Capítulo 84

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Resolvi seguir os conselhos que recebi. Se eu quisesse escapar, deveria fazê-lo da forma correta, e a esperança de conseguir acendeu-se junto com a necessidade de aprender e aperfeiçoar a magia. Antes, meu foco era no controle para a estabilização das origens, mas assim que percebi o quanto a magia poderia ser divertida e útil, nasceu dentro de mim uma paixão natural por ela. Pela primeira vez, senti-me realmente feliz por ser uma bruxa.

Aproveitei os dias mais solitários da terceira lua cheia para estudar um pouco mais sobre as magias de luz que eu queria dominar. Estudar foi uma forma de distrair minha mente da pior noite até agora no que diz respeito aos sintomas que eu vinha sentindo durante a lua cheia.

Terminada a calmaria, resolvi procurar pelo livro sobre magias de ocultação, mas não sabia se ele estava na área de magias astrais ou nos livros de inscrições e selos. A coleção era ampla e eu demoraria demais se quisesse procurar por conta própria.

Agnes, sabe me dizer em que livro estão as magias de ocultação de sentidos? — Agnes estava focada escrevendo e eu não queria interrompê-la, mas realmente precisava da ajuda dela. Antes que ela me respondesse, uma bruxa que estava por perto se aproximou com um sorriso simpático.

Sei qual livro é. Se quiser, posso te mostrar onde fica.

Obrigada! Será de grande ajuda! — respondi, agradecida.

Agnes suspirou profundamente e elevou o olhar, fitando-me de forma piedosa enquanto eu me afastava. Naquele momento, não entendi o que aquele olhar significava, apenas quando minha suposta salvadora pegou o livro que eu procurava.

Uma pena para você! Estou a fim de lê-lo hoje — riu ela, levando o livro consigo.

Fechei minhas mãos em punho. Lisa estava com vontade de pegar o livro à força, mas essa seria uma atitude particularmente suspeita.

Aquela bruxa se juntou a um grupo de bruxas em uma das mesas no centro da biblioteca, mas, em vez de ler o livro, colocou-o debaixo de uma pilha. Pior do que não o ler, era não ler nenhum dos livros que elas tinham sobre a mesa. Em vez disso, ficavam de conversa fiada. Mesmo a biblioteca tendo uma regra para silêncio, não é algo que costumam respeitar, uma das incontáveis críticas que eu tinha em relação ao lugar.

Você vai lê-lo ou não? — perguntei-lhe friamente, enquanto batia a mão sobre a mesa, chamando a atenção para mim.

Independentemente de eu lê-lo ou não, eu o peguei primeiro. Vá caçar outra coisa para ler! — disse ela em um tom implicante antes de me ignorar e voltar a conversar com as outras, que viam a tudo isso como uma brincadeira engraçada.

Funguei, irritada, antes de sair da biblioteca à procura de Willow. Ela finalmente havia retornado, seja lá do que tenha feito, mas continuava ocupada demais para me dar aulas. Assim que detectei sua presença, invadi seu escritório sem bater na porta. Ela estava de pé perto da janela, perdida em pensamentos.

— Ora, se não é a minha querida filha caçula. Em que posso ajudá-la? — perguntou-me calmamente com um daqueles sorrisos lindos que só ela sabia dar. Com uma atitude tão cordial, era impossível sair cuspindo minhas reclamações, então respirei fundo e questionei-a com a voz branda.

— Tenho algumas críticas em relação às regras da biblioteca e espero que possa me ajudar com isso. Primeiro, por que não posso levar os livros para ler no quarto? O ambiente na biblioteca é barulhento demais para se estudar. Além disso, por que as outras bruxas podem reter um livro simplesmente por pegarem ele primeiro?

— Filha, os livros não podem ser retirados da biblioteca para evitar perdas e danos por mau uso. Nem todas as suas irmãs são responsáveis como você. — Todos os livros eram escritos e transcritos manualmente, e por essa dificuldade é que eles são muito mais valiosos do que no meu mundo. Será que eu poderia usar a minha autoridade de suposta futura rainha para passar por cima das regras? — Sobre a questão da retenção, se emprestássemos os livros, isso seria muito pior, não acha?

— Realmente, mas ainda assim... — Em um esquema de empréstimo, se a pessoa cismasse de implicar comigo, na hora de devolver, uma amiga pegaria e depois ela de novo e eu nunca teria acesso ao conteúdo desejado. A impossibilidade de tirar o livro da biblioteca, bem como a regra de tê-lo que devolver ao devido lugar antes de sair, é algo benéfico considerando o contexto, mas eu ainda não conseguia me conformar com a malícia daquela bruxa.

— Eu já te disse desde o primeiro dia. Este ambiente é competitivo, e para evitar situações que não gosta, você precisa ficar mais esperta. A própria convivência cotidiana é parte do seu treinamento de bruxa, quer goste ou não.

— Bem que você podia abrir uma exceção para mim... — pedi com jeitinho. — Por favor!

Willow riu e foi até um dos armários, abrindo um compartimento superior. Dali, tirou um livro de aspecto muito antigo e esticou-o na minha direção.

— Apenas este livro. Fique com ele por enquanto e leia-o sempre que se sentir frustrada.

— Do que se trata? É importante para o meu aprendizado? — Olhei a capa. Era preta e não continha nenhum título ou identificação.

— Você vai descobrir ou, do contrário, eu te direi com clareza no momento certo — disse ela, atiçando minha curiosidade.

Peguei o livro e assenti para Willow antes de me dirigir ao meu quarto. Assim que encontrei uma posição confortável na minha cama, abri o livro com muito cuidado, com medo de que ele se desmanchasse nas minhas mãos. Quem quer que tenha escrito o livro, tinha uma caligrafia muito rebuscada, mas o que mais me surpreendeu foi a idade da obra. Trata-se de uma cópia feita há mais de mil anos de uma obra de mais de treze mil anos atrás. O começo era um lamento.

"Ai de mim, uma das últimas sobreviventes. Antes não tivesse te conhecido, indecisa eu não estaria, mas agora darei minha vida por você, para proteger o amor que fizemos nascer!"

Essas não eram as primeiras palavras da obra, mas as últimas. Por algum motivo, a pessoa que fez a cópia as colocou na folha de rosto. Acho que considerou isso um ponto-chave na história. Se o fosse, eu precisaria procurar, nessa chave, o que quer que Willow queira me mostrar com a obra.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora