Capítulo 93

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Me contorci em agonia pelo resto da madrugada, sem conseguir pegar no sono. Não existia magia nem remédios que pudessem me apagar desse estado para que eu não sentisse nada. O flagelo era mais forte e não me permitiria passar sem implicar uma profunda tortura em meu corpo. Os primeiros minutos de luz do dia eram o meu momento mais feliz. Eu finalmente conseguia fechar os olhos e descansar.

Geralmente dormia até perto do almoço, mas dessa vez não acordei. Depois de todo o estresse, quando reabri os olhos, já era noite. Minha barriga estava roncando forte quando me levantei para fazer minha higiene pessoal e me vestir.

O horário da janta já havia passado, então fui até a cozinha para preparar algo por conta própria para comer. Enquanto grelhava alguns legumes, senti uma intenção assassina se aproximando.

"Ela está muito brava!", disse-me Lisa. A energia de Molly estava vindo diretamente na minha direção, como se soubesse que eu estava aqui. Molly é uma bruxa do fogo e psíquica. Filha de uma artista renomada, ela ganhou fama por conta de quem a mãe é e conseguiu desenvolver uma segunda origem.

Desliguei o fogo e olhei atentamente para a porta. Pensei em fugir com minha invisibilidade, mas se eu recuasse, não saberia o que ela quer comigo. Assim que entrou, tive que mover a cabeça para o lado para desviar da lâmina incendiada que ela lançou contra mim.

Quanta agressividade! — ela nunca tinha partido para um ataque direto antes. — Isso é jeito de tratar a sua irmã?

Você não é minha irmã! — disse ela com a voz irritada. — Por que Willow sempre te trata de forma especial? Tenho duas origens, sou forte, bonita, inteligente e perfeita, então por que não consigo a mesma atenção que você?

Justamente por isso! — dei razão a ela para ver se aliviava um pouco do ressentimento que ela emanava. — Eu sou boba, ingênua e atrapalhada. É normal que as mães deem mais atenção aos filhos que não conseguem andar com as próprias pernas ainda.

E ainda assim você conseguiu o melhor palco da cidade, conseguiu toda a atenção que deveria ser para mim — reclamou.

Se está assim porque não te chamei para se apresentar comigo, posso corrigir isso ainda. Na próxima, podemos nos apresentar juntas! — sugeri amigavelmente. Eu não conseguia confiar em Molly! Desde o começo, achava sua energia muito perturbadora, por isso preferia evitá-la.

Não vai ter próxima vez! — gritou enraivecida. Senti sua intenção de ataque e, prevendo sua próxima magia, desviei-me a tempo de ser atingida por uma bola de fogo. Infelizmente, minha comida já era, e isso me deixou de mau humor.

Molly, você não quer brigar comigo. Não teme o que a mãe fará com você? — perguntei enquanto me desviava de outro ataque.

A mãe não está. Ninguém virá te socorrer! — disse ela maliciosamente. Ampliei o alcance da minha visão espiritual e notei que havia duas bruxas não muito longe, de guarda para impedir que qualquer um se aproximasse.

Com quem você está se envolvendo? — perguntei ao perceber que eu não conhecia a energia de nenhuma delas. Tais bruxas provavelmente não pertenciam ao palácio e todas tinham a mesma energia ruim que Molly estava emanando.

Se Willow te deu brincos com inscrições de proteção e resistência mental tão poderosos, é porque vocês estão escondendo alguma coisa. Seja o que for, eu vou descobrir o que é! — disse a garota, concentrando muita energia em uma magia de explosão.

Corri até a mesa mais próxima, derrubei-a no chão e me escondi atrás dela enquanto inseria uma inscrição rápida de resistência ao fogo. Assim que o fogo começou a tomar conta de tudo, projetei um escudo com magia de luz à minha volta e, aproveitando a falta de visibilidade que o fogo gerava, fiquei invisível, mantendo meu escudo e me reposicionando mais próximo a Molly. Ela tinha um sorriso sinistro no rosto enquanto se aproximava da mesa e mantinha sua magia ativa, achando que eu estava sendo tostada ali atrás.

Uma pena... — sussurrei enquanto lhe acertava um forte golpe na nuca, fazendo-a desmaiar. Como minha energia mágica era muito mais poderosa que a dela, selei sua consciência, deixando-a em coma induzido e me movi em direção às outras invasoras.

"Merda!", pensei ao sentir Agnes correndo na direção do perigo sem saber. Parece ter ouvido algo estranho e veio averiguar. Desfiz minha invisibilidade antes de sair da cozinha e corri a passos rápidos em direção a ela.

Agnes, corre! — gritei quando ela estava prestes a virar o corredor e ser pega por uma magia. A bruxa que estava em prontidão esperando Agnes se assustou com a minha voz e se virou para mim. Ela estava completamente coberta dos pés à cabeça com uma roupa verde escura, e só o que se via eram seus olhos castanho-escuros. Mesmo sem ver sua marca, eu sabia por suas intenções que sua magia era do ar.

Prevendo sua magia, desviei-me das lâminas de vento e corri em sua direção. Bruxas eram tão confiantes com suas magias que tinham uma séria desvantagem para combate físico de curto alcance. É com isso que eu contava, mas fui surpreendida ao ver a forma veloz com que ela se desviou de mim.

Liz, o que está acontecendo? — perguntou Agnes, assustada ao encarar a batalha que se iniciara à sua frente.

Invasoras! Alerte as outras! — pedi. Agnes estava invocando uma magia de raio em sua mão direita no intuito de me ajudar, mas eu não precisava disso. Só queria ter certeza de que não havia mais invasoras espalhadas pelo palácio e que as demais irmãs ficariam bem.

Agnes, não interfira! Vá! — ordenei de forma imponente. — Pode haver mais delas por aqui. Eu cuido dessa!

Agnes assentiu e saiu correndo. A bruxa na minha frente estava muito brava, mas ao mesmo tempo confiante ao perceber sua aliada se aproximando por trás. Fingi que não havia percebido a energia da outra enquanto partia para cima da bruxa do ar. Ela era hábil e conseguia usar sua magia de vento não só à longa distância como também para impulsionar e agilizar movimentos físicos. Era extremamente bem treinada, mas nada com que meu poder de previsão de intenção não conseguisse lidar.

"É o seu fim!", pensei assim que ela saltou no ar. Ela parecia estar desviando do meu golpe, mas na verdade estava desviando do ataque de raio que vinha por trás de mim. Eu planejei cuidadosamente meu movimento para colocá-la onde eu queria, e ela caiu como uma amadora. Pegando-a no ar, joguei-a na minha frente, usando-a como escudo para bloquear o raio de me atingir.

Ops! Era para mim? — zombei enquanto a bruxa do ar caía inconsciente na minha frente após ser atingida por sua própria aliada.

A outra entrou em choque assim que percebeu o que fez. Claramente era mais jovem e inexperiente, e aproveitei-me de seus sentimentos, lançando uma poderosa magia espiritual contra ela para amplificar o que sentia e exacerbar o seu desespero. Isso a deixou paralisada, e, me movendo rapidamente até ela, a golpeei com força na cabeça.

Puxando as duas bruxas desacordadas até Molly, selei suas consciências e me coloquei de prontidão para o caso de haver mais delas vindo. O objetivo de mantê-las vivas era deixar que Willow invadisse suas mentes para procurar respostas sobre o que elas queriam comigo.

"Que fome!", reclamou Lisa. Resistir ao flagelo e ainda ter que lidar com essas pilantras me deixou sem energia. Assim que eu ia me agachar para me sentar, senti um grupo de bruxas correndo em minha direção. Felizmente, aliadas!

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora