Capítulo 47

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Apesar das palavras da minha mãe, eu ainda sentia que não podia desistir dessa teoria. Se não fosse algo relacionado a isso, o que me restaria além de recomeçar minhas investigações do zero?

— Essa sagacidade que você tem... — Bruxas são astutas e bonitas, então podia dizer que minha mãe tinha grande potencial para ser uma. O problema é que não existem bruxos homens, quanto mais bruxas lobas, então como eu poderia descender de uma?

Por mais impossível que parecesse, algo dentro de mim me dizia que Cian fora escolhido por Willow com segundas intenções e que o que estava acontecendo comigo não era um acaso. Eu tinha certeza de que Willow tinha as respostas para tudo o que estava acontecendo comigo, mas como eu conseguiria perguntar sobre isso para ela? Não é como se eu pudesse simplesmente dar um telefonema ou trocar e-mails. Eu precisava encontrar as respostas por mim mesma.

— O que tem isso? — perguntou minha mãe.

— Bem, sou esperta e bonita por sua causa. Puxei isso de você! — respondi, esboçando um sorriso tranquilo. Ela relaxou imediatamente e sorriu de volta.

— Você não voltou a ter mais crises, não é mesmo? Sinto que encontrou uma resposta.

— Sim — admiti. Eles estavam se preocupando muito comigo pelas minhas costas e eu queria, de alguma forma, passar-lhes segurança. — Percebi que exercícios de concentração e meditação equilibram minhas energias e inibem as crises. Me acompanha?

Eu geralmente fazia esse tipo de exercício sozinha, em qualquer momento e de todas as formas possíveis. Como eu não precisava mais esconder isso, me sentei no chão, cruzei as pernas e fechei meus olhos. Senti a presença de minha mãe se sentando de frente para mim, e o silêncio que se estendeu me dizia que ela estava fazendo o mesmo.

"Está um pouco animada demais hoje!", comentei com Lisa enquanto me conectava com ela.

"Estou atenta a você! Sinto que está certa!", comentou rindo. "Sou uma loba bruxa!"

"Somos uma loba bruxa!" Ri de volta com essa loucura sem fundamento. Agora que aceitei a possibilidade e abri minha mente, senti muito mais facilidade em harmonizar minha energia interior com o exterior. Ampliei minha percepção energética enquanto sentia todas as presenças ao nosso redor. Podia dizer para onde iam, quem eram os mais fortes ou mais fracos e até mesmo como estavam se sentindo.

Abri meus olhos, a visão espiritual ativa. Olhei por um tempo para minha mãe. Ela tinha uma energia mágica fraca e, embora estivesse meditando de olhos fechados, podia dizer com toda certeza que não estava se concentrando.

"Ela está inquieta e vai abrir os olhos.", pensei. Ela abriu os olhos poucos segundos depois, assim como previ.

— Parece que você também não está à vontade em fazer isso aqui — disse-me ela. Senti que ia se levantar, e ela realmente o fez.

"Ela vai se sentar na poltrona à esquerda de frente para a janela!", pensei enquanto ela ainda olhava para mim. Em seguida, ela se moveu e fez exatamente isso.

"Acho que podemos acrescentar previsão de intenção na lista de poderes!", comentei com Lisa. Ela estava rindo orgulhosa, pensando em como éramos especiais, enquanto eu me levantava. Ainda era um desafio me movimentar com a visão espiritual ativa, mas sentia que um dia seria possível torná-la minha visão natural. Quanto mais eu explorava esse poder, mais fácil era manuseá-lo novamente.

— Pelo contrário — comentei com minha mãe. — Já alcancei o estado de equilíbrio.

— Rápido assim?

— Sim — respondi seriamente, acompanhando o olhar dela. De onde estávamos, era possível ver de relance meu pai e William treinando juntos. O fato de William ter se tornado um lobo completo despertou o interesse dele. — Quando partirão?

— Amanhã — respondeu minha mãe suavemente. — A previsão de retorno é daqui a três semanas.

— E você vai junto, não é? — Minha mãe estava sempre perto do meu pai. Mais do que companheira ou amiga, ela é a secretária dele, seu braço direito e seu maior suporte.

— Sim — confirmou-me.

— E não podem deixar isso para depois do ano novo? — Ela fez uma negativa com a cabeça e explicou que queriam apressar o ritmo por conta do eclipse que ocorreria no segundo mês do próximo ano. Pensei que poderia comemorar essa data com eles dessa vez, mas eu estava enganada.

Embora a contagem dos dias em ambos os mundos fosse a mesma, a forma como comemoravam a virada era muito diferente e descobri isso quando o dia chegou. Não usavam branco, não faziam festa e não viam o ano novo como um dia de deixar o velho para trás e abraçar o novo.

No ano novo deste mundo, os lobos se reúnem com suas famílias para rezar e pedir bênçãos. É um dia de jejum e silêncio, um dia em que exaltam os antigos e as gerações que se foram, e agradecem pelas vidas presentes e vindouras.

Entre a hora nona e a meia-noite, fiquei ao lado do meu companheiro que se ajoelhou perante o memorial de seu pai, feito ao lado do túmulo de sua mãe. Honrei o silêncio e rezei em meu coração com ele. Depois da meia-noite, ele segurou minha mão e me levou até a varanda de seu quarto, cujo jardim tinha um espaço perfeito para admirar o céu noturno e a cidade de Luríon ao mesmo tempo. Entre a meia-noite e a hora terceira, era o tempo dedicado a aclamar o presente e o futuro.

Ele se sentou sobre um banco na parte frontal da varanda e me fez sentar em seu colo. Seus braços me envolveram em um abraço gentil e, fechando os olhos, parecia estar agradecendo. Eu podia dizer isso pela forma como sorria. Fechei meus olhos também para fazer meu próprio agradecimento. Pelo presente, pela vida do meu companheiro que tanto amo, obrigada!

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora