Destino: O Rei Amaldiçoado

Capítulo 83

Neste mundo, as bruxas têm predominância no que diz respeito a selos e inscrições mágicas. Quanto à porta, por exemplo, qualquer morador de Celestria, independente da raça, pode selar sua entrada contra intrusos. Para isso, basta comprar um carimbo mágico e fazer a inserção manual dos nomes. Para o carimbo funcionar, uma bruxa de grande poder inscreve uma magia para que ele sirva para tal finalidade. Quanto mais poderosa a magia inscrita no carimbo, mais forte e seguro é o selo e mais caro o objeto se torna.

— Nossa rainha, Willow, como uma bruxa das trevas, tem o poder de fazer pequenas maldições. Grande parte dos seus ganhos vem de suas poções amaldiçoadas, como poções de esquecimento, de alteração de memória, de sono, dentre várias outras. A outra parte de sua fortuna vem da venda de joias de proteção, como os brincos que você está usando. Essas joias são conhecidas como amuletos — continuou ela, mostrando-me que, se eu seguir por esse caminho, meu potencial de lucro será enorme.

Como Willow é a bruxa psíquica mais forte do reino, suas joias não só oferecem a maior proteção como também são as mais caras. Minhas magias, em específico, têm um potencial de valorização tremendamente maior. Proteção contra maldições com minha magia de luz, proteção contra espionagem e até mesmo a capacidade de confundir os sentidos, como o que Janet fez com o cheiro. Se eu realmente for ver o Lohan, confundir os sentidos dele me permitirá me aproximar ainda mais sem ser pega. Quanto mais eu ouvia sobre isso, mais vontade eu tinha de aprender.

— Não é algo fácil, e para quem não gosta de estudar, é chato. Mas, se você conseguir, vai valer a pena. Eu mesmo acabei desistindo e preferi fazer o que realmente gosto, que é design de moda e costura.

— Acho que vale a pena averiguar — respondi, pensativa. Mesmo se eu não gostar, precisava, no mínimo, dominar as magias mais úteis da área. — Agora, mudando um pouco de assunto, quero saber a verdade sobre a entrega da profecia.

Por mais eficaz que Janet fosse em levantar assuntos de interesse, eu não esqueceria dessa questão.

— Liz, te prometi que responderia tudo o que quisesse saber, mas não negociei os termos ainda. Quero uma coisa em troca.

— E o que seria? — Ergui uma sobrancelha. Eu deveria saber que isso não sairia de graça. Ela é uma bruxa, afinal...

— Quero saber sobre o outro mundo. Sempre tive curiosidade sobre isso. — Acabei soltando um riso descontraído. Bem quando eu estava começando a desconfiar, ela me vem com algo tão humano e simples.

— Fechado! — Estendi a mão para ela, mas ela não entendeu o gesto. — No outro mundo, trocamos apertos de mão quando cumprimentamos alguém, mas também quando fechamos um acordo. Não quer saber mais sobre o outro lado?

Janet sorriu e apertou minha mão, um símbolo para o começo oficial da nossa relação. Depois disso, ela me deu explicações básicas, começando por como funciona o recebimento de uma profecia. Basicamente, o sacerdote real responsável começa a receber sonhos constantes com uma mensagem. Esses sonhos só desaparecem quando a mensagem é escrita no pergaminho, e um símbolo de autenticação mágico vindo dos céus aparece assim que a última palavra profetizada é escrita. Este símbolo no pergaminho é provavelmente o motivo de Lohan ter confiado plenamente na autenticidade da profecia que recebeu.

— A forma de me colocar e tirar de lá foi toda elaborada minuciosamente por Willow. Não lembro de todos os detalhes, mas sei que, quando me aproximei, ele estava de joelhos, em lágrimas, sozinho, de frente ao túmulo de seus pais. Quando me aproximei, ele me olhou confuso, mas falei confiantemente que o sacrifício de Lucon não foi em vão, que a sua rainha surgirá. O rei dos lobos estava tão abalado com tudo que não percebeu quando foi pego na minha magia de confusão mental. Deixei o pergaminho nas mãos dele e corri de volta até Willow, que me retirou furtivamente de lá. Basicamente, foi isso!

— Como assim você usou magia de confusão mental? Você não era só uma criança?

— Sou chamada de a bruxa prodígio da minha geração. Minha mãe me usou como modelo para as suas criações, então acabei enchendo o receptáculo muito cedo. No momento em que o receptáculo se enche é quando a natureza da bruxa se firma, e desde que a natureza esteja definida já é possível usar magias. Minha vez de perguntar as coisas agora! Como é o outro mundo? O que o difere do nosso? Quais as coisas que você mais gostava do outro lado? Qual...

— Calma! — interrompi-a, rindo. Ela estava falando rápido demais. Considerando que ela também foi a primeira pessoa a me dar o toque de que não precisamos ter pressa, vê-la se afobando era cômico.

Comecei a lhe contar sobre o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no lugar da magia, exemplificando o uso tecnológico pelos clãs para auxiliar no combate a monstros durante invasões.

— Há algo que sempre tive curiosidade em saber sobre isso — disse ela, um pouco mais séria. — Como será que as criaturas que atravessam o Devorador continuam se movendo mesmo depois de mortas? Se elas se movem e possuem certa consciência estratégica, será que não estão vivas ainda? Não há alguma maneira de salvá-las?

— Estão mortas! — respondi assertivamente. — Sabemos disso porque elas não sangram, o coração delas não bate e a luz já lhes fugiu dos olhos. Elas são incapazes de se comunicar verbalmente e, em cada ação, só há desejo assassino, mostrando que lhes falta vontade própria.

— E sobre as outras coisas? — perguntou-me, um pouco hesitante sobre o que mais eu contaria. Decidi que deveria falar só sobre as coisas positivas agora.

Contei a ela sobre os lugares mais impressionantes que conheci e o que mais me encantava neles, além de explicar o funcionamento político e cultural. Também falei sobre o estilo de roupas usado pelos humanos e sobre o funcionamento das minhas lojas preferidas, algo que a interessou muito. Por último, compartilhei um pouco sobre a minha vida e minha profissão, enquanto fechava os olhos e me lembrava daqueles momentos preciosos.

— Eu adorava subir nos palcos, encher as multidões de euforia e também emocioná-las com minhas músicas — disse, elevando minha mão enquanto me recordava de todos aqueles sorrisos, imaginando o público à minha frente, ao alcance das minhas mãos. Isso me dava uma sensação de calma e alegria. Olhando para trás, vejo que tudo era tão mais simples naquela época...

— Liz, sua mão... — Abri meus olhos e notei um brilho envolvendo-a. Sentindo que conseguiria manipular a reflexão da luz em torno dela, concentrei-me um pouco mais, produzindo o efeito de invisibilidade que eu tanto queria aprender. Janet me olhou abismada enquanto esticava a mão dela em direção à minha. Quando ela a tocou, minha magia envolveu também a mão dela, produzindo o mesmo efeito, e acabamos rindo juntas. Tudo era somente uma ilusão!

"Oba!", gritou minha loba entusiasmada dentro de mim. Se Lisa estivesse na minha frente, estaria dançando freneticamente. Em meus sentimentos, encontrei a chave para finalmente desenvolver a minha magia de luz.