Capítulo 73

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— Parece que você compreendeu a essência — disse-me Willow, entrando no quarto ao amanhecer. O sorriso em seu rosto e o brilho em seu olhar mostravam claramente sua satisfação em me encontrar dessa maneira.

— Fiz o meu dever de casa. — comentei, lembrando de todos os livros que li em Éldrim sobre bruxas quando comecei a desconfiar que pudesse ser uma.

Antes de irmos ao refeitório, Willow começou a falar um pouco sobre as outras bruxas, segundo ela, minhas "irmãs". Palavras como "filha" ou "irmãs" em nenhum momento me incomodaram, pelo contrário. Passavam uma ideia de família e esse, sem dúvidas, era o meu ponto fraco. Eu sempre desejei encontrar o meu lugar, pertencer a um grupo que compartilhasse afeto, proteção e afinidades, numa ligação especial que somente o conceito de família é capaz de fornecer.

Ouvir um pouco sobre a personalidade delas me deu um certo alívio. Pareciam pessoas normais, não as monstruosidades que os livros de Éldrim faziam parecer. Algumas instruções específicas me deixaram em alerta.

— Não abaixe a cabeça, não demonstre fraqueza e não siga ordens de ninguém além de mim! Não se deixe enganar pela simpatia delas ou vão te usar para interesses próprios. A competição é natural e saudável, mas cada uma delas tem suas próprias metas e objetivos, então foque-se apenas em você!

Do jeito que ela falou parecia egoísmo, mas apenas quem está dentro entende isso. Ser uma bruxa é uma corrida desde o início da vida. Como em qualquer corrida, se você parar, outros vão te passar e coletar o prêmio primeiro. Com tantas bruxas competindo entre si por admiração, fica difícil coletar devoção suficiente para si. Isso me fazia questionar quanta devoção é necessária para estabilizar e evoluir um núcleo. Pelo contexto, eu compreendia que era uma quantidade imensa!

— Como a sua marca espiritual fica no seu braço esquerdo, isso dará a entender que você é canhota, então use predominantemente a mão esquerda na frente delas. Além disso, evite falar no seu idioma nativo. Ninguém irá te entender — instruiu-me ela.

Quando ela mencionou essa questão sobre idiomas, percebi o quão naturalmente ela falava a minha língua. Isso é algo incomum nos demais territórios, já que esse conhecimento pertence especificamente a Éldrim.

— Por que fala tão bem o meu idioma? — perguntei curiosa.

— Para Éldrim, e na função de precursora, essa foi uma forma amistosa de declarar apoio ao projeto e fortalecer a aliança com os lobisomens, mas a verdade é outra. Eu sabia que a semente que enviei voltaria para mim um dia e esperava estabelecer uma boa comunicação quando isso ocorresse.

Basicamente, ela estava dizendo que aprendeu o outro idioma unicamente por minha causa. Eu não conseguia tirar os olhos de Willow enquanto tentava interpretar o que eu estava sentindo em relação a isso.

— Como tinha tanta certeza de que eu viria? — Mesmo que eu despertasse do outro lado, vir para este lado ainda dependia de Lohan, a não ser que isso não fosse bem uma verdade. Ou isso, ou ela manipulou o Lohan... — Por acaso, o desenho da loba branca que Lohan recebeu veio de você?

— Então você sabe sobre o desenho? — Willow sorriu. — Sim, de fato o desenho veio de mim, mas a história é longa. Te contarei em outro momento. Por ora, recolha a origem de sua loba. Estamos chegando ao refeitório.

"Me desculpe, Lisa...", pensei enquanto assentia para Willow.

"Parece que conversaremos pouco daqui para frente. Apenas faça o que tem que fazer!", respondeu Lisa com convicção. Fechei os olhos por um instante e me concentrei no desejo de ter meu núcleo de volta. Senti a energia da minha loba se movendo e, assim que parei de senti-la e ouvi-la, abri os olhos e notei a marca espiritual no meu braço.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora