Coloquei as pedrinhas que recebi dentro da minha caixa e acompanhei Eulina de perto. Doralice se despediu de nós assim que adentramos a vila e seguiu por outro caminho. Diferente de Luríon, as casas da vila eram predominantemente feitas de pedra. Poucas eram as árvores com habitações nas raízes e galhos.
A estrada principal era imensamente larga, com muitas barracas em fase final de montagem nas laterais. Eulina parecia muito popular. Muitas pessoas a cumprimentavam e puxavam assunto com ela pelo caminho.
Para ser sincera, eu não estava muito atenta ao que acontecia ao meu redor. Estava concentrada demais enquanto raciocinava sobre como vim parar neste lugar. Alguns clãs mais à frente e eu já estaria nas fronteiras do território dos monstros. Por quanto tempo eu estava perambulando perdida naquele estado? Para onde eu estava indo exatamente?
Respirei profundamente enquanto tirava meus brincos. Por algum motivo, eu estava indo em direção ao Devorador e isso era muito perigoso. Não conseguia não me perguntar se isso tinha algo a ver com a minha profecia.
"Companheiro, me encontre!", implorei dentro de mim enquanto guardava os brincos na caixa. Eu estava com muito medo por não entender o que estava acontecendo comigo e muito aflita imaginando o quanto Lohan deveria estar preocupado com o meu desaparecimento. Eu precisava de ajuda!
— Por que segura isso com tanta força? Tem algum tesouro escondido dentro? — perguntou-me Eulina com a voz brincalhona.
— Sim, é o meu maior tesouro. Mas são apenas coisas sentimentais, nada de muito valor material — respondi. — Parece que você é bem popular.
— É porque sou a irmã mais nova do alfa — respondeu-me enquanto adentrava uma grande caverna. Surpreendentemente, dentro da caverna havia dezenas de moradias cavadas nas rochas. — Bem-vinda à minha casa!
Eulina abriu a porta de uma das moradias mais próximas à entrada da caverna. Assenti agradecida enquanto adentrava na casa dela. A sala era surpreendentemente grande. O cheiro de comida no ar foi o que mais chamou minha atenção.
— Yslara, venha aqui um instante! — chamou Eulina. Logo uma jovem apareceu. Seu rosto era meigo, seus cabelos eram longos e claros, seus olhos azuis e sua pele clara. — Quero que conheça a Eliza. Ela ficará aqui em casa por alguns dias. Eliza, essa garota é a Yslara. Ela perdeu os pais em uma epidemia que assolou o clã há alguns anos, e eu a adotei.
— Oi, Eliza! — A voz da garota era tão meiga quanto o seu perfil juvenil. O sorriso dela era tímido, e pelas roupas que vestia, eu podia dizer que ainda não tinha sua loba.
— É um prazer conhecê-la — esbocei um sorriso sincero.
— Fazendo mexido de garango? Alguma ocasião especial? — perguntou Eulina. Fiquei cética quanto ao que ouvi. Esse cheiro tão bom era daquele bichinho nojento?
— Parece que temos uma convidada especial de Luríon, então fomos convidadas a comer na casa principal hoje. Vou levar mexido de garango a pedido do seu avô.
— Será que é quem estou pensando? — perguntou Eulina. Yslara sorriu em confirmação. — Oh, levarei Eliza conosco. Talvez elas se conheçam!
— Não conheço muitas pessoas. De quem estamos falando exatamente? — perguntei, intrigada.
— Fiona Mellin, bisneta do alfa de Luríon — explicou Eulina. — Ela é a representante oficial de Luríon em todos os principais eventos de Éldrim, e seu nome tem ainda mais prestígio devido à boa relação que tem com o rei.
Boa relação com o rei, é? Eu estava especialmente curiosa agora em saber quem é essa tal Fiona!
— Acho que a Eliza precisa de um banho antes de irmos — comentou Yslara ao ver o meu estado.
— Pode deixar que eu a ajudo! Termine o mexido enquanto isso — falou Eulina, gesticulando para que eu a seguisse.
A casa tinha uma ventilação bem escassa por conta das pouquíssimas janelas. Tirando a cozinha e o banheiro principal, os quartos não tinham janelas. A iluminação provinha toda das tochas mágicas, principal fonte de iluminação noturna desse mundo. Embora parecessem com fogo, não eram quentes. Eu podia colocar a mão nas chamas sem me queimar. Elas reagiam conforme a escuridão do ambiente. Quanto mais escuro, mais fortes eram, e em ambientes claros, elas praticamente se apagavam. Não eram alimentadas por combustível ou por energia, mas por runas mágicas inseridas nas bases que funcionavam como receptores da magia presente no ar. Os anões são os responsáveis por fundir as bases, e os elfos inserem as runas e comercializam o produto final.
— Você trouxe alguma roupa com você? — perguntou-me Eulina enquanto eu me despia para entrar debaixo da água.
— Não! Na verdade, não tenho quase nada comigo.
— Vou pegar algumas peças emprestadas de Yslara. Como vocês têm um tamanho parecido, acho que servirão em você.
— Muito obrigada! — Eu estava realmente grata por toda atenção que ela vinha me demonstrando. Ela estava me fornecendo todo o essencial de que eu precisava e ainda foi além. Ela se prontificou a levar minhas roupas para lavagem especial e, quando tentei lhe dar minhas duas pedrinhas como pagamento, ela não aceitou.
— Por que está fazendo tudo isso por mim? Você nem me conhece! — perguntei enquanto ela penteava meus cabelos e os trançava.
— Sempre quis ter filhos com o meu companheiro, mas não tive essa bênção — falou ela pesarosamente. — Meu companheiro faleceu há muitos anos e, com ele, o meu sonho de ser mãe. Sempre que vejo jovens como você e Yslara, penso em como seria bom se eu tivesse tido filhas e netas.
— Você teria sido uma ótima mãe! — falei sorrindo. Ela retribuiu o sorriso e deu uns tapinhas leves no meu ombro. Depois, acompanhei-a até a sala e me aproximei de Yslara, que estava de pé próxima à porta.
— Obrigada por ter me emprestado sua roupa! — agradeci a ela. A peça havia servido perfeitamente em mim. Era um vestido simples, de um cinza azulado com detalhes em branco nas bordas.
— Não foi nada! — disse ela em um tom gentil. Ela estava com um vestido um pouco mais comprido, de uma cor clara parecida com champanhe. Seu cabelo estava preso em um coque e as mãos estavam escondidas atrás de seu corpo enquanto seus olhos miravam o chão com timidez.
— Meu irmão está nos chamando — disse Eulina, como se tivesse acabado de receber uma mensagem telepática. — Yslara, ele quer que você toque para ele. Pegue o seu tilim e eu cuido de levar a comida!
Essa conversa prendera completamente a minha atenção, mas não tanto quanto os movimentos de Yslara. Quando ela retornou de seu quarto, tinha um objeto interessante na mão. Tratava-se do primeiro instrumento musical que vi desde que cheguei em Celestria.
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Destino: O Rei Amaldiçoado
Hombres LoboLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...