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Esse capítulo pode contar alguns gatilhos sobre relacionamento abusivo|tóxico.

Terceiro colegial, o último ano escolar, o mais intenso. Camila, ou melhor, Borges como era chamada pela turma se via cada vez mais distante da idealização que ela havia criado para esse ano. Completando um ano de namoro com Thaís, era pra tudo estar incrível, mas não estava e isso era visível. 

Camila havia perdido dez quilos em três meses, ela não via mais seus amigos direito e deixou de fazer as duas coisas que mais amava, escrever e acompanhar os esportes. A garota, mesmo sentindo falta de tudo que lhe foi tirado, achava que era assim que funcionava um relacionamento, só existia a possibilidade de viver com ela e sobre ela.

Era mais uma sexta-feira, Thaís e Camila sairiam depois de alguns meses tendo apenas a companhia uma da outra. Mia vestia uma camiseta larga, uma calça jeans um pouco surrada e seus tênis pretos, era simples, mas funcional. Em seu pescoço, uma correntinha que havia ganhado após a morte de sua mãe e uma fina pulseira que havia ganhado de aniversário.

- Você deveria estar mais arrumada, Camila. - Thaís disse após entrar no quarto com sua saia agarrada ao quadril e sua pequena blusa, além de uma sandália nos pés. - Nem parece que vamos ao mesmo lugar.

- Eu me sinto bem desse jeito. - Camila disse olhando para a roupa e não vendo problema algum.

- Se quer parecer desleixada, tudo bem. - Mia fingiu não escutar, mesmo que houvesse escutado e guardado aquilo pra si. Logo, elas estavam na casa do amigo das garotas, uma pequena social acontecia naquele espaço, Thaís não esperou para começar a beber e conversar com as pessoa, enquanto Mia ficou de canto com dois amigos das garotas, que encaravam a situação com estranheza, mesmo sabendo que aquilo parecia se repetir toda vez. E o final não foi diferente, Camila levou Thaís pra casa, ouvindo diversas coisas.

- Eu podia ter te traído hoje. - A loira disse um pouco embolada enquanto Camila a ajudava a tirar a roupa.

- Que?

- Um menino deu em cima de mim, ele era ruivo, acredita?

- Aquele que você não saiu de perto a noite toda?

- Aham, mas ele não parava de dar ideia em mim. - Mia respirou fundo e sentiu raiva, não dá situação, não de sua namorada não ter se afastado e nem do garoto. - Era só você ser melhor, né? Se estivesse conversando com as pessoas, ele saberia.

- É, eu vou tentar melhorar. - Camila disse e apagou a luz, deitando ao lado de sua namorada, que se deitou no peito da morena.

- Eu mostrei meu piercing pra eles. - Camila torceu pra ter entendido errado. - Do peito, acharam bonito, sabia?

- Uhum. - Mia disse se virando e controlando para não chorar.

- Você tá brava, meu deus, eu fiz tudo errado, não foi? - A namorada disse virando Camila que negou.

- Está tudo bem. - Ela disse mais para si. Então, a loira se destruiu de chorar, fazendo com que a dor de Camila ficasse de lado mais uma vez para cuidar de sua namorada.

(...)

Mia olhava mais uma vez no espelho, sua visão embaçada, suas mãos tremendo e sua cabeça a mil. A garota não conseguia sair daquele banheiro.

- Camila, abre a porra da porta. - A voz de Thaís ecoou no apartamento alugado, Mia sentiu seu coração quase sair do peito e lavou o rosto, logo, abrindo a porta. A cena a seguir foi exatamente o que ela imaginava. A loira raivosa observando-a.

- Você pode pelo menos me explicar o que aconteceu dessa vez? - Mia disse tentando amenizar o clima, mas tudo parece ter explodido mais. A sua noiva respirou fundo.

- O que aconteceu? Será que pode ter sido a notícia de que você vai ficar um mês fora? Um mês, Camila.

- É uma oportunidade de emprego, eu não tenho culpa.

- Claro que tem culpa. - Essas foram as primeiras  palavras da loira a atingir o peito de Mia, que permaneceu quieta. - Você fica alimentando esse sonho idiota de trabalhar com esporte, você já olhou tudo que você faz? Você não se destaca nisso, Camila, pelo amor de Deus, você nem sabe o que tá fazendo e acha que pode ser alguém. - Mia mordia suas bochechas para não cair em lágrimas, sentindo um gosto de sangue em pouco tempo. - Agora você vai se fazer de coitada?

- Você acha? - Foram as únicas coisas que Mia conseguiu dizer.

- Eu tenho certeza, esporte não é pra você e muito menos na frente das câmeras, eles querem pessoas arrumadas e não pessoas que são desleixadas assim. - O olhar da loira percorreu por sua noiva, que logo em seguida foi puxada para um abraço. - Você tem que ser realista, Camila. Não posso alimentar um senho que nunca vai ser concretizado. - Mia tentava não chorar, tentava não deixar aquilo lhe afetar. Tentava ir contra aquela palavras, entender que sim, ela podia chegar ao seu sonho. - Você não pode ir pra longe de mim, Mila, você não consegue viver sem me ter do lado, olha o tanto de coisas que já passamos juntas, quantas coisas ruins e boas, você precisa de mim.

Mia respirou fundo e concordou, ela precisava de Thaís.

(...)

- Noiva? Você está noiva? - Lilian, irmã de Camila disse, a mais nova quis contar pessoalmente para a irmã que ficou em choque ao ouvir as palavras. - Você já sabe o que eu vou dizer, não sabe?

- Sei. - Camila disse respirando fundo. - Mas, eu discordo.

- Eu vou te falar só mais essas vez, Mia. - Lili colocou uma mecha atrás da orelha da irmã mais nova e beijou sua testa. - Eu não posso te impedir de fazer nada, mas casamento são importantes, eu e Thi até hoje não pensamos nisso, você são tão novas, não sei se é o momento. - A mais velha disse calmamente enquanto fazia carinho nas mãos da irmã. - Além disso, eu não acho que ela seja boa pra você, Mia, quando ela vem visitar junto de você é tão diferente, não quero que fique brava comigo, eu sou sua irmã mais velha, quase sua mãe, preciso cuidar de você.

- Eu sei, só acho que você exagera demais, todo casais tem problemas.

- Tem, claro que tem, mas os problemas não podem ser maiores que o resto Mia, não ser você com quem você ama, não deixa a pessoa te amar de verdade. - Aquele dia foi o início do fim de um noivado.

Chamego - Julia BergmannOnde histórias criam vida. Descubra agora