Após me nomear, Willow criou uma história que eu deveria decorar. Para todos, a bruxa Liz seria apenas uma jovem e humilde aprendiz de origem espiritual e talentos promissores. Todos os anos, Willow escolhia a dedo uma aprendiz para compor sua família e, naquele ano, eu seria apresentada à casa como a bruxa de sua escolha. Assumir uma nova identidade era imprescindível para me esconder sem levantar desconfianças.
Willow me deixou na câmara de isolamento enquanto infundia novamente os selos mágicos de ocultação nos meus brincos. Ela me dera uma importante missão enquanto isso: materializar a minha origem de luz!
"Vem para mim, Preciosa!" Eu tentava de todas as formas encontrá-la dentro de mim. Sempre que achava que estava tendo avanços, percebia que a energia que estava conjurando era espiritual, não de luz. Se Lisa é o meu coração, então o que a Preciosa significa para mim?
Deitei-me sobre o tapete e fiquei olhando para o teto escuro, recordando-me de todos os momentos em que a Preciosa fez parte da minha vida. Se eu estava triste, eu a tocava; se estava com raiva, eu a tocava; se estava me sentindo solitária, eu a tocava. Não só nos maus momentos, mas também nas alegrias, ela estava comigo, dando vida às minhas emoções. Preciosa não era só uma válvula de escape para sentimentos confusos, mas uma balança que me permitia encontrar o equilíbrio emocional, mental e espiritual. Ela era a conexão, a ponte entre todas as partes que fazem parte de mim.
— Eu te sinto! — disse elevando a mão. Uma luz radiante saía por ela. Minha mão não era só a fonte da luz, mas a própria luz.
"É por isso que não fomos vistas quando saímos", comentei com Lisa, lembrando-me do que William dissera sobre os guardas de Lohan não terem me visto passar. Eu também podia apostar que a alta velocidade com que me movi entre os lugares é um poder advindo da minha magia de luz.
Enquanto a energia da Preciosa fluía em mim, sentei-me e imaginei-a em meus braços, em sua forma original. Lágrimas transbordaram de meus olhos ao vê-la se materializar na minha frente, mas, diferente de sua cor natural, seu corpo era todo branco e luminoso.
— Que saudade! — falei rindo e chorando ao mesmo tempo, enquanto dedilhava as cordas. Estavam afinadíssimas, com um som mais impressionante do que qualquer violão de marca.
Toquei-a por muito tempo, até meus dedos se cansarem e meu corpo não suportar mais se sustentar. Assim que Willow entrou na sala novamente, questionei-a sobre a Preciosa.
— Consegui materializar minha origem de luz, como você falou, mas não entendo uma coisa. Como o meu instrumento ganhou corpo completo? Minha avó o destroçou, deixando-o em pedaços. Minha origem não deveria ter sido afetada?
— O receptáculo é material, mas a energia devocional não. Ela não se quebra, apenas se redireciona e se concentra em outra parte de sua escolha. Um mero fragmento basta para a solidificação do núcleo, e após isso ele se reconstrói. Minha origem de trevas também é assim: apenas um pequeno fragmento do primeiro trono real, o símbolo que se perpetuou por gerações por meio de uma tradição.
Quando Willow se aproximou, percebi que trazia consigo mais do que o meu par de brincos. Em suas mãos, havia um vestido vermelho escuro, de um modelo mais apropriado para uma bruxa. Ela me entregou o vestido, dando a entender que eu deveria vesti-lo.
— Acho que está um pouco apertado! — falei com ela. Estava bem justo ao meu corpo. Era comprido, com uma fenda lateral, mas pelo menos o decote era discreto.
— Essa será a sua cor — disse Willow, esboçando um sorriso que me deu arrepios. — É uma cor chamativa e elegante que combina perfeitamente com o seu perfil. Uma cor bem escolhida é parte da identidade de uma bruxa.
— Eu preciso mesmo ser chamativa? Não posso usar uma cor mais básica? Sei que essa coisa de sedução faz parte das bruxas, mas não vejo por que fazer isso. Eu já tenho o meu companheiro!
— Isso vai depender de quanto tempo vai querer passar por aqui. — Indiretamente, ela estava dizendo que a forma como me visto interfere no meu aprendizado. Isso não fazia o menor sentido para mim.
— Liz, você sabe o que é a devoção? Você sabe a importância que ela tem no desenvolvimento, estabilização e evolução de suas origens?
— Não faço ideia! — respondi com sinceridade. Eu sabia o quanto é importante para um alfa ter isso, mas o motivo pelo qual a devoção é tão importante e por que todas as bruxas precisam coletá-la ainda era desconhecido para mim. Willow soube resumir tudo muito bem.
No conceito de Celestria, devoção é um tipo de energia direcional que pode ser gerada por qualquer criatura viva, mágica ou não. Um pensamento, um sentimento ou mesmo uma atitude em relação a alguém envia um tipo de energia a essa pessoa, seja positiva ou negativa. Contudo, apenas criaturas mágicas podem armazenar e converter essa força.
Existem diferentes fontes de obtenção de devoção. Para um lobo, é o poder que vem da lealdade; para as bruxas, vem, principalmente, da admiração. Sempre que uma pessoa admira algo produzido por uma bruxa ou a própria bruxa em si, ela emite a energia devocional e esta é coletada pelo receptáculo.
— Todo tipo de arma é válido para se obter a admiração, até mesmo o próprio corpo — disse Willow. — Sempre que alguém admira a sua beleza, por exemplo, você recebe devoção, e é por isso que a forma como nos vestimos e nos apresentamos importa tanto.
O que para outros povos pode ser opcional, para as bruxas é uma necessidade em todas as fases de sua vida. Desde o nascimento, a bruxa é treinada para desenvolver um talento que precisará usar enquanto cresce, para coletar um mínimo de energia se quiser desenvolver suas origens, bem como os próprios poderes. Para mim, a proficiência se deu na música.
Por volta dos dezesseis anos, o receptáculo redireciona toda a devoção coletada para a estruturação da origem, também chamado de o despertar da bruxa. É também a idade pela qual as bruxas passam pela provação. O objetivo é solidificar a origem para que sua forma final se complete. Mesmo após a solidificação, a coleta de devoção é necessária para estabilizar e evoluir o núcleo. Quanto mais devoção, mais forte a origem se torna, bem como os poderes mágicos advindos dela.
Caso uma bruxa não tenha o mínimo de devoção até os dezoito anos para se provar, o receptáculo não é capaz de completar a formação da origem e começa a se desfazer. Enquanto se desfaz, a bruxa é acometida por sérios distúrbios e acaba encontrando a morte antes dos dezenove. O mesmo vale para o oposto, como foi o meu caso. Se devoção demais for coletada e a origem não se solidificar a tempo pela provação, a bruxa passa pelos mesmos sintomas e acaba encontrando o mesmo fim de quem não coletou devoção suficiente.
Willow colocou os brincos na minha mão e me explicou o motivo pelo qual o brinco ficava preso a mim, mesmo quando eu tomava forma de lobo. Uma inscrição mágica inserida no pino provoca um travamento por magia que somente sai se houver o desejo de tirá-lo.
— Eu mudei a inscrição e agora somente você poderá colocá-lo ou tirá-lo. Eles continuarão te escondendo ao mesmo tempo que ocultam o seu real poder.
Bruxas têm uma sensibilidade natural a energias e forças. Para não chamar a atenção, esconder a minha força era o mínimo, mas isso de nada adiantaria se outras bruxas psíquicas pudessem ler a minha mente.
— Esses brincos também vão me proteger de leitura de mente? — Eu realmente queria essa privacidade.
— Principalmente disso — confirmou ela, sorrindo. Coloquei o acessório na mesma hora. Eu definitivamente não os tiraria tão cedo.
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Destino: O Rei Amaldiçoado
WerewolfLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...