Definitivamente Mia estava nervosa, a garota acordou as cinco da manhã mesmo que só precisasse sair do hotel às oito, os primeiros dias sempre foram pesadelos para a mulher, um banho frio foi o primeiro passo para iniciar o dia, deixando com que aquela paz de sentir as gotas por toda sua pele tentasse entrar em si. Logo em seguida a garota colocou uma roupa fresca, apenas um shorts e uma camiseta, além de claro seus chinelos, indo em direção ao café da manhã, encontrando algumas famílias e empresários nas mesas, definitivamente aquele horário não eram para os jovens hóspedes turistas, ou trabalhadores.
Um pão de queijo, um omelete, com um pedaço de pão, e alguns pedaços de manga. Este foi o café da manhã de Mia, a garota riu ao reparar que até mesmo seu suco, de laranja, era composto por amarelo ou laranja. A garota levou isso como um sinal, talvez que seu dia fosse radiante? Ela não sabia, mas encarou com delicadeza esse fato.
Seu próprio silêncio e uma playlist baixa tocando em um lado de seus fones causavam paz na garota, sua lerdeza em comer e a possibilidade de ver inúmeras realidades em um pequeno espaço.
Pais e filho se divertiam, ou não interagiam na mesa, eram situações totalmente distintas em cada mesa, um homem engravato com uma cara horrível de sono deixava claro que alguém estava lhe causando uma enorme dor de cabeça em seu trabalhão, já que suas sobrancelhas estavam franzidas e seu olhar compenetrado na tela do computador.
Na última mesa do salão era possível ver uma cena que aqueceu o coração de Mia, a garota ouviu uma nova melodia se iniciar no fone e sorriu ao reconhecê-la, Todo o amor que houver nessa vida de Cazuza, essa era a trilha sonora que a garota observava um casal de mulheres que tinham por volta de seus quarenta anos, elas seguravam as mãos sobre a mesa e sorriam pelo olhar uma para a outra, era notável a admiração entre elas, uma delas sempre estava atenta aos movimentos ao redor, enquanto a outra parecia apenas ver a parceira a sua frente, era como se ali fosse o ponto de paz daquela mulher, talvez realmente fosse. A de cabelos curtos, que estavam sempre preocupada, sorriu ao ver uma criança de uns 5 anos se aproximar, na mão do garoto haviam duas flores, ele as entregou para as mulheres, recebeu um abraço apertado e vários beijos nas grandes bochechas torradas de sol, em seguida sendo colocado no colo de uma das supostas mães, assim bebendo o leite que havia sido oferecido para ele.
Mia pensou que não havia como seu spotify ter escolhido uma música melhor para o momento, a garota apenas pensava que concordava com o compositor, Mia também queria a sorte de um amor tranquilo.
- Posso retirar? - A garota havia sido tirado de seus pensamentos pelo jovem que trabalhava no hotel, Mia sorriu para o mais novo.
- Por favor. - Ela disse.
- Você tem alguma reclamação? Ou alguma sugestão? Seja do atendimento ou dos alimentos. - Ele disse como se seguisse um protocolo. - Aliás, muito bonitas suas tatuagens.
- Ah, Obrigada! E, estava tudo ótimo, Gustavo. - A mulher disse após ler o nome do garoto no crachá. - Vocês aceitam gorjeta?
- Sim, se quiser posso entregar para as meninas da cozinha. - Ele disse prestativo e ela sorriu com a fala.
- É o que eu tenho aqui, inclua você nessa conta. - A garota disse tirando uma nota de vinte da carteira. - Quando puder eu te entrego mais, você parece ser um bom garoto. - A garota entregou a dinheiro ao rapaz que balançou a cabeça em agradecimento, a morena havia esse costume, ela tinha o básico para viver, não precisa de luxos, aquelas pessoas poderiam necessitar de alguns trocados para conseguir voltar pra casa ou comprar um presente para alguém amado, Mia já havia passado por essa realidade, já havia vivido em ambientes que eram contrastantes com sua realidade em casa, já havia visto como dois reais poderiam mudar um dia e assim que conseguiu uma estabilidade financeira prometeu a si mesma que sempre que pudesse fazer algo por alguém, assim ela faria.
- Obrigado, tenha um bom dia, Mia, eu admiro seu trabalho. - Ele disse e continuou para a próxima mesa, a garota sorriu, ela não esperava pela última frase, normalmente as pessoas não a reconheciam, mas aquilo fez com que o resquício de nervosismo que havia em si fugisse.
Mia fazia um bom trabalho, ela iria fazer dessa vez também, não há motivos para se auto sabotar. A ruiva não deve ser tão complicada assim, pelo menos não o suficiente para estragar o talento de Mia.
A garota retornou ao quarto com outra aura, sua respiração compassada, suas mãos estabilizadas e seu pé quieto, ela definitivamente havia encontrado paz em algumas coisas. A garota continuou ouvindo algumas músicas nacionais, de tons calmos, já eram seis e alguns minutos, ela sabia que teria um tempo de sobra, mas sua atitude seguinte foi separar sua roupa para o dia, a mala foi desfeita com cuidado para que não houvessem muitas roupas amassadas, a garota pendurou suas camisas, que particularmente eram utilizadas no trabalho, ou em encontros, entretanto a garota tinha colocado-as dentro da mala para ir ver Bergmann, ou seja, focando no trabalho, nenhuma mulher iria lhe desconcentrar.
Assim que as mãos da jornalista entraram em contato com a camisa de tom amarelado e com algumas listras verticais discretas ela sabia, seu café da manhã havia lhe indicado, o que seria mais brasileiro do que ir de amarelo no primeiro trabalho com a seleção brasileira? Era isso, esse era o sinal.
A garota deixou sobre um lado da cama e colocou junto sua jeans cinza, além de seu tênis preto e discreto para todas as ocasiões possíveis. Assim ela havia finalizado seu ritual de primeiro dia, Mia se deitou junto de seu celular e entrou no tiktok, passando a distrair a mente sobre os próximos momentos.
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n/a: dúvida sincera: vcs gostam de detalhamento nos looks, ou não fazem conta?
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Chamego - Julia Bergmann
FanfictionOnde uma novata na emissora é escalada em um dos projetos mais promissores do canal com a seleção feminina de vôlei.