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A temporada na Turquia havia sido pausada, já era início de dezembro novamente, Mia e Júlia completariam seis meses de namoro naquela semana e a jogadora ruiva não tinha como não estar junto da namorada.

A garota ficaria alguns dias no Rio de Janeiro, acompanhando Mia e Nina, logo partiria rumo aos seus pais, porém dessa vez levaria sua namorada para conhecê-los, era um misto de ansiedade, felicidade e orgulho, ela entendi que realmente amava alguém para o resto da vida.

Era noite de sexta quando as três amigas estavam deitadas na sala de estar, na televisão era passada a história de Moana, um dos filmes favoritos de Nina, mas o som do interfone fez com que a atenção de todas fosse dispersada.

- Fiquem aí, eu atendo. - Nina disse e foi até o mesmo. - Boa noite, quem é?

- Boa noite, Nina, sou eu. - Era a voz de Kudiess do outro lado. Nina gelou, a garota havia sumido por quase dois meses, mal aparecia em suas redes sociais e apenas era vista durante jogos e treinos. - Eu, eu preciso falar com você, Nina. - A voz da morena tinha um tom diferente do que a última vez que a jornalista ouviu, sem agressividade, sem tentar se defender, sem medo. - Por favor. - As últimas palavras saíram fracas, como se fossem as últimas para sempre.

- Júlia e Mia estão aqui. - Nina disse para desencorajar a garota.

- Não me importa, eu só quero conversar com você, te ver. - Júlia disse e Nina respirou fundo.

- Última vez, Kudiess. - O casal que antes conversava entre si olhou para a amiga que liberou a entrada da garota. - Ela vai subir, vocês podem ficar aí, não é como se fosse mudar algo. - Nina disse cansada e voltou para a sala, mas dessa vez se jogou ao lado de Mia que a abraçou de lado.

- Tem certeza que quer ter essa conversa? Podemos fazer ela ir embora. - Bergmann disse cuidadosa e Nina a olhou, era incrível como elas haviam se aproximado de uma maneira confortável nos últimos dias. - Sério, eu posso falar com a Júlia e deixar pra amanhã, se você preferir.

- Obrigada, Querida, mas acho que preciso de um ponto final nessa história, mesmo que ele não seja planejado. - Nina disse tentando não transparecer o nervosismo.

- Vamos pro quarto, depois terminamos o filme. - Mia disse puxando a ruiva que fez um careta, mas acompanhou a namorada.

- Eu quero ouvir a fofoca. - Bergmann disse baixinho assim que a porta foi fechada.

- A gente vai ouvir, elas não falam nada baixo, pode ficar tranquila. - Mia disse se deitando e abrindo os braços, assim sendo um convite para Júlia se juntar a ela. Enquanto isso, Nina via a figura de Kudiess, o olhar baixo, os ombros caídos que carregavam uma mochila, seu cabelo em um rabo de cavalo perfeito, Nina sabia que seria difícil rever a garota, mas não imaginava que o impacto seria tão grande.

- Boa noite, Kudiess. - Nina disse e sentiu o choque do olhar da mais velha, mesmo que sejam alguns meses.

- Oi Nina, obrigada por ter me deixado subir. - A garota disse e viu a mulher a sua frente concordar com a cabeça e abrir espaço para que ela entrasse, assim fazendo.

- Mia e Júlia não estavam?

- Foram pro quarto. - Nina disse após fechar a porta e parou em frente da maior, que a observava. - O que você veio me dizer, Júlia? - Nina disse, mas suas palavras não continham um ataque, mas sim uma ansiedade em saber uma resposta.

- Desculpa por ter sido uma idiota com você, eu, bem, eu fui bem atoa e egoísta, principalmente por não ver como você estava me respeitando independente do que eu fizesse. - Kudiess tinha a voz mansa, era óbvio que aquilo havia sido ensaiado mil vezes durante o voo, o banho, antes de dormir, no uber e até mesmo no elevador para chegar no apartamento que estava agora. - Eu pensei muito no que você falou, Nina, e você não foi um experimento, não foi uma diversão, um brinquedo, me desculpe se fiz parecer isso. - Kudiess tentava manter a respiração calma, mas o olhar forte da mulher a sua frente acabava com toda sua sanidade.

Nina não falava nenhuma palavra, isso angustiava a central, ela queria segurar a mão de Nina e a abraçar, mas sabia que se tentasse isso seria um erro.

- Eu conversei com meus irmãos sobre mim, sobre meus medos em relação a ser bissexual, eu definitivamente não esperava algo tão bom, a reação deles fez com que eu visse que te perdi por algo que criei. - Nina observou que Kudiess estava prestes a chorar e encostou sua mão no braço da morena, que se surpreendeu com a palma quente da garota.

- Continua, me fala tudo que você acha que deve, depois chegaremos em nós. - Júlia concordou com um meio sorriso em ouvir que ainda havia "nós".

- Não falei com meus pais, mas não é como se eles fossem se esquecer dos três filhos que tem. - Nina fez uma careta. - Meus irmãos disseram que se eles fizessem algo contra isso eles me apoiariam e contariam laços, mesmo que eles me excluam da herança, ou não me trate tão bem quanto agora, acho que ser feliz é mais importante. - Júlia disse é uma lágrima teimosa escorreu em sua bochecha, Nina a limpou calmamente. - Eu não acho que isso vai ser algo ruim pra mim no vôlei, caso venha a ser, tenho amigas que vão estar do meu lado. - Nina concordou com a cabeça e sentiu a respiração funda da mulher a sua frente. - Nina, eu escolho ser quem sou, escolhi a felicidade. - Kudiess tinha um sorriso contido entre os lábios, seu olhar era desconexo com o da jornalista. - E na minha felicidade tem você. - Júlia disse erguendo o olhar e alcançando as avelãs que era fascinada.

- Você tem certeza do que está falando, Júlia? - Dessa vez Nina quem tinha medo, aquela incerteza de não ser algo real.

- Tenho, eu quero fazer tudo certo, Nina. - Júlia disse com as bochechas levemente coradas é um olhar envergonhado. - Eu quero te levar pra um primeiro encontro de verdade, nada de esconderijo, quero que nosso segundo primeiro beijo seja mágico, quero te levar até meu apartamento e não pra um quarto qualquer de hotel, quero pegar um avião para vir ao Rio e pensar nos restaurantes que te levarei, mas praias que iremos, Nina, eu quero você na minha vida. - Júlia disse observando a imagem da mulher a sua frente, que tinha uma expressão indecifrável em seu rosto.

Chamego - Julia BergmannOnde histórias criam vida. Descubra agora