Capítulo 53

218 26 0
                                    


As palavras da sacerdotisa Ilysia afundaram em meu peito como uma pedra pesada caindo em águas profundas, descendo até o mais escuro abismo do oceano. Era como ouvir que eu deveria desistir da provação, que jamais conseguiria evoluir. Como poderia?

"Eu não sou forte o suficiente? Por que não posso ser uma loba completa?", choramingou Lisa, encolhendo-se dentro de mim. Ela estava arrasada!

Isso significa que ela jamais passará pela provação porque sua loba não tem potencial para isso? — perguntou um dos anciões. Senti um toque de malícia não só no tom de sua voz, mas também na sua energia. — Ela não é digna de se tornar rainha!

Essa escolha não pertence a você! — exclamou Lohan irritado. Ele observou tudo pacientemente, mas parece que até ele tinha limites.

Ela é fraca! Como se fará ser respeitada? — questionou Edward a Lohan.

Senti meus punhos se fechando, enquanto minhas garras escapavam de minha mão. Lisa estava simplesmente furiosa por ter sido chamada de fraca tantas vezes. Lisa era linda e forte, e eu não permitiria que ninguém ousasse humilhá-la na minha frente.

EU NÃO SOU FRACA! — rosnei furiosa. — Para começo de conversa, eu nunca pedi para ser rainha, e essa não é uma posição que me interessa! Só o que me importa é o meu companheiro, e a nossa relação pertence somente a mim e a ele!

Eliza, cale-se perante os anciões! — ordenou Lohan, com a autoridade do rei. A seriedade de sua voz e seus olhos acusadores me deixaram ainda mais irritada. Senti-me humilhada por seu comando e decidi que, se eu não podia falar, também não ficaria ali para ouvir tanta asneira. Na frente de todos, tomei a forma de lobo e fugi mas não consegui ir longe.

Assim que atravessei para fora, os guardas na entrada se colocaram em círculo ao meu redor, impedindo-me de ir adiante. Ameacei-os rosnando e mostrando os dentes, mas isso não os intimidou.

— Precisa nos acompanhar! — exclamou um deles para mim, como se tivesse acabado de receber ordens. Voltei à forma humana a contragosto. Por mais forte que eu pensasse ser, nunca conseguiria lidar com tantos deles.

— Para onde? — questionei.

— Por ordens do rei, você está presa por violação de código de conduta! — respondeu, colocando-se ao meu lado esquerdo. Eu estava atordoada demais para reagir. Meu companheiro ordenou minha prisão? Sério isso?

— Não dificulte as coisas ou teremos que ser rudes — disse o outro guarda que se posicionara à minha direita. Sentia-me minúscula perto deles, e a dor dentro de mim me diminuía ainda mais. Depois de tanta humilhação, a prisão foi a gota d'água.

Abaixei a cabeça e caminhei lentamente, escoltada pelos guardas ao longo dos corredores. Pensei que não tinha como ser pior que isso, mas estava enganada. Adentramos por um corredor escuro do lado oposto aos aposentos reais e senti que estávamos descendo ao subterrâneo. Abrindo a porta no final do corredor, fui empurrada rudemente para dentro e eles fecharam a porta atrás de mim.

— Escuro! — resmunguei. Eu não conseguia ver nada. Apurando os meus sentidos, aos poucos comecei a vislumbrar as dimensões do lugar. Não havia sequer uma cama para me deitar, ou um banheiro decente para fazer as necessidades. De um pequeno buraco no chão, subia um mau cheiro que tornava o ambiente sufocante.

"Como ele pôde fazer isso com a gente?", choramingou Lisa. Meu coração doía ainda mais do que o dela. Tomei a forma de lobo e me espremi em um dos cantos contra a parede. Dessa vez, era Lisa que teria que suportar minha dor. Eu era incapaz de aceitar o que estava acontecendo.

"Não vai, fica comigo! Não quero ficar sozinha!" Ela me implorava constantemente enquanto choramingava. Por mais que eu tentasse retrair minha consciência, ela não me permitia fazê-lo.

"Lisa, me perdoe!" Sentia que a culpa de estarmos aqui era minha. Eu deveria ter segurado minha língua, deveria ter suprimido meus impulsos. Lisa estava muito brava, mas o controle sempre pertenceu a mim, bem como as decisões finais.

À medida que as horas iam passando, minha esperança de sair dali se esvaiu. Minha barriga não parava de roncar e eu estava com sono. Permiti-me dormir um pouco, torcendo para que, quando acordasse, tudo não passasse de um pesadelo.

"Quando esse pesadelo vai acabar?", perguntou Lisa, enquanto eu me colocava de pé. Eu havia dormido por um longo tempo e estava sedenta. Movi-me em direção ao cheiro de comida. Uma bandeja com alimentos e água havia sido deixada perto da porta.

— EI! QUERO FALAR COM O REI! EI! — bati inúmeras vezes na porta enquanto gritava. Por mais que eu pedisse ou implorasse, ninguém me respondia.

Sentei-me frustrada com as costas contra a porta e puxei a bandeja para perto de mim. Permiti que as lágrimas descessem enquanto mastigava um pedaço de pão seco.

— Espero que não façam nada com meus pais... — sussurrei para mim mesma. Temia que minhas ações os comprometessem e que eles fossem punidos de alguma forma por minha causa. Eu geralmente suportava bem as coisas quando era comigo, mas, se fosse com alguém que amo, a história era completamente diferente. — Lohan, é melhor que você tenha uma boa justificativa!

Sentia-me ferida, magoada. Tantos dias sem vê-lo e, quando ele volta, me leva para uma armadilha, deixa que me humilhem e ainda por cima me joga em uma prisão como se eu fosse uma criminosa. Até os presos no meu mundo recebiam um tratamento mais digno e acomodações melhores.

Tomei umas boas goladas de água antes de puxar a energia de Lisa. Tive dificuldades em lidar com o meu choro e controlar minha respiração. Depois de várias tentativas frustradas, consegui alcançar o equilíbrio e ampliei minha percepção energética ao mesmo tempo que ativava minha visão espiritual. Não havia um único guarda por perto, nem nos corredores e nem acima de mim. Não é à toa que ninguém me respondia.

— Lohan... onde você me trancou?

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora