Capítulo 11

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— Sua leitura está impecável — elogiou-me Lohan. Eu já conseguia reconhecer todos os símbolos e pronunciá-los. Entender o significado de todas as palavras ainda era a parte complicada.

— O que é isso? — Ele deixou um livro grosso na minha frente e eu o abri. Só de passar os olhos pelo conteúdo já obtive as respostas que queria. — Já sei! Um dicionário!

Achei que o livro seria como um presente pelo meu avanço, mas foi mais o contrário. Com meus conhecimentos um pouco mais avançados, tive que começar a usar mais o dicionário já que Lohan foi, aos poucos, diminuindo o tempo de suas aulas para exercer o seu próprio trabalho. Apesar disso, sempre me mantinha por perto como se eu fosse uma criança pequena a ser vigiada.

"Talvez ele realmente me veja assim", pensei, enquanto o espiava pelo canto do olho.

Lohan estava analisando alguns papéis enquanto traçava algum tipo de diagrama com sua caneta mágica sobre um papel amarelado. Sua caneta parecia com a ponta de um osso e escrevia na cor que Lohan mentalizava. Esse era só um dos vários artigos curiosos que ele tinha, mas eu me esforçava ao máximo para não ficar lhe fazendo perguntas e interrompendo-o. Para lhe provar que eu estava bem, tentava sempre mostrar o máximo de maturidade possível.

Tornei a me concentrar no livro que estava lendo. Era o primeiro livro com gravuras até agora. Passei um tempo analisando o mapa de Celestria gravado nas primeiras páginas. Fiquei pasma enquanto comparava o tamanho de Éldrim com os demais territórios.

"Quase o dobro do tamanho do segundo maior território", comentei com Lisa. Éldrim é tão grande que faz divisa com muitos reinos diferentes.

"Tão grande quanto o nosso companheiro!", respondeu ela orgulhosa. Eu já não sabia dizer se isso era algo bom, pois tamanho maior significa também muito mais responsabilidade. Quão trabalhoso deve ser para ele lidar com tudo isso?

Coloquei o dedo sobre Luríon, o lugar em que eu me encontrava, e tracei um caminho em direção ao território dos monstros. O território vizinho é uma região estreita próximo da costa que se alarga em direção às montanhas. Mentalmente, eu já conseguia imaginar onde o Devorador estava. Continuei arrastando meu dedo pela região costeira, indo em direção ao território das bruxas.

"Não é tão grande", pensei. O território das bruxas é cerca de um décimo do tamanho do território dos lobisomens. Se o livro trata dos seres mágicos e seus territórios, talvez houvesse uma explicação para os critérios de divisão territorial mais à frente. Assim que virei a página, escutei um som como o soprar de uma flauta.

— O que... — Parei o que estava dizendo e espiei meu companheiro pelo canto do olho. Ele ainda estava concentrado e não parecia ter ouvido o mesmo que eu. Voltei minha atenção novamente para o livro e voltei à página do mapa.

"Livro mágico?", perguntou minha loba, ouvindo o mesmo que eu. Era o mesmo som de antes. Virei apressadamente as próximas páginas do livro e então o sopro suave se tornou como uma ventania. O som era, até mesmo, irritante.

— O que está fazendo? — perguntou Lohan ao meu lado, me pegando de surpresa. Seu rosto estava a centímetros do meu.

— Você é mesmo rápido! — Eu ainda estava me recuperando do susto quando larguei o livro. Sorri para ele, dei-lhe um beijo rápido na bochecha, surpreendendo-o de volta. Pelo seu olhar, eu podia ver que não esperava por isso.

— Estava só estudando, mas comecei a pensar demais. — Eu não queria preocupá-lo de novo, ainda mais quando eu já estava há dias sem ter tido nenhum desses sintomas estranhos.

— No que estava pensando? — perguntou-me seriamente. Se ele tinha visto minha preocupação, então eu precisava mostrar algo preocupante para disfarçar. Voltei as páginas do livro até o mapa. O estranho som havia desaparecido completamente, o que me deixou momentaneamente aliviada.

— Estava pensando sobre o Devorador. É por aqui que ele fica? — Tracei uma linha próxima da costa que ia desde o clã dos lobos sacerdotais de Éldrim, passava pelo estreito do território dos monstros até o começo do território das bruxas.

— Quase isso — respondeu ele, traçando a própria linha e me mostrando a verdadeira extensão. Parte do Devorador estava sobre a água em alguns pequenos pontos, muito similar ao que ocorria no outro mundo. Estranhamente, o Devorador parecia ser maior aqui neste mundo do que do outro lado. — Não pense muito sobre isso. — pediu-me carinhosamente. Assenti de leve e ele me beijou na testa antes de voltar ao seu trabalho.

Continuei explorando o livro, cujos primeiros capítulos explanam o território de Éldrim. É vasto e abrange todos os tipos de topografias, desde costas litorâneas, desertos, montanhas, vales, planícies, lagos...

São quarenta e quatro clãs ao longo de Éldrim, sendo Luríon o maior de todos. Uma imensa porção são terras exclusivas do rei. Lohan é, sem dúvidas, muito rico.

"Nem acredito que cheguei a falar com ele que eu queria ajudar com o sustento. Que vergonha! Não me admira a forma como ele riu de mim aquela vez." Lisa riu com o meu pensamento. Ela estava sempre feliz desde que viemos para cá.

Através desse livro, acabei descobrindo muitas curiosidades interessantes. Uma delas é que o idioma que eu estava aprendendo me abriria todas as portas deste mundo. A língua mágica é exercida em todos os domínios de Celestria onde lobisomens, fadas, vampiros, sereias, elfos, dentre outras raças coexistem de forma pacífica, regidos por um código mundial criado pelos seres da mais alta hierarquia, os celestiais. Os celestiais são os chamados seres de luz e possuem asas como de anjos. Eles vivem em cidades no céu e geralmente só são vistos quando descem para cumprir tarefas ou quando surgem conflitos de grande escala.

Os celestiais são também os construtores das famosas câmaras dos deuses. Questionei Lohan sobre isso e descobri que os celestiais não são o topo da hierarquia. Eles apenas seguem ordens e, embora não saibam como as câmaras operam, entendem-nas como uma ponte que une o mundo ao divino. Há uma câmara dos deuses perto de cada cidade real, em cada um dos territórios, com uma única exceção: o território dos monstros.

O território dos monstros não é tido como um domínio. Trata-se de uma terra sem lei. Nele estão todas as criaturas problemáticas que foram banidas e isoladas dos demais domínios, e também é onde há a maior concentração de criaturas consideradas primitivas, tais como orcs, ogros, goblins, etc. Considerando todas as informações, era certo dizer que aquele lugar é a fonte geradora de monstros sombrios que atravessam para o outro lado.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora