4.1

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Assim que Mia entrou no quarto pegou seu celular e mandou mensagem para Júlia, a sua.

mia
oi amor, você provavelmente está dormindo.
só queria deixar claro que Kudiess é uma babaca
e eu falo isso de boca cheia

Mia realmente queria respeitar a conversa e privacidade das garotas, mas seu fone não estava com bateria. O destino queria que ela ouvisse.

- Você falou pra ela, não falou? - A voz de Kudiess era firme, nem parecia a garota leve e sorridente que sempre estava na seleção.

- Não, Júlia, não falei. - Nina suava mais firme ainda, porém sua voz tinha um sentimento amargo junto, o que tornava uma combinação forte para alcançar o ego de qualquer um. - Eu te respeitei a todo memento, respeitei até demais, agora eu sei muito bem o que virei pra você, sou apenas uma diversão, não é? Ver mais uma pessoa encantada por você, dar corda pra alguém só pra aumentar seu ego.

- Não é isso, Nina. - Júlia havia abaixado a guarda. - Quando você vai entender que não é assim.

- Não? Então me explica o motivo de você ter me ignorado desde que te falei que ia cobrir seu jogo. Me explica o motivo que você só veio atrás de mim quando me viu conversando com a Kisy. - Nina disse é um silêncio pesado ficou na sala, Júlia engoliu seco.- Ta vendo? Não tem outra resposta.

- Isso não é certo, Nina. - Júlia disse com a voz embargada. - Quando que você vai entender isso? Nós não somos certas, não deveria acontecer.

- Mas aconteceu. - Nina disse. - E agora? Me diz se você quer que aconteça ou se você vai sair por aquela porta agora e nunca mais olhar na minha cara.

- Nina, não, não faz isso. - Júlia suplicou. - Eu gosto de você, gosto de conversar com você, gosto das suas piadinhas idiotas, mas quando eu lembro que você é uma mulher, bem, tudo se torna tão errado. - Júlia disse totalmente aberta, era fácil de sentir que aquilo era uma breve explicação de suas fugas. - Te ver me faz lembrar disso, mas pensar em outro alguém sendo o alvo de suas cantadas baratas é doído.

- Se eu fosse um homem estaria tudo bem? A porra do meu gênero importa mais do que tudo? - Nina disse impaciente. - Foda-se, se entenda, veja se você realmente quer isso, ou quer fingir que é uma mulher hétero, se decida e depois venha falar comigo. - Nina disse e a respiração de Kudiess foi funda.

- Eu quero você.

- Eu sou uma mulher, você é uma mulher, você tem certeza do que está dizendo?

- Nina, não complica. - Júlia disse baixo e uniu os olhos com os de Nina. - Não é culpa minha.

- Nunca disse que é, Kudiess. - Nina disse ainda com o olhar grudado no da jogadora. - Mas, eu não posso viver assim, não aguento mais não poder contar pra minha melhor amiga sobre nossos encontros, não aguento mais sempre me sentir escondida, me sentir deixada de lado assim que algo acontece, me sentir usada. Eu também não tenho culpa das coisas que te falaram, nem sei o que te falaram.

- Nina, você não tá sendo usada. - Júlia disse tentando unir sua mão com da garota a sua frente que se afastou.

- Não me encosta. - Nina pediu ainda olhando para a morena, que desviou o olhar e ficou no chão.

- Eu queria ser igual você e ser resolvida, mas eu não posso, minha família me mataria. - Júlia assumiu e Nina respirou fundo.

- Eu sou assumida, mas você não tem ideia de quanta coisa abdiquei pra conseguir isso, eu perdi contato com minha avó, tive que ouvir inúmeros comentários dos meus familiares inclusive do meu pai, se você acha que foi simples, sinto em te informar que você tá errada. - Nina disse observando cada parte do rosto da jogadora. - Minha mãe me acolheu, me ajudou, mas só. Eu fui embora o quanto antes, Kudiess, eu não tinha emprego, não tinha dinheiro, não tinha nem onde ficar, menti por quatro meses pra minha mãe dizendo que estava tudo bem, mas trabalhava em dois empregos e fazia faxina em troca de ter onde dormir, mas no final do dia eu podia deitar a cabeça no travesseiro que tinha e me orgulhar de mim, orgulhar de quem eu nasci, quem sou. - Nina disse e via que a garota em sua frente chorava. - A única pessoa que, com certeza, sempre vai estar ao seu lado é você. Se você não está bem resolvida com você, o que você pode fazer?

O silêncio novamente compôs a sala, Kudiess olhava com seus olhos marejados para a garota a sua frente, observava cada pedaço dela, cada mínima expressão.

- Eu não quero te apressar, não quero te tirar de armário algum, muito menos de expor. - Nina disse juntando seu olhar com as orbes azuis de Kudiess. - Mas, isso não pode mais acontecer, entenda o que você quer, se você tá disposta a isso, depois me procure, só quando tiver certeza das palavras que vão ser ditas, eu não quero viver em uma corda bamba. - Nina disse calma e sincera, era notável os machucados que Kudiess havia deixado na garota.

- Mas eu quero você, eu sei disso.

- Me querer tem consequências, Júlia. - Kudiess abaixou o olhar novamente. - Pensa nisso, pensa no quanto você realmente me quer e me manda mensagem quando tiver certeza, Júlia.

- Você nunca vai me dar uma outra chance. - A voz dolorosa e arrastada de Kudiess disse.

- Eu tenho certeza que quero você, Júlia Kudiess, mas eu só quero que isso aconteça se você também tiver certeza que me quer. - Nina disse sincera e respirou fundo. - Eu acho que é melhor você ir, suas companheiras já devem estar te procurando.

- Eu não quero ir. - Júlia disse baixo, mas tão baixo que nem mesmo Nina escutou. - Você vai me esperar?

- Não conte com isso. - Nina disse e um som frustrado saiu dos lábios de Kudiess. - Tchau, Júlia, realmente é hora de você ir.

- Tchau, Nina. - Júlia disse e a porta foi fechada em sua cara.

Mia se levantou da cama e foi até a amiga, que desabou de chorar em seus braços.

- Eu nunca mais vou trocar uma palavra com alguma mulher que faça esporte. - Nina disse entre os soluços e Mia quis rir naquele mísero segundo. Nina dormiu nos braços de Mia naquela noite, ela desabou em lágrimas mais uma vez, Mia confortava a garota e lhe dava ouvidos para tudo, era o que a amiga precisava.

Já Kudiess entrou no seu quarto de hotel e encontrou Thaissa deitada, a mais velha olhou para a garota que tinha o rosto péssimo.

- Você foi em um velório? - Thaissa disse preocupada e Júlia apenas caminhou até sua cama e se encolheu.

- Eu acabei de ser a maior idiota do mundo. - Julia disse e sentiu a cama afundar com o peso da loira.

- O que aconteceu?

- Eu perdi alguém que amo, Thaissa. - Julia disse olhando nos olhos da mulher a sua frente. - Simplesmente por ser uma idiota e não conseguir fazer isso ter sentido.

- O que aconteceu, Kudiess? Fazer sentido? - Thaissa disse enquanto a mais nova já chorava.

- Eu tô apaixonada numa mulher, Thaissa, eu não posso me apaixonar por uma mulher. - Julia disse entre soluços. - Eu não posso decepcionar minha família, eu tenho que ter a família perfeita, tenho que honrar tudo que conquistamos. - Júlia tinha a respiração rápida e Thaissa a abraçou.

- Não tem nada de errado você se apaixonar por uma mulher. - A loira disse enquanto tinha seu pijama sendo molhado pelas lágrimas da morena. - Você não precisa ser perfeita, não há como ser perfeito, Julia.

- Mas isso me deixa mais longe ainda.

- Não, o que te deixar longe é ser infeliz. - Thaissa disse e levantou o rosto da jovem central. - Você realmente vai priorizar uma reputação que não faz sentido ao invés da sua felicidade?

——

n/a: espero que gostem do casal secundário!!!

Thaissa sendo diva 🫶

mimo por ter ficado desaparecida por algum tempo

Chamego - Julia BergmannOnde histórias criam vida. Descubra agora