Capítulo 131

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Visão de Lohan


Levantei-me e caminhei até a bandeja que Liz deixou na cozinha. Pegando um pedaço do pão seco, comecei a mastigá-lo, saboreando-o como se fosse o melhor pão do mundo. Eu me sentia estranhamente feliz, e isso era muito confuso. Nem me lembro qual foi a última vez que me senti assim.

"É uma pena que seja uma bruxa!", pensei enquanto me deitava. Em breve eu iria embora e os dias aqui não seriam mais do que lembranças a serem esquecidas pelo tempo.

Dessa vez, acordei antes de ser surpreendido. A porta estava rangendo quando detectei uma presença estranha entrando. Sentei-me na cama, apurando os sentidos. Logo Liz apareceu com uma bandeja contendo uma boa variedade de alimentos e um bule de chá quentinho.

Acordou cedo hoje. Não é tão dorminhoco quanto pensei — implicou, colocando a travessa sobre a mesa. — Trouxe sua refeição! Está do seu agrado?

Dá para o gasto — respondi seriamente, sentando-me na cadeira. Mesmo tendo uma área própria para refeições no andar inferior, ela novamente trouxera a comida para cima, como se soubesse que gosto de comer apreciando a paisagem e o tempo. Ela organizou os itens sobre a mesa e encheu a xícara para mim.

Por que gosta desse chá? — perguntei curioso depois de saborear um gole. Novamente estava do jeito que gosto. — Esse não é um sabor muito apreciado.

No começo eu não gostava — admitiu, olhando o chão com um certo pesar. — Mas passei a tomar sempre porque esse chá me faz lembrar de casa. Alguém muito próximo a mim o tomava todas as manhãs, dizendo que acalma a mente e ajuda a...

Manter o foco — completei admirado.

Exatamente isso! — disse ela, sorrindo com satisfação.

É uma pessoa sensata. — Era curioso que existisse alguém com um gosto tão parecido com o meu. É alguém que eu provavelmente iria gostar de conhecer.

Você parece com fome! Vou pegar mais algumas coisas e já volto — disse ela, se virando.

Não precisa. Fique aqui! Isso é o suficiente!

Irei assim mesmo, Majestade — disse teimosamente. Ser contrariado deixou meu lobo irritado. A garota ignorou o rosnado que escapou de meus lábios e saiu calmamente pela porta, mostrando que não me levava a sério. Se fosse outra pessoa, provavelmente meu lobo teria ficado transtornado, mas tive a impressão de estar mais nervoso do que ele.

"Vai mesmo deixar por isso mesmo enquanto aquela bruxa passa por cima de nós?"

"Aquela bruxa é minha! Não é esse tipo de punição que darei a ela", disse Ray como se estivesse enfeitiçado pela garota. Senti o desejo dele extravasando para o meu corpo e isso me deixou encabulado.

"Alguém tão forte não pode se deixar seduzir tão fácil!", resmunguei, enchendo outra xícara de chá. Ray estava muito estranho e eu não estava gostando nada disso.

Acompanhei os movimentos da garota pelo jardim. Ela não demorou a voltar. Em suas mãos, uma caixa meio grande para o seu porte. De repente, me veio à cabeça que Liz tem mais força e preparo físico do que uma bruxa comum, e não pude deixar de me perguntar sobre a vida que levava antes de vir parar aqui.

Majestade, voltei. — Posso ver! — Sentiu minha falta?

Não — murmurei enquanto descia as escadas para encontrá-la. Abrindo a tampa da caixa, tirou várias garrafas com bebidas e vasilhas com bolinhos e outras guloseimas e começou a encher os armários da cozinha.

Também senti a sua! — disse ela de um jeito extrovertido, fechando a caixa e levando-a para cima. Segui-a de perto para ver o que queria. Ela arrumou a cama e depois abriu o armário e começou a guardar coisas nele.

O que está fazendo? — perguntei inquieto.

Como veio sem nada, tomei a liberdade de comprar algumas roupas e calçados para você. Espero que sejam do seu agrado. Se quiser que eu lave suas roupas também...

Não! — interrompi-a. É certo que não tomei um banho desde que cheguei aqui, mas não pretendia vestir nada trazido por uma bruxa, quanto mais deixar que uma toque nas minhas roupas. Vai saber o tipo de magia sórdida que embutiria nelas. — Pode levar embora!

Elas não são do seu agrado? — perguntou-me inocentemente, pegando uma camisa preta e abrindo-a para mim. — Elas são do seu tamanho, certo?

Por que está gastando o seu dinheiro comigo? Não pedi que fizesse isso! — Eu não queria ofendê-la diretamente, mas não pretendia aceitar o seu gesto.

Eu sei. Só achei que você se sentiria mais à vontade. Não falei que te serviria com toda a hospitalidade?

Não respondi a isso. Ela não parecia ter más intenções, então achei que seria rude se eu falasse abertamente o que penso. Virando-se, dobrou a camisa e terminou de esvaziar a caixa. O último item era uma pequena caixa retangular de madeira com cerca de um palmo de comprimento. O jeito que ela segurou a caixa e a guardou com cuidado fez parecer que era algo valioso.

O que é? — perguntei, esticando a mão por cima dela e agarrando a caixa.

Um presente, mas não pode ver agora! — Ela tentou pegar a caixa da minha mão, mas não deixei. Levantei-a e me diverti vendo-a tentar alcançá-la sem sucesso.

Poxa! É seu de qualquer forma. Se você quebrar, vai ficar sem! — Assim que ela se deu por derrotada, cruzou os braços e fez um biquinho fofo.

Vejamos... — Disse eu, baixando a caixa para abri-la. Após algumas tentativas frustradas, a garota começou a rir. A vontade que eu tinha era de quebrar a caixa para sanar a curiosidade, mas não queria perder o que quer que ela tivesse colocado dentro.

É claro que coloquei uma inscrição mágica de tranca para evitar trapaças. Você só vai poder abri-la depois da festa. — Ela riu, se sentindo vitoriosa. Suspirando fundo, guardei a caixa de volta no armário.

"Liz, é melhor que valha a pena, ou do contrário, descobrirá do pior jeito o que é perder!"

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora