Capítulo 119

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Visão de Lohan: flashback do desaparecimento de Eliza


Não consegui processar a informação, ainda mais com todas as coisas que vinham acontecendo ao mesmo tempo. Deixei Ray assumir o controle após me isolar na floresta e o permiti caçar livremente para apaziguar sua fúria. Eu precisava colocar meus pensamentos em ordem se quisesse recuperar o controle da situação.

Por um motivo inexplicável, os obstáculos continuavam a surgir no caminho do amor entre mim e Eliza, como se algo ou alguém estivesse determinado a nos separar. Fosse pelos anciões, meu avô ou até mesmo Fiona, eu não permitiria que ninguém a fizesse chorar novamente. Eu seria capaz de começar uma guerra por ela, por sua segurança, mas me sentia incapaz de remover um único obstáculo do seu caminho: eu mesmo.

Tudo mudou quando percebi que eu me tornara o motivo de suas lágrimas. Ela duvidou de mim, ela duvidou do meu amor por causa do meu próprio egoísmo. Então, finalmente aceitei que a única solução era sair do seu caminho para que ela pudesse se provar.

Achei que estava certo naquele momento, que o problema era mesmo a marca, e fui teimoso, contrariando a vontade da minha companheira e a vontade do meu lobo. O preço de remover a marca foi alto demais. Achei que a tivesse perdido para sempre e senti que morreria ali, com ela, naquele quarto.

Quando a pior fase passou, uma nova, tão preocupante quanto a anterior, me acometeu. Por conta de todas as minhas falhas, Ray começou a me odiar, deixando meus poderes instáveis, e eu sabia que sua fúria só se dissiparia quando eu encontrasse uma maneira de trazer minha Eliza de volta. Era uma corrida contra o tempo.

Decidi engolir meu orgulho e procurar em outros reis a resposta para a civilização perdida no deserto do território das bruxas. Antes de ir para a sala de comunicação, olhei para Mara, que se aproximava a passos rápidos após atender o meu chamado.

— Majestade, do que precisa? — disse ela, se curvando diante de mim.

— Quero que cuide da minha companheira sempre que eu não puder fazê-lo. Escolha alguns pratos na cozinha para você e ela e me acompanhe.

— Agradeço, Majestade! — disse ela, seguindo prontamente minhas ordens. Não havia ninguém mais confiável para cuidar da minha pequena do que a própria mãe. Poucos minutos depois, ela voltou com uma bandeja de alimentos na mão. Eu ficaria fora investigando, então ela ficaria trancada no meu quarto por um certo tempo.

Mara seguiu meus passos. Assim que a porta se abriu, deixei que entrasse, e quando eu ia dar meia volta, um som de impacto me deixou aturdido. A bandeja de alimentos caíra das mãos dela e todos os itens nela se espalharam pelo chão.

— Onde ela está? Onde? — perguntou Mara com a voz aflita, correndo até a cama. No momento em que entrei, tive a mesma reação que ela. A cama onde minha amada deveria estar se encontrava vazia. Elevei meus sentidos e tive certeza de que ela não estava por perto.

— Onde? — sussurrei para mim mesmo, enviando ordens a todos os meus guardas para que a procurassem imediatamente.

"Edward, venha até o meu quarto imediatamente!", ordenei ao meu avô através de um comando mental.

"Ela acordou", Ray se manifestou, voltando a ser como antes.

"Espero que seja isso!", respondi, preocupado que ela pudesse ter sido sequestrada de alguma forma. Me empenhei demais em mantê-la sob minha proteção, fechando todas as brechas para que ficasse segura dos seus inimigos, então não podia ser isso. Me aproximei de Mara. Ela estava agachada ao lado da cama, analisando um pedaço de papel.

— Majestade, é a caligrafia da minha filha! O que diz? — Ela me passou a folha, cujas palavras foram escritas no idioma de Celestria.

— Ela acordou — falei emocionado. Ray estava certo, nossa pequena voltou para nós. Mas onde ela estava agora?

Meus dedos se apertaram em torno do bilhete enquanto eu ponderava sobre como ela saiu novamente sem ser vista. Por que ela não veio falar comigo primeiro? Por que tantas coisas continuam acontecendo?

"Nós só a atrapalhamos até agora. Precisamos confiar nela desta vez", disse Ray um pouco sério. "Ela prometeu que voltará para nós!"

Depois do pesadelo que vivi nos últimos dias, senti que podia ao menos respirar um pouco. Pelo menos ela estava acordada e parecia saber o que fazer.

— Estou aqui! — avisou meu avô assim que chegou, contornando a bagunça no chão. Bastou um olhar rápido para compreender a situação.

— Como ela saiu do quarto? — perguntei a ele sem me virar. Não conseguia tirar os olhos do bilhete. Este quarto tem uma blindagem mágica até mesmo nas janelas e deveria responder somente ao rei. Se ela estava trancada aqui, não tinha como ter simplesmente desaparecido. — Há alguma brecha?

— Só existem duas formas possíveis — ponderou ele. Como ele viveu aqui por muito mais tempo do que eu, era o único que poderia enxergar algo que eu não estivesse vendo. — Ou ela de alguma forma foi reconhecida pelo sistema como a rainha ou ela tem um poder que excede a quem fez a blindagem, o que considero improvável.

Em meu coração, ela sempre foi e sempre será a minha rainha. Lembrei-me de que me declarei para ela antes de deixar este quarto mais cedo. Pelo bilhete, ficou claro que ela estava me ouvindo, e essa nossa ligação pode ter confundido o sistema de alguma forma, mesmo que ela não tivesse passado pelo rito da coroação. Mais do que isso, as palavras ditas pela sacerdotisa sobre Eliza ter nascido para o trono começaram a se repetir na minha cabeça.

— Coloque todos em alerta máximo. Preciso saber aonde ela foi! — falei firmemente. Eu não pretendia impedir minha pequena, mas somente me sentiria seguro se pudesse acompanhar seus passos. Há muitos perigos que ela desconhece, então, enquanto ela cumpre o seu chamado, eu pretendia ficar em sua retaguarda como a sua sombra, guardando-a e protegendo-a do mal.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora