Capítulo 63

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Enquanto William se aproximava da porta do quarto onde meu corpo estava, ouvi um rosnado furioso vindo de dentro. Lohan pareceu emitir comandos mentais para William, que recuou alguns passos e não abriu a porta.

— Ela disse que ia te contar! — gritou William do lado de fora, trêmulo. — Você precisa saber!

Poucos segundos depois, a porta se abriu. Lohan parecia possesso. Seus olhos estavam vermelhos, e um rosnado escapava de sua boca. William imediatamente se ajoelhou de cabeça baixa, mas não recuou.

— Fale! É melhor que seja importante! — O tom de Lohan era ameaçador. Era uma face dele que eu, definitivamente, não conhecia.

— É sim, Majestade! — William gaguejou levemente. — Ela disse que ia te contar à noite, que queria te dizer faz um tempo...

— Seja direto!

— Ela encontrou a solução das crises, a resposta do chamado. Ela disse que tinha descoberto o que era e...

— Quando? — Lohan agarrou violentamente a gola da camisa de William. Mais um pouco, e William seria afetado pelos olhos amaldiçoados. Percebendo o perigo, William fechou os olhos momentaneamente.

— Ela me contou ontem pouco antes de você entrar. Disse que descobriu logo depois que os pais passaram pela provação. Majestade, por favor! — William fechou os punhos e firmou a voz. Parecia decidido. — Estou preocupado com ela. Todos estão! Você não é o único que a ama!

De alguma forma, a sinceridade de William tocou o coração de Lohan. Ele não só o soltou como abriu a porta, dando a entender que ele podia entrar.

— Você tem conhecimentos médicos, não é? Acha que pode fazer algo? — A voz de Lohan estava mais contida do que antes, mas sua respiração ainda estava pesada. William se aproximou do meu corpo e começou a fazer algumas aferições básicas.

— Não parece haver nada de errado — comentou ele. — No momento, sua pulsação está normal. Ela respira com tranquilidade e as feridas de ontem estão se curando rapidamente.

— Mas eu não sinto a sua loba — respondeu Lohan com a voz embargada. — E ela não acorda desde que tirei a marca.

— O quê? Por que tirou a marca? — William estava atônito. Ele não tinha percebido o detalhe mais importante.

— Eu precisava dar a ela uma chance — respondeu Lohan, tombando as costas contra a parede e se sentando no chão com a cabeça baixa. — Me fizeram acreditar que a marca podia ser o motivo de ela não conseguir passar pela provação, que a existência da energia de um lobo provado dentro dela pudesse ser o bloqueio que a impedia de adentrar a câmara. Por motivos egoístas, quis mantê-la ligada a mim enquanto procurava outra forma de resolver essa questão, mas minha pequena estava sofrendo. Ela queria de todo jeito provar sua força e seu valor, mesmo que não precisasse fazê-lo. Eu não queria isso, não precisava que me provasse nada porque ela já é o meu tudo. Depois do que aconteceu, pensei que deveria colocar os sentimentos dela acima dos meus. Se eu era o obstáculo, achei que deveria sair do seu caminho por um momento, mas jamais pensei que isso aconteceria. Eu não consegui dizer a ela, não consegui confessar que eu era o culpado! Tinha medo que ela me odiasse se descobrisse. Ela me implorou para que eu não fizesse isso, mas eu não a ouvi. Achei que estava fazendo o certo...

Lohan desabou. Parecia ter entrado em choque. William não sabia como lidar com essa confissão, então se calou e continuou me examinando.

— Companheiro, você realmente me ama muito, não é? Quando vai me dizer isso? — Me sentei ao lado dele. Eu não podia tocá-lo, não podia consolá-lo. De uma coisa eu tinha certeza nesse momento: eu precisava voltar para o meu corpo de alguma forma.

— Não sei o que te disseram, mas desistir não é uma opção. Você não a tirou de mim para isso! — disse William com seriedade. — Não acho que o problema seja a marca porque ela estava confiante de que encontrou a resposta. A provação faz milagres, não é? Temos que ajudá-la a completar o seu chamado se quisermos tê-la de volta.

— Você tem razão! — As palavras de William despertaram Lohan, fazendo-o se erguer no mesmo instante. — Investigue isso já. O que quer que ela tenha descoberto, precisamos saber!

— Sim, Majestade! — disse William convicto, retirando-se logo a seguir. Algo no olhar de Lohan mudou. Era como se finalmente estivesse deixando as emoções de lado e começando a usar a cabeça.

— Companheira, você precisa voltar para mim. Eu preciso de você! — disse ele, pegando-me em seus braços.

Decidi que o acompanharia de perto, aonde quer que ele fosse. Se Lisa estivesse comigo, provavelmente estaríamos espiando atrás de cada porta proibida, explorando tudo o que antes não podíamos. Mas, no estado em que eu estava, não tinha desejos nem vontades. Tudo o que me restava era a consciência de que precisava voltar, e estar com Lohan era onde eu tinha a melhor chance de encontrar respostas.

Lohan levou meu corpo de volta para o nosso quarto e deitou-me sobre a cama dele. Seu olhar estava fixo em mim, me analisando, mas eu podia dizer que ele estava puxando memórias, rastros que pudesse usar como referência. Momentos depois, ele caminhou até a porta para abri-la para as pessoas que chegaram.

— Majestade, — meus pais o reverenciaram humildemente — viemos assim que chamou.

— Preciso de uma informação. Depois que vocês dois passaram pela provação, perceberam algo diferente na Eliza? Ela disse algo sobre o chamado ou fez algo suspeito?

— A pesquisa. Foi logo no dia seguinte — minha mãe disse após trocar olhares com meu pai. Ela era bem detalhista, e seu excelente raciocínio e memória eram as coisas que meu pai mais admirava nela. — Ela disse que ia pesquisar a única pista que tinha. Ela nos explicou algumas coisas enquanto nos mostrava um mapa e apontou para um lugar específico, dizendo que era o chamado, como se estivesse em transe.

— Me mostrem! — ordenou Lohan, tomando a frente.

Acompanhei a trama de perto. Minha mãe foi rápida em encontrar o livro. Ela o abriu e começou a explicar detalhadamente tudo que lhes falei. Lohan observou em silêncio até o fim da explicação.

— Ela parou o dedo aqui — disse minha mãe. A precisão com que marcou o lugar era formidável. — Majestade, há algo importante nesse lugar?

A área marcada está dentro do território das bruxas, não tão longe da fronteira do território dos monstros. Encontra-se quase alinhada com a extremidade do Devorador, mas um pouco mais afastada do mar.

— Eu investiguei minuciosamente esse mesmo trajeto depois que busquei a Eliza na alcateia dos Ventos do Norte. Não encontrei nada nessa rota mencionada e na área que indicaste também não há absolutamente nada além de um deserto extenso e sem vida.

— É mesmo? — perguntei ao Lohan, colocando-me na frente dele. — Se há um deserto, cave as areias até encontrar o que preciso. Não ignore essa informação!

— Minha filha tinha um olhar determinado, como se tivesse entendido algo mais, mas não quis nos dizer — comentou meu pai.

Lohan permaneceu calado, mas não passivo. Um ancião se aproximou a passos rápidos, atendendo ao seu chamado telepático, e o reverenciou de cabeça baixa.

— Quero que investigue essa área e descubra se há algo — disse Lohan, pegando o livro e apontando para o deserto marcado. — Procure em todas as fontes possíveis e seja rápido!

— Entendido! Farei isso agora mesmo!

— Há mais informações? — Lohan tornou a questionar meus pais. — Além do chamado, ela parece ter compreendido a resposta para as crises dela. Qualquer informação agora, mesmo que mínima, é crucial para que possamos ajudá-la.

Minha mãe, como sempre, não deixava passar nada. Ela contou tudo que lhe falei sobre ter encontrado a chave para controlar meus sintomas, sobre a questão do equilíbrio das energias. Isso intrigou Lohan e o levou a um dos lugares que eu menos esperava.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora