Capítulo 152

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Visão de Lohan


Meu corpo não lutou contra a magia colocada nele. Acho que o único inconveniente sobre as inscrições de proteção é a perda dos benefícios da marca, como o acesso aos sentimentos e à localização de minha amada. Pelo menos o vínculo não foi afetado. As palavras de minha companheira quanto à sua vontade eram firmes, mas de forma alguma eu a deixaria enfrentar isso sozinha. Eu era o culpado por isto estar acontecendo e não poderia permitir que minha pequena se expusesse em meu lugar.

— Lohan! Confie em mim! — insistiu, pisando firmemente o pé no chão e cruzando os braços de um jeito fofo. Ela sempre fazia isso quando perdia a paciência e queria se impor, sem fazer ideia do quanto esse gesto era excitante para mim. — Sou uma bruxa, então agora tenho a astúcia completa de uma. Se insistir que deve se colocar na minha frente, vou te botar para dormir!

— Você não se atreveria! — falei-lhe, aborrecido. Meu dever como seu macho era protegê-la, não o contrário.

— Eu já fiz uma vez! — disse ela com um sorriso travesso.

— Você... — grunhi enquanto puxava da memória a ocasião que ela mencionara. Só havia uma vez que eu apagara tão pesadamente, e me culpei muito na ocasião por tê-la perdido porque dormi. — Nunca mais use magias do tipo em mim!

— Então pare de ser teimoso! — insistiu, se mantendo firme na frente da porta de saída. Eu queria tirá-la dali e abrir passagem na frente, mas o escudo de luz que ela projetou ao redor de si era impenetrável. — Vê, estou realmente forte agora! Se você me ama, confie em mim mais uma vez!

— Certo! Mas ficarei por perto caso precise de mim! — cedi, após o forte apelo emocional que ela fez, mesmo não estando muito satisfeito com o acordo. Ela sorriu triunfante, desfazendo o escudo e se aproximou de mim com os olhos afetuosos, cujo brilho alcançava até a sombra mais escura do meu coração.

— Meu companheiro é o melhor! Só mais uma coisa... — ela disparou e voltou tão rápido que meus olhos afiados mal conseguiram acompanhar. — Coloque isso!

Em minhas mãos, ela depositou a caixinha que tanto me despertara curiosidade. Sorri por finalmente poder abri-la. Sem minhas memórias, eu não teria ideia do que se tratava o conteúdo da caixa, mas agora, com a maldição de esquecimento quebrada, o objeto tinha um sentido maravilhoso. Não é à toa que ela me pediu para esperar o fim da festa para abri-lo.

— Um par de óculos. É do meu gosto! — falei-lhe ao reconhecer o produto. Eu não precisava perguntar para ter certeza de que esconderia minha maldição.

— Que ótimo! Pedi que o confeccionassem especialmente para você. Não consegui parar de pensar em você um minuto desde que nos separamos. Depois que descobri que seu problema não tem nada a ver com a cor dos seus olhos, penso que os óculos podem ser mais confortáveis para você usar. É mais fácil colocar e tirar, não causa irritação aos olhos se você se descuidar, e é bem mais durável. Também ponderei sobre sua maldição muitas vezes, e penso que talvez você veja benefícios nela e não queira quebrá-la de todo. Claro, se optar por quebrar a maldição, estou aqui para isso, mas quis te dar isso para que tome a decisão sem pressa. Estou ao seu lado para o que achar melhor, companheiro!

— Obrigado! — falei-lhe emocionado. Eliza não cansava de me surpreender, e era realmente encantador perceber a cada dia o quanto ela pensa em mim. Eu valorizo cada um dos seus cuidados. Eliza é extraordinária, e eu me sentia a pessoa mais sortuda do mundo por tê-la para mim. Coloquei meus óculos, pronto para exibir meu incrível presente em público. — Companheira, eu te amo demais!

— Eu também te amo! — disse ela, sorrindo de uma forma que me fez querer ignorar toda a comoção externa, puxá-la de volta para o quarto e amá-la intensamente mais uma vez.

Eliza se virou e abriu a porta. A postura que assumiu assim que saiu, enquanto todos os olhares se voltavam para ela, era completamente diferente da Eliza terna de segundos atrás.

ACHO QUE JÁ CHEGA! — gritou ela com autoridade. Todos ficaram chocados, não só com seu tom de voz, mas com a energia poderosa que ela fez questão de mostrar. — Quem deu a vocês o direito de fazer toda essa comoção aqui tão cedo?

Sorri orgulhoso enquanto me aproximava dela por trás, exalando a mesma aura poderosa e intimidadora de minha companheira. Minha aproximação causou vários murmúrios, mas ninguém ousou fazer qualquer movimento ofensivo. Para evitar o meu olhar, mantiveram os olhos fixos nela.

O rei Lohan desrespeitou o tratado de paz fundamental que diz que não deve haver interferências ou conflitos pessoais em territórios que não lhe pertencem — disse Mefisto sem se aproximar, claramente intimidado. — É direito meu exigir que ele seja punido pelo que fez aos meus subordinados. Eles não eram pessoas quaisquer, mas lordes de grande importância.

O que meu pobre marido fez para merecer ser morto de forma tão horrenda? — choramingou a vampira fêmea, agachando-se perto de um dos cadáveres com a voz chorosa. Pelo perfil, diria que é irmã de Mefisto. — Mesmo que por acaso tivessem tido desavenças, ele não precisava tê-lo matado.

Pare de ser falsa! — exclamou Eliza de forma intimidante. — Você sequer está sofrendo. Quer mesmo que eu acredite na sua atuação?

E quem você pensa que é? — reclamou Mefisto. — Você não tem autoridade para julgar nada aqui, então o que importa o que você acredita ou não? Como não encontramos a rainha das bruxas, solicito aos convidados reais presentes um julgamento por mediação.

A partir desse ponto começava minha preocupação. Olhei no rosto de cada um dos reis, rainhas e príncipes que vieram para a festa e ficaram hospedados aqui, e que tragicamente acabaram caindo de cara em uma situação constrangedora e forçada como essa.

Dentre eles, Galadriel parecia ter sido o único que percebeu a marca no pescoço de Eliza. Ele virou o rosto e olhou em meus olhos. Havia compreensão neles quando viu que podia me ver diretamente sem ser afetado pela maldição. Era como se já soubesse de algo, e não pude deixar de me questionar se Willow revelara algo para ele antes de desaparecer. Mesmo que o tivéssemos como aliado, só ele não seria o suficiente para aplacar os ânimos. Como um sábio líder, manteve-se calado esperando o desenrolar dos fatos e uma abertura certa para se expressar.

Quem eu sou? Por favor, quem você pensa que é aqui? Como a mãe não está presente, acho que está na hora de deixar as coisas claras. — disse ela, mantendo a postura imponente. — Com a mãe ausente, eu, Liz Singer, herdeira legítima ao trono de Aradia segundo a profecia da sacerdotisa real, julgarei o caso em questão.

Entrei em choquequando ouvi isso e parece que não fui o único. Tal revelação despertou ointeresse da maioria dos presentes, que a encararam surpresos, outrosatordoados, mas não mais do que eu. Como ela podia ser a herdeira do trono dasbruxas? Ela é a minha rainha! Como eu poderia aceitar isso?

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora