Chamego - Julia Bergmann

4.7

A temporada de Bergmann havia acabado, logo a VNL estaria mais uma vez na vida de ambas as garotas, mas dessa vez havia algo diferente, ambas sabiam disso, Bergmann estava obcecada pela medalha, ela queria o ouro em seu pescoço a qualquer custo. Os treinos eram maiores do que o comum, já as noites dormidas, o tempo em ligação com a namorada, com os pais e com o irmão é o cuidado consigo eram menores.

A ruiva sempre encontrava Ana Cristina, sua companheira de quarto na seleção, dormindo por conta de sua demora. Ela se isolava cada vez mais, sua cabeça se tornava sua única companhia, ou melhor, a única a qual ela deixava.

Não passava das seis da manhã quando a garota acordou, ela vestiu uma roupa de treino e partiu para a academia, ela sabia que precisava dar mais estabilidade em seu jogo e percebera que seu joelho não deixava com que isso ocorresse, então treinos focados nele foram seu principal objetivo.

- Não sabia que treinava tão cedo, Bergmann. - A voz da capitã da equipe fez com que a garota olhasse para a porta, apenas para confirmar se não era algum tipo de alucinação.

- Tenho vindo esses dias, não sabia que você também vinha. - A garota respondeu sem muita importância, Gabi se sentou no chão, a frente da ruiva e apoiou a cabeça na parede. - Tá tudo bem?

- Comigo sim, com você não sei. - Ela disse sem rodeios, Júlia respirou fundo e abandonou os movimentos que fazia na cadeira extensora. - Você quer a medalha, não é? Eu também quero, sempre ficar no quase não é bom. - Gabi disse e viu a garota concordar.

- Só estou me preparando, nada demais. - A garota disse e Gabi sorriu sem graça.

- Você não tá se preparando, você tá se desgastando.- A mais velha disse como uma correção. - Você comeu? - O silêncio denunciava a resposta. - Quantas horas dormiu? - Novamente o silêncio compôs o ambiente. - E sua namorada? Ela está preocupada, sabia? Seus pais também, conquistar a medalha é tão difícil por isso, Bergmann, somos humanas, temos que conciliar muitas coisas e chegar naquela quadra e destruir.

- Onde você quer chegar, Gabriela? - Júlia disse confusa e Gabi se levantou, em seguida deixando alguns tapinhas em seu ombro.

- Você tem que destruir no jogo, destruir as adversárias e não se destruir, Bergmann, cuidado. - A mais velha disse e foi até a parte de mobilidade, para iniciar seu momento na academia. Bergmann pegou o celular e viu que não havia respondido Mia desde ontem, a culpa caiu em seus ombros, imediatamente mensagens pedindo desculpas foram enviadas, mas isso não anulava a preocupação causa na garota durante horas.

A garota terminou seu treino sem muita enrolação, foi até o quarto e encontrou Ana Cristina terminando de arrumar suas tranças. Júlia sorriu pra garota que a olhou séria.

- Que horas você voltou ontem? Eu tentei te esperar.

- Acho que umas meia noite. - Júlia disse sem graça enquanto retirava os tênis. - Eu já tomei bronca da Gabi, ok? Não precisa se dar o trabalho.

- Eu como sua amiga preciso me dar o trabalho. - Ana disse observando a mais velha pelo espelho, mas ainda com o foco em sua tarefa. - Você tem que se cuidar, Bergmann, se não vai se matar e levar quem ama junto, seus pais me ligaram ontem a noite, disseram que tentaram falar com você e não conseguiram. - Ana disse com um misto de decepção e repreensão. - Nem preciso falar que a Mia me perguntou se você tava viva, né? - Ana disse após terminar de colocar o último fio de cabeça perfeitamente em seu devido lugar.

- Eu só, é complicado, Aninha. - Júlia disse olhando para o chão, sentiu seus ombros se abaixarem e respirou fundo. A amiga da ruiva se sentou ao seu lado e a abraçou de lado.

- Eu sei que é difícil, todas os quase ouro que você passou, eu também passei. - Aninha disse de forma leve. - Todas noites que choramos, inclusive juntas, Júlia. Um dia conseguiremos uma medalha pela seleção, uma medalha de ouro, dourada, brilhante e vamos dizer que somos o primeiro lugar, mas não podemos destruir tudo pra chegar nisso. Ao menos, eu não acho justo essa troca. - Ana disse e viu a amiga a olhar.