Quando a décima lua cheia chegou, os sintomas começaram a tomar conta de mim mais cedo do que o esperado. Antes mesmo de anoitecer, eu já estava me revirando de dor na cama.
— Que atenciosa! — murmurei ao ver Willow entrar em meu quarto. Não achei que ela fosse levar nossa aposta a sério, mas ali estava ela, se fazendo presente, pronta para me vigiar. Sentia que estava em um inferno de brasas, e minha consciência oscilava.
Eu queria muito perder a consciência de alguma forma e não sentir nada, mas soube que isso era impossível, a não ser pela própria morte. Do contrário, o flagelo age mantendo minha mente ativa e, além de suportá-lo, também teria que aguentar a dor latente de ser golpeada.
Se houvesse algo a se fazer ou qualquer forma de burlar o flagelo sem ceder à sedução, tenho certeza de que Willow me diria. Ela me olhava com pena enquanto enxugava meu suor.
— Seja forte! — disse-me Willow várias vezes, enquanto eu gritava e me contorcia. Muitas vezes achei que estava morrendo, mas a morte não chegava. Nunca, em toda a minha vida, pensei que passaria por esse tipo de tortura.
— Seja forte! — Willow continuou repetindo várias vezes, me lembrando do acordo que fizemos, não só na décima, como também na décima primeira lua cheia, quase um mês depois. Eu não conseguia parar de gritar enquanto chorava desesperadamente. A voz dela ecoava em minha cabeça em meio a um sofrimento ainda mais insuportável.
Willow tinha razão, eu queria morrer. Sempre que a sensação de que estava desfalecendo vinha, eu implorava por dentro que ela chegasse logo, para aliviar a tortura sem fim. Reprimi meus lábios inúmeras vezes, me recusando veementemente a dizer isso em voz alta.
Qualquer coisa era melhor que isso e por incontáveis vezes vacilei em meus princípios, desejando que qualquer macho me tocasse, só para isso acabar de uma vez por todas. Muitas vezes, durante o flagelo, me arrependi de não ter aceitado a proposta de Galadriel, e várias vezes duvidei de mim mesma. Se não fosse minha loba comigo, sofrendo junto e me lembrando de sermos fortes pelo nosso companheiro, não sei o que seria de mim.
— Filha, você conseguiu — disse-me Willow, acariciando meus cabelos molhados. Eu estava chorando desesperadamente. Os sintomas da décima primeira lua estavam cessando, mas a sensação torturante ficou gravada em cada uma das minhas células. Pensar que isso poderia ser ainda pior na próxima me levou ao desespero total.
— Mãe, eu vou te ouvir! Faço o que você quiser, mas por favor, não me deixe sofrer isso de novo! — implorei entre lágrimas. Eu jamais pediria a morte, mas estava desesperada demais, procurando uma outra saída. Eu provavelmente nunca mais iria querer admirar uma lua cheia em toda a minha vida.
— Vai mesmo fazer o que eu quiser? Vai mesmo seguir todas as minhas ordens e conselhos? — perguntou com a voz terna.
— Sim, mãe, eu prometo! — falei-lhe, as lágrimas não paravam de descer enquanto meu corpo cedia à exaustão.
Quando acordei, já era tarde da noite. A cada flagelo que eu tinha que suportar, eu acabava acordando mais tarde. Eu estava limpa, de roupas trocadas, e Willow estava sentada ao meu lado. Quando vi o seu olhar confiante, me lembrei de que, em um momento de fraqueza, fiz uma promessa a ela que não sabia se poderia cumprir.
— Precisa se hidratar — disse Willow, me entregando um copo de água fresca.
— Obrigada! — disse-lhe, aceitando o gesto. Enquanto eu bebia a água, fiquei esperando que ela se manifestasse, temendo que ela quisesse que eu resolvesse logo essa questão da sedução. No entanto, as palavras que ela me disse a seguir tocaram profundamente o meu coração.
— Darei a você a chance de seduzir o seu próprio companheiro, mas você precisa seguir o meu plano se quiser fazer isso dar certo. De vocês dois dependerá o sucesso do plano, e se falhar, me eximo de qualquer responsabilidade.
"Isso é realmente possível?", perguntou minha loba dentro de mim. Meu coração batia forte em meu peito enquanto Willow me contava sobre o seu perspicaz plano. Se isso desse certo, em breve eu estaria nos braços do meu companheiro e ele poderia me impedir de sofrer o último flagelo, o pior de todos.
— Filhas, daremos uma grande festa em nosso palácio! — anunciou Willow a todas as irmãs na manhã do dia seguinte. — Receberemos muitos convidados ilustres, então preciso da participação e apoio de todas.
Obviamente, todas vibraram de empolgação. De tempos em tempos, Willow gostava de dar grandes festas, e mesmo sem um motivo específico para tal, ninguém a questionou. Todas estavam mais preocupadas em saber o tipo de convidados que receberíamos e em ter a sua própria chance com cada um deles.
Muitas perguntas surgiram dentro de mim por causa do plano de Willow, e voltei a me questionar sobre as coisas que ela me dissera no começo de tudo. Se havia uma chance com Lohan, por que ela não me permitiu executá-la antes? Por que tive que sofrer o flagelo de onze luas cheias antes de ela me dar essa chance?
Desconfiada, decidi estudar por conta própria sobre os flagelos e, com a ajuda de Agnes, encontrei um livro velho e empoeirado em um canto esquecido da biblioteca que tratava sobre o assunto. As páginas antigas revelaram segredos sobre a estabilização das origens que, até então, eu não tinha prestado a devida atenção.
"Origens instáveis só oferecem risco ao próprio usuário." Assim que li isso, me senti traída e enganada por Willow. Se isso é verdade, então por que Willow me disse que o meu companheiro estava em risco?
Senti raiva enquanto continuava lendo sobre os flagelos, pois achava que minha magia instável era o motivo de eu ter que ficar longe de Lohan. Ela me fez guardar segredo dele, me fez ficar longe dele quando eu podia simplesmente ter aliviado os sintomas com ele para reduzir a tortura e agonia. Mais do que nunca, eu queria chegar até o final do livro para ter uma base para confrontar Willow.
Minha visão mudou horas depois, quando cheguei à parte chave. Fascientum, assim é o nome dado ao último flagelo. O flagelo final é um golpe extremamente cruel e não pude deixar de chorar enquanto, finalmente, compreendia os motivos de Willow.
— Willow, você é mesmo gentil... — sussurrei comigo mesma, recordando de cada palavra dela, cada gesto e de como ela escrevera o meu caminho até esse momento.
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Destino: O Rei Amaldiçoado
Lupi mannariLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...