Não era grande, nem muito chamativa. A câmara dos deuses é uma construção quadrada de paredes brancas, sem janelas, e cuja porta de entrada ocupa metade da parte frontal. Havia inscrições em baixo-relevo por toda a porta, a maioria desenhos de todos os principais elementos que compõem a magia deste mundo.
— Vamos tirar a prova! — disse-me Lohan, incentivando-me a tocar na porta. Caso eu preenchesse as condições necessárias, a porta se abriria para mim e eu poderia entrar e fazer o teste.
Graças à conversa que tive com meu companheiro, ele achou que deveríamos averiguar essa questão do chamado. No mesmo dia, ele me trouxe aqui. Levamos quase uma hora de corrida do palácio até esse lugar. A câmara é cercada por florestas e alguns guardas vigiam a câmara constantemente para garantir ordem e pacificação. Lobos de todos os clãs, de todas as direções costumam vir aqui todos os dias para a realização do teste, mas no momento a área foi delimitada exclusivamente para mim.
"Algo está estranho", falei com Lisa. Sons estranhos começaram a invadir minha cabeça como se estivessem repelindo minha aproximação. Não havia beleza, nem harmonia no chamado. Hesitantemente, estiquei minha mão e toquei na porta da câmara.
— O que deveria acontecer? — perguntei a Lohan, confusa. Absolutamente nada ocorreu.
— As inscrições ganhariam um brilho de acordo com a quantidade de poder mágico que você possui e, se fosse o momento, a porta se abriria. É estranho que as inscrições sequer tenham brilhado.
— O que isso significa?
— Provavelmente poder mágico insuficiente — disse Lohan pesadamente. Recuei a mão de imediato. Não é possível que eu não tinha o mínimo necessário para fazer o teste. Eu era uma das mais fortes no meu mundo! Se eu não consigo, provavelmente ninguém do outro lado conseguiria também.
— Pode ser por conta da idade, como você mencionou. — Decidi que deveria me manter otimista. Por algum motivo, eu era a destinada de Lohan, e isso me dava um propósito para continuar lutando. — Apenas me guie, companheiro! Farei o que for necessário!
— Por ora, vamos voltar! — Apesar da firmeza em suas palavras, eu podia sentir que ele estava inseguro. Não podia deixar toda a responsabilidade para ele. Senti que deveria encontrar minhas próprias respostas também.
"Estou me acomodando!", comentei em pensamento com Lisa enquanto pegava um livro na biblioteca mais tarde. Antes, eu procurava não depender de ninguém, mas, de repente, coloquei expectativas demais em cima do meu companheiro.
"A culpa é minha!", disse-me Lisa. Ela se culpava por não ser forte o bastante.
"Vamos ficar mais fortes! Não vamos desistir!" Eu estava convicta em relação a isso.
"Uma luta só se perde quando paramos de lutar", respondeu-me de volta. Era o nosso lema de vida: perseverar até atingir uma meta, não importa os obstáculos que apareçam.
Assim que abri o livro sobre a câmara dos deuses, ouvi um som. Não era como uma flauta, mas como a corda de um violão.
"Parece que Preciosa está com a gente!", comentei com Lisa. Sorri enquanto virava as páginas. O som de cordas continuava ressoando de forma clara e límpida, e isso era um alento. Sentia minhas ideias clareando enquanto avançava na leitura.
O livro sobre a câmara dos deuses remontava à antiguidade. O que me chamou a atenção foi que as câmaras atuais não são as originais. As antigas câmaras eram muito mais rigorosas quanto às provações e demandavam um poder que excluía grande parte da população, que não tinha as qualificações mínimas necessárias para adentrá-las. Novas câmaras mais inclusivas foram construídas por conta disso, e as antigas foram deixadas de lado e acabaram se tornando ruínas.
— Parece pensativa! — disse Lohan, sentando-se ao meu lado. Seu semblante estava abatido e parecia cansado.
— Muito trabalho hoje? — perguntei preocupada. Nesses últimos dias, estávamos passando pouco tempo juntos, e como não recebi instruções específicas, fiquei explorando todo tipo de conteúdo sobre as câmaras, procurando uma solução para o meu caso.
— Um pouco... — sua voz soou baixa. Ele segurou minha mão e sorriu para mim. Acho que a parte do dia em que nos reencontrávamos era a melhor para nós dois.
O meu lado não foi muito produtivo. Estudar muito era cansativo, ainda mais quando não havia absolutamente nada na literatura sobre chamados que eu pudesse usar como referência para o meu caso. Um pensamento em particular me perturbava muito.
— Companheiro, que tipo de poder a Willow controla? — A rainha das bruxas parecia saber muito mais sobre mim do que eu mesma. Pensei que talvez conseguisse encontrar respostas mais coerentes se eu seguisse as pistas que ela me dava.
— Willow tem duas naturezas. Seu poder elementar é das trevas e seu poder astral é o psíquico — respondeu-me com o olhar atento a mim. — Por que quer saber?
— Está explicado como ela se comunica mentalmente — comentei, lembrando-me das vezes que a ouvi só na mente.
— Comunicação telepática com outras raças só é possível através de contato físico, ou só conseguirá ouvir ruídos — disse ele. — Por isso ela te tocou para se comunicar com você na reunião.
— Entendi! Os seres precisam estar na mesma frequência... — Na minha cabeça, tal poder é comparável com ondas de rádio. — Você também tem poderes telepáticos, não é? Por que não se comunica comigo mais vezes?
— Pelo mesmo motivo — disse ele em um tom sério. — Sua mente tem uma resistência natural ao meu poder, então tenho dificuldades de me comunicar à distância com você.
— Porque sou meio humana — concluí. Ele assentiu com a cabeça, confirmando minha teoria. Fiquei um pouco triste por saber que eu também não estava na mesma frequência que Lohan. — Espera!
A primeira vez que Willow se comunicou mentalmente comigo foi no meu mundo. Se eu ouvi Willow aquela vez, é porque ela realmente me tocou, e se ela me tocou, é porque eu realmente estava sendo puxada pelo portal por ela, algo que, de acordo com Lohan, não deveria acontecer por conta da natureza mágica.
— O que foi? — Lohan me perguntou preocupado. Mordisquei os lábios enquanto pensava se deveria ou não questioná-lo a respeito disso. — Companheira, temos um acordo, lembra? Seja sincera!
— Lohan, Willow teve filhas? — Ela havia me chamado de filha ao menos duas vezes. Era desconfortável pensar na hipótese de que eu talvez tivesse algum parentesco com ela.
— Não. Embora Willow nunca tenha gerado descendência, muitas bruxas em seu reino são chamadas por ela de filhas. Mais do que rainha, ela é tratada como mãe por essas bruxas.
— Não é possível! — murmurei. Recusava-me a acreditar que eu pudesse ser uma bruxa.
— Companheira, me diga o que te aflige! — exigiu ele. Assenti de leve enquanto tomava coragem de dizer isso em voz alta.
— Willow me chamou de filha — revelei. — Você acha que a câmara não se abriu para mim porque fui ao lugar errado? Você acha que talvez o meu teste seja na câmara dos deuses do território das bruxas?
![](https://img.wattpad.com/cover/377835306-288-k964273.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Destino: O Rei Amaldiçoado
WerewolfLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...