Capítulo 140

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Visão de Eliza

Lohan se recusava a me aceitar porque eu sou uma bruxa. Sentia-me muito sozinha e estava com saudades da minha loba. Peguei a Preciosa e comecei a dedilhar algumas músicas, buscando alívio para o meu coração ferido. O meu tempo estava se esgotando e a festa dessa noite seria a penúltima antes da lua cheia. Eu não conseguia pensar claramente numa forma de convencer Lohan a se deitar comigo antes disso e começava a duvidar de que seria possível.

Continuei tocando e cantando, deixando as emoções ruins fluírem para longe de mim. Eu precisava colocar a cabeça no lugar e manter as esperanças enquanto formulava um novo plano. Talvez, se eu mostrasse a ele mais sobre mim, talvez se eu revelasse algo...

"Definitivamente não!", pensei seriamente. Ele não podia me querer completamente. Se ele me levasse completamente a sério, isso não funcionaria. Mantive meus dedos trabalhando na minha música enquanto recordava de todas as vezes que fui à cachoeira, de quando Lohan era só o meu senhor misterioso, de quem eu não conhecia nem a voz nem o rosto. Naquela época eu não fazia ideia do quanto a minha vida mudaria.

Dentro de mim, um sentimento doce brotou, uma esperança de que, se alguém sem rosto de um mundo diferente do meu veio a se tornar o meu companheiro, um lobo teimoso poderia gostar de uma bruxa. O que era mais difícil, afinal? Em meio aos meus devaneios, uma melodia suave brotou de meus lábios:

— Quando me aproximo, meu coração dispara

Às vezes penso que enlouqueci

Mesmo que eu não te veja, sinto o teu olhar...

Enquanto eu cantava a música que fiz para o meu amado, a porta do meu quarto se abriu bruscamente. Além de mim, apenas Willow conseguiria entrar, mas ela jamais apareceria de forma tão brusca. Olhei para o homem que se aproximava com ferocidade de mim. O que Lohan estava fazendo aqui? Por que estava aqui? Como conseguiu entrar? Os olhos dele estavam tomados de raiva quando agarrou o meu braço e o apertou.

— Como você conhece esse idioma? — perguntou ele na língua do mundo de onde vim. Ele estava do lado de fora me ouvindo? Senti-me petrificada.

— Lohan, me solta! Está me machucando! — choraminguei, tentando me livrar do aperto dele. Se continuasse assim, ia acabar quebrando o meu braço. — Lohan, por favor!

— Então me responde, como conhece esse idioma? — perguntou mais uma vez com ferocidade.

— Me solta que eu te digo. Prometo! — Ele afrouxou os dedos e corri até a porta do quarto, fechando-a rapidamente antes que alguma irmã percebesse a comoção.

— E então? — Em um segundo, ele se colocou atrás de mim. Sua voz era muito ameaçadora e senti calafrios ao ler seu espírito e perceber que estava disposto a me machucar para arrancar a verdade.

— Como não conheceria? Todas as escolas de Éldrim o ensinam — sussurrei, mantendo a cabeça baixa. Pelo menos eu tinha uma história compatível com o que minhas irmãs sabiam. Se ele procurasse respostas com outra, a história coincidiria.

— Está me dizendo que cresceu em Éldrim? — perguntou-me em um tom ainda mais feroz.

— Eu cresci no meio dos lobos, achando que eu era um lobo. — Eu não conseguia mentir fácil, não para ele. Ao mesmo tempo, precisava ter cuidado com as informações que transmitia. — Eu somente vim para Aradia quando Willow foi me buscar.

— Quem são seus pais? De que clã você veio? — perguntou-me, insistindo nessa questão. Decidi me calar, mas ele não aceitou isso muito bem.

— Liz, você está surda? — Ele me jogou contra a parede e me imobilizou. Ele queria me assustar, ele queria me machucar de verdade. Eu sentia isso emanando dele. Fechei meus olhos a tempo quando percebi suas intenções. Ele ergueu meu queixo de forma rude. — Abra seus olhos!

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora