Capítulo 36

221 28 1
                                    


Eliza, finalmente te achei! — A voz de Yslara soou urgente atrás de mim. — Estava te procurando para te entregar o tilim. Eulina disse que você já pode ir se aquecendo no espaço reservado para os artistas.

Obrigada! — Assim que Yslara me entregou o instrumento, notou que eu estava acompanhada. Ela olhou curiosa para o homem à minha frente e resolvi tomar a iniciativa de apresentá-lo. — Yslara, esse é o meu amado companheiro. Ele veio de Luríon para me encontrar.

Prazer em conhecê-la! — disse Lohan a ela. Yslara não conseguia tirar os olhos do rosto dele.

Igualmente! Você tem muita sorte em ter a Eliza como companheira. Trate-a bem, viu? — disse Yslara em um tom mais sério. Esse negócio da minha marca dar uma imagem de que tenho um companheiro opressor era muito cômico.

Eu reconheço a minha sorte! Não se preocupe! Ela será tratada como uma rainha — respondeu Lohan, olhando fixamente para mim. Mordisquei meu lábio inferior enquanto tentava conter a vontade de rir.

Yslara, pode me mostrar o caminho? — pedi a ela. Não queria que ela continuasse encarando meu Lohan por mais tempo.

Claro! Por aqui! — Não consegui tirar os olhos de Lohan enquanto me afastava dele. Estava especialmente feliz por ele estar aqui para assistir ao meu show.

Yslara me fez entrar em uma pequena caverna na lateral da rocha que estruturava os fundos do palco. Havia um grupo conversando em roda no centro enquanto aguardavam a sua vez. Dois homens e uma mulher compunham o trio, todos com vestes predominantemente brancas com listras cinzas ou amarronzadas. Nenhum deles tinha a roupa toda branca como a minha. Procurei um canto mais isolado onde me sentei e comecei a repassar algumas músicas. O som do meu instrumento acabou atraindo a atenção deles.

Gostei do som — disse o homem mais baixo deles, se aproximando. — Posso me juntar a você?

Sem problemas... — falei timidamente. Ele pegou uma espécie de tambor e se aproximou. Enquanto eu tocava, ele começou a bater levemente em seu instrumento, fazendo uma batida suave para a minha música. Inesperadamente, os demais do grupo dele se aproximaram e se juntaram a mim.

Vocês são muito bons! — comentei animada. Eram como meus freelancers preferidos. Tinham um talento para acompanhar perfeitamente minha música só de ouvido.

Você também é! — comentou a garota. — Você quem compôs essas músicas?

Sim. Faz parte do meu ofício. Trabalho como cantora há alguns anos — respondi.

Então essas melodias têm letras? Adoraríamos ouvi-las! — comentou o rapaz do tambor.

E as pessoas gostam? É um estilo meio diferente do som que estamos acostumados — perguntou o outro rapaz do grupo.

De onde vim, minhas músicas fazem muito sucesso. Espero que aqui também façam! — comentei de forma simpática.

Ventos de Inverno, é a vez de vocês! — uma voz masculina chamou-os da entrada da caverna.

Vamos indo! — disse a garota cujo instrumento era similar a uma flauta.

Boa apresentação! — falei-lhes gentilmente enquanto os via partir. Eu seria a próxima a me apresentar. Aproveitei o momento em que estava sozinha para fazer um aquecimento vocal. Depois disso, fiquei de pé próximo à entrada, ouvindo o grupo Ventos de Inverno tocar.

O som era agradavelmente bom. Além das batidas, o rapaz do tambor soltava versos no meio da música, bem próximo ao tradicional rap. Era diferente, e isso me fez sorrir.

Que som mais sem graça! Como eles são tão populares no clã deles? — perguntou um homem ao outro, não tão longe de onde eu estava. Era a dupla que se apresentou antes dos Ventos de Inverno.

Ouvi dizer que se inspiraram em um grupo élfico — comentou o outro. — É tolice imitar outros povos quando temos um estilo próprio que nos define.

Suspirei fundo. Era normal que sempre houvesse pessoas para achar defeito no trabalho dos outros. Nem eu escapava de receber críticas, então podia esperar que minha apresentação dividisse opiniões.

Não precisei ser chamada. Aproximei-me do palco sozinha para assistir ao resto da apresentação mais de perto. Tive vontade de bater palmas quando terminaram, mas como ninguém parecia querer fazê-lo, pensei que talvez não fosse costume aqui.

Ei, podemos te acompanhar? — pediu o rapaz do tambor. Os outros olharam para mim, empolgados. Pareciam não querer sair do palco.

Não tenho como pagá-los por isso — respondi a ele.

Não nos importamos — disse a garota, se aproximando de mim. — Os benefícios de fazer parte do espetáculo são mais importantes.

Entendo! — assenti como consentimento. Eles eram talentosos o suficiente para me acompanharem, então o som ficaria incrível! Pareciam acreditar fortemente que aumentariam a própria popularidade se tocassem comigo. Não sei se atingiriam o que queriam, mas lhes garantiria que pelo menos não se arrependessem de fazê-lo.

"Vamos, Lisa!" Deixei que minha loba inundasse o meu espírito enquanto subia no palco e me posicionava. Sorrindo amigavelmente, encarei as multidões com confiança. Eram numerosos, mas em quantidade bem inferior do que em alguns estádios onde já me apresentei. Estavam distraídos, então chamei a atenção para mim com entusiasmo.

Oi, pessoal, sou a Lisa e estou aqui para animá-los essa noite! Minhas músicas são originais de minha autoria. Espero que curtam o meu som!

Comecei a marcar o tempo com os pés e fiz uma introdução com o tilim que atraiu olhares. Assim que soltei a voz, o povo que estava disperso foi se ajuntando e se aglomerando cada vez mais perto do palco.

Sorri animada para o grupo que me acompanhava. Eles pareciam ainda mais empolgados do que eu. Começaram tocando suavemente para não atrapalhar, mas rapidamente pegaram confiança. Mesmo sem microfone, me esforcei ao máximo para ser ouvida por todos. Tanto o clima quanto o formato circular da rocha atrás favoreciam a propagação do som, que, somado à excelente audição dos lobos, permitia que minha voz fosse ouvida a uma grande distância. Me sentia grata por isso e principalmente pela receptividade do público.

"Nosso Lohan está sorrindo para nós!", comentou Lisa. Eu o avistara de relance na lateral, não tão longe do palco. Lancei um beijo no ar em direção a ele antes de iniciar a próxima música. Embora eu não conseguisse fazer minhas coreografias enquanto tocava, fiz o máximo possível para mostrar a eles um pouco de dança também. Isso tornava o espetáculo muito mais emocionante.

— Mais um, mais um, mais um! — começaram a gritar numerosas pessoas assim que terminei o repertório. O alfa Zerich estava prestes a subir para tomar a palavra quando foi pego de surpresa com esse pedido. Ele não precisou me dizer nada. Eu podia ver em seus olhos que ele queria agradar ao público, então assenti para ele, tomei um pouco de água e depois brinquei um pouco com o público enquanto introduzia a próxima música.

Para mim, a próxima canção teria que ser a última. Eu já não conseguia cantar tão alto como no começo. Eu podia sentir o desgaste vocal por conta do esforço que eu precisava fazer para ser ouvida, e não havia muito o que fazer quanto a isso.

— Meu maravilhosopúblico, obrigada pela atenção! — Curvei-me em agradecimento antes de meretirar do palco. Sempre fazia isso após meus shows para honrar aqueles que meouviram com tanta atenção e me entregaram seu afeto, seus sorrisos e suaadmiração.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora