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- Queria que você ficasse. - Bergmann disse no último dia que Mia iria ficar na Turquia, que por sorte era no meio da semana, ou seja, a ruiva saiu cedo e treino, logo depois voltando pra casa e podendo ficar com sua garota.

- Eu também. - Mia disse enquanto checava se não havia esquecido nada de importante.

- Você podia morar aqui, ainda mais que esta podendo trabalhar de longe. - Júlia disse observando os movimentos da mais velha que parou assim que ouviu a fala da garota.

- Você sabe que isso não dá, né? - Mia disse mais grossa do que gostaria e se culpou por isso. A mulher estava de costas e não conseguia ver a reação da jogadora, mas sabia que ela estava sendo observada.

- Nunca vai dar?

- Nunca é muito tempo, mas em breve não. - A jornalista disse ainda sem conseguir olhar pra ruiva, apenas ouvindo uma respiração pesada. - Júlia, o que você queria que eu falasse?

- Que pelo menos desse pra tentar? - A ruiva disse um pouco irônica e fez com que Mia se virasse pra ela.

- Eu tenho que largar tudo e vir pra cá, por que sempre sou eu quem tenho que me mudar? - Mia disse sem pensar e fechou os olhos. Era a primeira briga delas.

- Vai me dizer que vou ter que largar o vôlei pra conseguir ficar com você? - Bergmann tinha as sobrancelhas franzidas e o olhar fixo em Mia, que por sua vez piscava os olhos por mais tempo que o necessário.

- Eu disse isso? Não, Júlia. - Mia disse abrindo os olhos e encarando a garota a sua frente. - Mas é sempre isso, existe vôlei no Brasil e em outros países, que por sinal são bem mais seguros pra duas mulheres que estão juntas.

- Então agora o problema é o preconceito? Você ficou aqui por três semanas e não disse sobre isso nenhuma vez.

- Foram três semanas, não minha vida. - Mia disse baixo e se virou. - Você tá de cabeça quente, não tá nem entendendo o que eu tô dizendo.

- Eu? Mia, foi você quem cortou minha ideia de futuro, de novo. - Júlia se levantou e foi pra perto da mulher que estava focada nas próprias mãos. - Se você não me vê na sua vida, me fala, eu te vejo na minha.

- Eu te vejo também, só é complicado, Juju. - Mia disse e se virou pra ruiva, a garota segurou a mão da mais nova e brincava com os dedos da mesma. - Eu não quero brigar.

- Nem eu, mas é foda não saber o que você quer. - Júlia disse sincera e sentiu a morena apoiar a cabeça em seu tronco.

- Eu não quero ter que desistir do meu sonho, Júlia. - Mia levantou a cabeça depois de alguns segundos, olhando nos olhos claros da mais alta, que observava cada detalhe da mais velha. - Eu sempre sonhei em trabalhar com esporte, sempre sonhei em ter um papel significante, eu tô conseguindo chegar perto de lá, eu não quero estagnar nisso ou nem tentar. - Mia disse e soltou a mão da ruiva. - Se for pra escolher entre meu sonho e qualquer coisa, é complicado concorrer, Júlia. - Mia disse observando o rosto sem expressão de Bergmann. - Isso não quer dizer que eu não te ame, eu te amo, muito, mas é uma realização fora de mim, um orgulho que eu sinto em estar conseguindo chegar onde sempre sonhei, onde sempre confiei que pudesse, mesmo ouvindo que não. É como se eu pedisse pra você parar no vôlei agora. - Mia disse e o silêncio consumiu a sala. Júlia processava muitas coisas de uma vez só, agora ela entendia direito os motivos de Mia e além disso, a mulher a sua frente havia falado que te amava. - Se você não quiser continuar isso mesmo de longe, eu entendo, vai doer, mas não quero te machucar ainda mais, não quero que tente algo que vai estar fadado ao fracasso e a dor, eu te amo o suficiente pra entender o que você acha melhor pra si.

Chamego - Julia BergmannOnde histórias criam vida. Descubra agora