Capítulo 14

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Passei algum tempo diante do espelho, admirando os detalhes do lindo vestido que recebi pela manhã. Era longo e elegante, com uma costura muito delicada. Ainda era um pouco estranho usar roupas sempre da mesma cor. Sentia que nunca me acostumaria com isso.

— Um vestido especial para uma ocasião especial — disse ele, envolvendo-me com seus braços. — Parece uma rainha!

— Bem, não posso dizer que você se parece com um rei porque você já é um. — Virei-me para ele e olhei em seus olhos. — O mais lindo de todos, meu amor!

O primeiro objetivo que Lohan me impôs eu já havia conquistado: o domínio do idioma mágico. Com isso, falar ou não no idioma celestriano se tornou opcional. Com a primeira meta cumprida, Lohan definiu que já era hora de me apresentar oficialmente ao conselho como a sua companheira. Eu estava tão ansiosa com isso que mal consegui dormir.

Caminhei de mãos dadas com Lohan, atravessando por uma das portas proibidas para mim. Um grande corredor nos levou a um grande pátio central. No meio do pátio, uma torre circular ligeiramente mais baixa do que a construção que a cercava atraiu minha atenção. Era para lá que estávamos indo.

O caminho em direção à entrada estava cercado por guardas em ambos os lados, formando um corredor vivo. À medida que Lohan e eu passávamos, eles se ajoelhavam. Estranhamente, ao final do corredor, nos deparamos com uma parede.

— Não vai me dizer que a porta está do lado de dentro?

— Não há porta dessa vez! — disse-me ele, puxando-me com ele através da parede. — Sistema de inscrição mágico. Apenas os nomes impressos no quadro estão permitidos a atravessar.

Ele apontou para uma tabuleta de pedra fixada na parede por onde passamos. Além da data de hoje, uma série de nomes que comporiam a reunião. Passei os olhos pela lista. Dos sessenta nomes inscritos, um em especial me chamou a atenção.

— Willow? A rainha das bruxas está aqui?

— Meu avô a convidou — explicou-me ele com o semblante sério. — Willow tem uma amizade peculiar com ele e uma curiosidade muito grande a seu respeito.

— Por quê? — Tirando o fato de que me tornei a companheira predestinada de um rei, eu não tinha mais nada de especial.

— Você é muito mais especial do que acredita. Acho que já está na hora de você saber a verdade sobre mim — disse-me Lohan, atraindo meu olhar para ele.

— É algo mais sobre a profecia? — A separação entre mundos fazia com que companheiros predestinados surgissem apenas no mundo ao qual se pertence. Sempre me perguntei por que Lohan e eu éramos a única exceção, um elo surgido entre mundos diferentes.

— Ela ainda não sabe sobre o rei amaldiçoado? — disse uma voz grave, não muito longe de nós. Lohan abaixou a cabeça e se calou diante da presença que se aproximava.

— Rei amaldiçoado? — Essas palavras me fizeram olhar para aquele homem. Ele parecia ter a mesma idade do meu pai, mas sabendo que neste mundo as aparências enganam, procurei por outros traços que pudessem evidenciar sua identidade. — Você é o avô do Lohan?

Lohan e ele tinham alguns traços e características faciais similares. Os cabelos do homem eram mais claros e seus olhos castanho-claros, bem diferentes dos olhos negros de Lohan. Pela postura imponente e autoritária, e pelo fato de Lohan ter abaixado o olhar, supus que ele fosse um ancestral.

— A criança é esperta. — O homem sorriu de leve. — Sou Edward Black. Estou intrigado ao perceber que meu neto ainda não lhe contou sobre a sua maldição.

— Cale-se! — rosnou Lohan.

— É justo que ela saiba onde está pisando. Pobre criança, deve pensar que todos a estão evitando, quando na verdade todos fogem é do rei. Até quando pretende esconder a verdade?

— O que quer dizer? — Voltei-me para Edward, mas Lohan bloqueou meu caminho. Ele parecia apavorado com a ideia de eu descobrir a verdade, talvez por medo do que eu pensaria dele. — Lohan, eu quero saber!

Embora claramente perturbado, Lohan não me impediu quando o contornei para me aproximar de Edward.

— Senhor, — fiz uma reverência educada, conforme fui instruída anteriormente sobre como me portar diante dos anciões — não quero ser rude, mas apenas me conte a verdade se estiver bem-intencionado.

— Criança, tudo o que faço é pelo bem da minha família e de Éldrim. Se você está relacionada à profecia sobre o fim do Devorador e da maldição de Lohan, é imprescindível que conheça seu papel.

Meu papel? Senti um aperto no coração, não apenas por saber que meu companheiro é amaldiçoado, mas também por sentir o peso que Lohan vinha carregando recair sobre meus ombros. Como futura rainha, deveria assumir a responsabilidade em torno do Devorador, e eu não havia percebido isso até ouvir as palavras de Edward.

Qual é a maldição do meu companheiro? — perguntei. No momento, era tudo o que eu queria saber. — Por que você disse que todos fogem do rei?

Venha! Você logo descobrirá! — respondeu Edward. Segui-o prontamente, e Lohan não teve escolha a não ser nos seguir de perto. Lohan ficou ao meu lado e eu segurei sua mão. Estava fria, e eu podia sentir que ele estava abalado.

— Não importa o que seja, eu sempre vou te amar da mesma forma! — falei-lhe gentilmente. Se seus medos eram sobre como eu reagiria ao saber, quis assegurar-lhe que não havia motivo para preocupação. Seus olhos encontraram os meus por um instante e ele sorriu suavemente.

Logo adiante, entramos no centro da torre. Diante de mim estava uma estrutura circular impressionante, em que cada detalhe era elegante e bem trabalhado, revelando a importância do lugar. Dividida em seis patamares, cada patamar continha nove tronos. Ao todo, cinquenta e quatro lobos compunham o chamado "Conselho dos Anciões".

Edward caminhou até um dos tronos no térreo, sentando-se ao lado de um homem de cabelos grisalhos e pele levemente enrugada. Ao lado dele, um senhor distinto me olhava com atenção. Seus longos cabelos brancos desciam quase até o chão. Sua avançada idade não era tão notável quanto pensei que seria, já que seu porte físico estava longe de ser tão frágil quanto o de um idoso em meu mundo.

Havia três guardas imponentes posicionados atrás dos tronos. Aproximei-me amistosamente, prestando reverência diante desses homens que um dia já foram reis.

Desejo bênçãos dos céus e sabedoria elevada a todos os anciões! — falei respeitosamente no idioma celestriano.

Levanta-te! — ordenou o ancião que julguei ser o tataravô de Lohan. Acatei, e Lohan se aproximou, ficando ao meu lado. Lá dentro, ele olhava para o chão, e eu não conseguia entender por que, mesmo sendo o rei, ele tinha que fazer isso.

Devo olhar para o chão também? — perguntei a ele, confusa com esse gesto. Ele não me instruíra a isso.

Não será necessário! — respondeu Edward. — Apenas Lohan pode nos intimidar, então apenas ele deve baixar o olhar em nossa presença.

Intimidar? Será que isso está ligado ao poder que ele tem como o atual rei? Não, algo me dizia que finalmente descobriria qual é a sua maldição.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora