Chamego - Julia Bergmann

4.0

Mia acompanhada de Nina estava Barueri para acompanhar Minas e o time da casa, a SuperLiga estava frenética e as duas colegas de trabalho andavam acompanhando de perto inúmeros jogos.

- Júlia podia vir pro Minas, ela encaixaria bem no time. - Nina disse enquanto observávamos o jogo.

- E se misturar com a Daroit? Não, estamos bem com ela na Turquia. - Disse fazendo Nina rir.

- Acho que aumentam histórias, sabe?

- Não acho, ela é bonita, facilmente deve ter quem ela quiser.

- Vou contar pra Bergmann de sua queda pela Daroit.

- Queda o caralho, eu só tenho olhos pra uma jogadora ruiva que, por acaso, é minha namorada. - Mia disse anotando mais algumas coisas em seu pequeno caderno. - Se concentra em tirar foto dos lances importantes, anda. - Nina voltou sua atenção para o trabalho, mesmo que ambas estivessem concentradas, era difícil não ter comentários sobre alguns lances.

- Nossa, Luzia amassou agora. - Nina disse enquanto a jovem jogadora comemorava. - Mas vai ser difícil virar nessa altura.

- Tá praticamente ganho, Nina. - Mia disse e viu o saque do time paulista ir pra fora. - Tá vendo.

- Você secou muito. - Nina disse rindo e dando um empurrãozinho na amiga. - Mia, posso te fazer uma pergunta de amigas?

- Você sabe que eu te vejo como irmã mais nova, né?

- Sim, é que, sabe? Eu queria te perguntar se você já se envolveu com alguém que não é assumida. - Nina disse e o último ponto do time mineiro foi feito por Kudiess que sorriu comemorando. - Eu tô com medo.

- Ei, Nininha, venha cá. - Mia abraçou a garota de lado e deixou beijos no topo de sua cabeça. - Júlia não é assumida, acho que o importante é a pessoa estar bem consigo.

- Mas a questão é que Júlia não é assumida pros fãs, mas família, amigos, todos que realmente estão ao lado dela sabem, não é algo escondido. - Nina disse pensativa.

- Você tá falando da atleta, não tá?

- Tô, eu acho que eu gosto dela mais do que deveria, tem sido complicado, toda vez que nos vemos é incrível, mas depois ela se afasta, torna tudo tão complicado. - Nina respirou fundo.

- Você tem que saber se ela também gosta de você da mesma forma.

- Eu já conversei sobre isso com ela, é igual, ela sente o mesmo que eu, mas eu acho que tem medo de sentir, como se fosse errado só por eu ser uma mulher.

- Amiga, isso é algo dela com ela, entende? Você não pode ficar ao lado dela e se machucar, talvez, depende de quanto isso seja ruim pra você, se afastar é uma hipótese, mesmo que você goste dela. - Mia disse e viu Nina encarando o chão. - Um tempo pra ela entender tudo, os sentimentos, como não há nada errado em se apaixonar por uma mulher quando se é uma mulher, isso só vai ser possível com algo vindo dela.

- Eu tenho medo que ela me abandone sem mais nem menos igual da última vez. - Nina assumiu e Mia sentiu seu coração doer com a voz vulnerável da mais nova. - Você acha que eu tenho algo pra mudar? Que possa melhorar pra não irem?

- Nina, você é perfeita pra ficar, digo isso sendo sua amiga e estando ao seu lado. - Mia disse e se levantou, estendendo as mãos para a mais nova e a puxando. - Vamos? Podemos tomar um sorvete se quiser.

- Não, acho que vou passar. - Nina disse e Mia concordou. - Na verdade, tudo bem se eu for sozinha?

- Tudo, promete tomar cuidado?

- Sim. - Mia concordou e andou ao lado da amiga, cada uma indo para seu destino, a mais velha chegou ao hotel e tomou um banho demorado, a garota passava seu creme lentamente, ainda fechada no banheiro, quando ouviu a porta do quarto ser fechada, Nina havia chego.

- Você tá louca? Mia tá aqui. - A voz de Nina disse brava.

- Mia? - A jornalista se sentia culpada por estar ouvindo aquela conversa, ela queria apenas sair pelo ralo e dar privacidade para as garotas.

- É, sua idiota. - Nina disse. - A gente divide quarto, não vai dar pra você aproveitar a noite comigo e sumir por uma semana. Que pena. - O tom amargo de Nina fez com que aquelas palavras atingissem até mesmo Mia, que nem mesmo estava na história.

- Do que você tá falando?

- Do que eu tô falando? Pelo amor de Deus, só vai embora, me deixa em paz, eu acho que demorou pra eu perceber que isso nunca teria pra onde ir. - Nina disse em meio a soluços. Nenhum barulho foi ouvido, Mia não sabia se saia do banheiro para apoiar a amiga ou se esperava para ter certeza que ela estava sozinha.

- Eu não vou embora. - A voz era fiz.

- Vai se fuder, Júlia, você realmente não passa de uma mimada que só quer me usar de experimento, né? - Mia franziu as sobrancelhas, Júlia? - Nem precisa me responder, você é uma egoísta, desde o começo eu deixei claro que se fosse pra ser apenas sexo tudo bem, mas agora, depois de meses se falando, depois de inúmeros encontros escondidos, eu cansei, eu cansei de suportar isso sozinha.

- Você quer o que? Quer que eu fale que eu me interesso por mulher?

- Não, eu quero saber se você tá interessada em mim.- Nina disse. - Vai embora.

- Eu já disse que não vou, quero conversar, só isso.

- Idiota, então não reclama. - A voz de Nina ficou mais perto do banheiro e bateu na porta, em seguida abrindo a mesma, Mia esperava sentada na privada, a garota já estava vestida. - Pode sair, Mia, essa imbecil não vai ir embora, você não merece ficar aí. - Nina disse com os olhos vermelhos e Mia negou.

- Tá tudo bem, conversem aí. - Nina respirou fundo e negou.

- Vai pro quarto, nós ficamos aqui. - Nina disse apontando para uma espécie de sala que tinha no quarto. - Nessa altura do campeonato você ouvir ou não já não importa.

- Óbvio que importa.

- Cala a boca, Kudiess. - Nina disse rapidamente e Mia se levantou.

- Eu vou colocar fone, mas estou aqui pra bater nela qualquer coisa. - Mia disse deixando um beijo na cabeça da amiga e indo para o quarto.