Senti-me entre a cruz e a espada. Eu não queria qualquer contato físico com um estranho, mas, de fato, o corpo dele parecia ser como um bloco de gelo muito atrativo. O contato me trouxe alívio e consegui relaxar um pouco.
— Por que está fazendo isso por mim? — perguntei-lhe com a voz baixa. O que ele ganha com isso? Nós mal nos conhecíamos, e ele, sendo quem é, não tinha por que se preocupar dessa forma com uma mera bruxa.
— Eu não sei. Só sinto que você é maior do que meus olhos podem enxergar e isso me deixa intrigado — respondeu-me com sinceridade. — Liz, você poderia me dizer qual o elemento do seu instrumento?
— Como? — Seu questionamento me pegou completamente de surpresa. Nenhuma de minhas irmãs sabia que o meu instrumento é uma origem, então como ele poderia saber?
— Seu instrumento tem uma energia muito poderosa. Não importa o quanto queira escondê-lo, elfos possuem uma sensibilidade forte a energias elementais.
— Elfos ou o rei dos elfos? — resmunguei, inquieta, tentando desviar o assunto. Minha inscrição de ocultação era poderosa e somente quem fosse mais poderoso que a minha inscrição conseguiria ver o que há por detrás dela.
— Liz, então você sabe quem eu sou... — Ele parecia tão atordoado quanto eu estava até momentos atrás. — Willow te contou?
— Ela precisa? Bruxas são sensitivas a energia e a sua é forte demais para um elfo comum. Tenho boas referências para poder afirmar que você vem de uma família real.
— E sabendo disso, não vai tentar me seduzir? — Ele estava tão desnorteado com isso que até deixou de lado sua curiosidade quanto à minha origem.
— Absolutamente não. Achei que já tivesse deixado clara a minha forma de pensar.
— Para mim, uma bruxa falar que acredita no amor é o mesmo que um vampiro falar que vai se tornar vegetariano. É uma filosofia que sempre morre antes mesmo de dar certo.
— Acho que posso me dar ao luxo disso — falei confiante. Primeiro, porque também sou uma loba, e segundo, porque já tenho tanta devoção que a sedução não me faz falta.
— Eu nunca me envolvo com bruxas, mas e se eu lhe disser que estou disposto a abrir uma exceção para você? — questionou-me ele, enquanto uma nova onda de queimação se iniciava. Dada a situação em que eu estava, a proposta era tentadora demais! — Ouvi dizer que a devoção de um rei vale muito mais.
— Não, obrigada! — Tentei me manter firme. Se não fosse a ajuda de Lisa e sua insatisfação quanto ao contato de Galadriel, não sei se conseguiria negar isso tão fácil, não com meu corpo ardendo por um desejo insano por causa dessa porcaria de flagelo. — Vou vencer as doze luas e provar a todos que nós, bruxas, não precisamos seduzir para sermos completas.
Galadriel não respondeu a isso. Na verdade, o silêncio se perpetuou até o amanhecer. Sempre que eu me contorcia de dor, Galadriel me abraçava mais forte, e chegou a um ponto em que acabei me agarrando a ele para me refrescar, feito filhote de panda. Isso foi muito constrangedor.
— Sinto muito! — fui a primeira a voltar a falar, assim que os sintomas começaram a passar, sinal de que o dia estava clareando. Soltei-o imediatamente e, colocando-me de pé, observei o estado dele. As roupas estavam completamente encharcadas com o meu suor, mas seu semblante continuava sereno, como se não se importasse que eu o tivesse sujado dessa forma.
— Não sinta! A iniciativa veio de mim.
— Neste caso, muito obrigada! Por tudo! — Por ter dado um jeito naqueles vampiros inconvenientes, por ter me protegido do perigo e por ter se rebaixado a ser o bloco de gelo refrescante para uma simples bruxa desconhecida como eu. Eu queria oferecer a ele a minha gratidão, fazer promessas de que iria recompensá-lo por sua gentileza um dia, mas se tem uma coisa que aprendi nessa história toda, é a não abrir a minha boca.
Todas as decisões partiram dele, em nenhum momento pedi por nada, então não tinha por que eu me sentir em dívida com ele. Em meu mundo, muitas pessoas pagariam caro por uma chance de serem abraçadas por mim, e, com esse pensamento, decidi deixar tudo por isso mesmo.
— Você não precisa ir agora — disse ele, vendo-me pegar a Preciosa e colocá-la nas minhas costas. — Coma comigo primeiro para recobrar suas forças.
— Agradeço, mas tudo o que preciso agora é da minha cama e de umas boas horas de sono.
Galadriel não tentou forçar nada. Olhando-me de forma calma, levantou-se e caminhou até a porta, destravando-a com sua senha mágica. Assim que eu ia sair, ele bloqueou a passagem com o braço, fazendo-me olhar novamente para ele. Senti arrepios quando percebi, por sua energia, que ele tinha um desejo claro de me beijar. Reprimindo suas intenções, ele não o tentou fazer; em vez disso, de sua boca saiu mais uma proposta extremamente tentadora.
— Liz, se quiser minha ajuda, posso te abraçar nas próximas luas para aliviar seus flagelos, até que isso acabe.
— E o que quer em troca? — perguntei curiosa. Dificilmente alguém fazia favores assim a troco de nada.
— De você ficar bem. Apenas isso! — respondeu-me sucintamente. A sinceridade em sua energia era convidativa, e se não fosse o lampejo de desejo que vislumbrei até um momento atrás, talvez eu o tivesse considerado.
— Galadriel, eu te agradeço, só que depois do perigo que passei nesse lugar, não pretendo voltar. Para o meu próprio bem, vou me isolar em meu quarto nas próximas vezes. — Saí do cômodo passando por debaixo do braço dele e decidi tomar meu rumo. — Estou indo agora. Foi realmente um prazer conhecê-lo!
— Igualmente! Tenha cuidado! — Ele fechou a porta novamente assim que saí, como se quisesse me impedir de enxergar os sentimentos dentro dele. Por um instante, ele havia se sentido muito incomodado com a minha resposta, mas no segundo seguinte, pareceu ter ficado imensamente satisfeito, como se tivesse mudado de ideia e visto que era melhor assim.
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Destino: O Rei Amaldiçoado
WerewolfLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...