Capítulo 118

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Visão de Lohan sobre o passado: os tormentos ocultos durante a estadia de Eliza em seu palácio


Desde que apresentei minha amada ao conselho, tudo começou a dar errado. As palavras de Willow foram como uma praga, que me perseguiu duramente por muito tempo. Após oferecer ajuda, entregando-me os brincos como um amuleto de proteção e estabilização, disse-me:

"A essência atual da garota é incompatível com o destino grandioso que a espera. Se você realmente quer ajudá-la, pare de atrapalhá-la. Ela não conseguirá se provar enquanto você estiver no caminho dela."

Eu desacreditei completamente de suas palavras naquele momento e ignorei seu alerta, mas assim que a primeira tentativa da minha pequena de adentrar a câmara falhou, decidi consultar os sábios em busca de respostas. Rapidamente, eles chegaram a um consenso comum de que, se eu estava atrapalhando-a de passar pela provação, era porque minha energia essencial estava circulando pelo corpo dela por conta da marca. Como a energia de alguém que já passou pela provação estava circulando dentro de alguém não provado, a porta da câmara poderia não reagir ao toque dela.

Eu não queria remover a marca, não podia me permitir desfazer meu tão precioso vínculo, então procurei por respostas que não contradissessem minha vontade egoísta. Manter minha companheira ligada a mim era uma necessidade, e pensar em quebrar isso, mesmo que temporariamente, me deixou atribulado, então continuei ignorando a informação por mais um tempo.

Quando vi os olhinhos tristes e desapontados da minha companheira ao ver o lobo de William passar pela provação e ela não, fui incapaz de encará-la. Eu me sentia culpado, sentia que a desapontaria se dissesse que a culpa era minha. Eu a evitei enquanto tentava lidar com minha própria culpa, a evitei pelo medo de que ela percebesse a verdade e não me perdoasse.

Eu não suportava a ideia de ser a causa de seu sofrimento. Eliza é como uma flor delicada, e eu temia que uma palavra errada minha pudesse soprá-la para longe de mim. Eu podia suportar tudo, menos a ideia de perdê-la, e esse medo me impediu de ser o homem que ela precisava naquele momento. Assim que percebi o meu erro, corri atrás dela, mas ela já havia desaparecido.

Meu maior temor havia se tornado realidade. Eu a magoei de verdade e ela se foi. Foram horas extremamente difíceis, com o sentimento de que meu coração estava se rasgando com a ideia de que tinha sido abandonado pela pessoa que mais amo. Tão logo voltei a senti-la, a persegui, tão rápido quanto o meu corpo me permitiu fazê-lo. Eu a traria de volta, eu encararia meus receios e não fugiria mais. Infelizmente, os eventos que se seguiram me fizeram recuar.

Os perigos que a cercam são muitos, mas eu podia protegê-la de todos eles. Sejam os malditos espiões que eliminei ou os anti-mestiços que insistiam em rondar minha propriedade tentando se infiltrar, todos eram ameaças com as quais eu podia lidar. O problema é a força desconhecida que a persegue, um inimigo invisível que insiste em me tirar do sério.

A incerteza diante do desconhecido e a insegurança fizeram com que eu me calasse mais uma vez. Eu queria tanto dizer a ela tudo o que sabia, mas não queria que ela se atormentasse com os mesmos problemas e preocupações que eu. Seu sorriso precioso era o que eu mais queria proteger, pois era ele que me dava forças para continuar enfrentando tudo.

Quando os pais dela apareceram, mudaram rapidamente a forma como as coisas aconteciam. Quando eles se provaram, a dor nos olhos dela e o pedido de desculpas que escapou de seus lábios me deixaram muito infeliz. Ela não tinha culpa de nada. Eu detestava vê-la se desculpando, detestava o fato de ela achar que não era suficiente para mim, quando na verdade, eu é que não era bom o bastante para ela. Ela se culpava por não poder se provar e por me causar preocupações, e eu me culpava por ser incapaz de lhe dizer a verdade, por meu egoísmo prejudicar a pessoa que mais importa para mim. Achei que deixá-la de fora dos problemas seria o melhor, mas não consegui lidar com tudo sozinho e falhei em proteger os sentimentos e o sorriso dela. O silêncio foi o meu maior erro.

Quando ela me disse que poderia morrer por não passar pela provação, perdi completamente o controle. Como aceitar o fato de que poderia perdê-la depois de tudo que passei para encontrá-la? Como suportar ouvir da pessoa que mais amo que sua vida está em risco? Gastei tanta energia e esforço para mantê-la segura, sacrifiquei um tempo valioso que eu poderia passar ao lado dela, eliminando ameaças visíveis para que minha amada possa viver com liberdade e segurança em meu reino, e agora algo desconhecido ameaça destruir tudo!

Só de imaginar vê-la se machucar já me deixava arrasado, quanto mais pensar que ela poderia realmente morrer. O pior lado de Ray emergiu, e precisei me afastar para que ela não visse o monstro que há em mim. Sentia-me responsável por essa situação, então como poderia encará-la? Como ver aqueles olhinhos tão lindos e não me sentir um fracasso como companheiro?

Foi então que meu avô me contatou, dizendo que a sacerdotisa real estava a caminho e que ela poderia ter uma outra solução para o problema que me atormentava. Contive minha fera interior o suficiente para comparecer àquela reunião com ela, mas então tudo deu errado. Minha pequena elevou a voz para os anciões e os afrontou, algo estritamente proibido. Antes que proferissem uma sentença severa, intervi para protegê-la, mas a decisão final logo foi retirada de minhas mãos.

Eu daria absolutamente tudo para trocar de lugar com ela. Mais do que isso, implorei que me permitissem ser penalizado junto com ela. Se ao menos pudéssemos estar juntos, eu poderia confortar a minha pequena. Contudo, uma ameaça proferida pelo conselho me fez recuar. Se eu insistisse em intervir, a pena dela seria multiplicada em até dez vezes. Precisei recuar para amenizar o dano.

"Isso é ridículo!", pensei enquanto saía da torre do conselho. Se eu perdesse o controle lá dentro, seria trancafiado de novo e não estaria lá pela minha pequena quando a soltassem. Muitas vezes já me acorrentaram em uma prisão escura como punição por violações quando eu era mais jovem, o que me fez ficar cauteloso em relação a como lidar com os anciões. Em uma semana, eu teria minha pequena de volta e então me desculparia devidamente com ela. Só esperava que ela pudesse me perdoar, que pudesse compreender o motivo pelo qual precisei intervir.

"Rei Lohan...", chamou-me a sacerdotisa Ilysia via telepatia, fazendo-me parar.

"Diga, e é melhor que seja importante", alertei-a. Eu ainda estava profundamente irritado com todos os que fizeram minha pequena se chatear, incluindo ela. Se algo acontecesse com Eliza, sinto que seria capaz de matar todos eles.

"Só queria dizer uma coisa que enxerguei sobre o destino da garota, algo que não consta na profecia que recebeste." Parei imediatamente quando ouvi essas palavras e olhei para trás. Ilysia correu para me alcançar e esperei que se aproximasse.

"E o que seria?" Sua atitude cautelosa e a forma como se aproximou de mim para que ninguém mais nos ouvisse demonstrava que, o que quer que fosse, ela queria que somente eu soubesse.

"O caminho final leva ao ponto de origem. Ela jamais será um lobo completo, mas fará ressurgir o poder original."

O que isso quer dizer? — perguntei-lhe em voz baixa.

Significa que ela nasceu para ascender ao trono. — Minha respiração ficou pesada enquanto a via se afastando. A compreensão do porquê ela não queria dizer isso em voz alta na frente do conselho dos anciões me alcançou. O que ela estava insinuando era que Eliza não precisa de mim para se tornar rainha; os céus já a escolheram.

Perante o conselho dos anciões, isso seria tido como uma afronta à ordem natural de Éldrim, e Eliza seria considerada, no mínimo, uma impostora. Pior do que a resposta dos anciões, seriam as ações do movimento anti-mestiços, que se tornariam mais fortes se isso vazasse. Para o bem dela, eu garantiria que esta informação permanecesse em segredo.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora