez.

Ele fechou os olhos por um momento, apertando minha mão suavemente. Era um gesto simples, mas cheio de significado. Não precisávamos de palavras para entender o que isso significava. Estávamos, finalmente, no mesmo lugar, na mesma página.

Aos poucos, o cansaço começou a pesar. Meu corpo ainda se recuperava da cesárea, e eu sabia que os próximos dias seriam desafiadores, mas pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que poderíamos enfrentar isso juntos. Não como antes, onde cada decisão parecia ser uma batalha, mas como parceiros, como pais.

Lúcio se levantou e pegou uma manta, cobrindo-me com cuidado. Ele olhou para os bebês mais uma vez antes de se virar para mim.

— Descansa. Eu vou cuidar deles esta noite. — Ele disse, seus olhos transmitindo uma promessa que eu sabia que ele cumpriria.

Eu queria protestar, dizer que ele também precisava descansar, mas a verdade é que eu estava exausta demais para discutir. Então apenas assenti e fechei os olhos, deixando que o som suave da respiração de Seline e Max me embalasse para um sono tranquilo.

 Então apenas assenti e fechei os olhos, deixando que o som suave da respiração de Seline e Max me embalasse para um sono tranquilo

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