Capítulo 56

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Tomei um banho longo e demorado em meu quarto. A sensação de estar limpa e cheirosa era muito boa! Enquanto passava o creme hidratante na minha pele, não conseguia tirar da cabeça os últimos acontecimentos. Por qual motivo Edward queria me fazer acreditar que Fiona é o amor de Lohan? O que ele ganharia com isso?

Vesti-me, penteei meus cabelos fazendo um penteado um pouco mais elaborado e comecei a passar maquiagem. Minha mãe me dera um bom presente, pois essas coisas me ajudavam a me sentir mais segura de mim. Eu era bonita e não perdia para Fiona em nada. Senti a energia de Lohan se aproximar da porta e sorri enquanto retocava o batom.

— Companheira, eu... — Ele ficou mudo assim que viu a forma como eu me produzira para ele.

— O jantar, certo? Vamos! — Essa percepção de intenção era uma arma e tanto. Aproximei-me do meu companheiro e estiquei meus pés, aproximando meu rosto do dele. Em vez de beijá-lo diretamente, apenas sorri e recuei. Minha intenção era só provocá-lo.

— Assim não! — disse ele, me puxando contra ele e reivindicando o beijo não dado. Seu beijo ardente e apaixonado não deixava dúvidas do que sentia por mim.

— Sinto muito! Falhei em te proteger — disse-me com a voz carregada de tristeza. Seus dedos deslizavam suavemente por meus braços enquanto seus olhos me sondavam com ternura.

— Preciso te dizer uma coisa. É importante! — falei suavemente para ele. — Mas depois do jantar. Estou faminta agora!

Lohan assentiu, e tomei a iniciativa de segurar a mão dele. Estava feliz por estar de volta ao nosso quarto e mais ainda por estar perto dele. Assim que avistei a mesa de jantar, um casal se levantou imediatamente atento a nós. Podia ver que meus pais não estavam nem um pouco preocupados por eu ter desaparecido por alguns dias.

— Majestade! — meus pais cumprimentaram Lohan respeitosamente antes de se sentarem de novo.

"Definitivamente, eles estão muito bem. Me preocupei por nada!", pensei enquanto me sentava. Comi em silêncio, atenta aos sentimentos e reações deles. Esperava que fizessem ao menos uma pergunta sobre o que passei ou como me senti. Esperava que tivessem o bom senso de perguntar se ao menos eu estava bem.

— Vocês realmente são meus pais? — perguntei abismada depois que terminei a refeição. Eles estavam a ponto de sair da mesa sem trocar uma única palavra comigo.

— De novo com isso, filha? — perguntou minha mãe com um pouco de indignação. — Se está chateada com o que aconteceu, sinto dizer, mas você mereceu.

— Soubemos que desrespeitou o conselho dos anciões — interveio meu pai, posicionando-se ao lado da minha mãe. — Alguns poucos dias presa é uma punição branda. Você saiu antes até do previsto. Não te criamos para agir por impulso!

— Então vocês não me criaram muito bem — murmurei. A verdade é que eu praticamente me criei sozinha. Como podia esperar que eles me compreendessem?

— Filha... — minha mãe suspirou profundamente. Seus sentimentos eram confusos, mas superficiais. Não parecia me levar a sério.

Olhei atentamente para os dois. Eles não vieram por conta própria, mas a mando de Damian. Provavelmente, meu pai só me salvou daquela vez porque Damian mandou. Damian não estava aqui, então não podia contar com eles mais para nada. Agora só o que lhes importava era a missão deles.

— Quando me deram a Preciosa, pensei que eram os melhores pais do mundo, mas vocês nunca foram a um recital, nem a um único show que fiz. Vocês tanto queriam que eu me dedicasse à música, mas quando decidi ser cantora, vocês viraram as costas para mim. Pai, lembra do que me disse quando minha loba despertou? Que se eu não aguentasse o treinamento, eu não era digna de ser sua filha. Eu tinha só doze anos naquela época! Para mim, nada foi fácil, mas eu provei meu valor e superei cada obstáculo com garra. Não vivi tudo isso para permitir que um bando de velhos que não sabe nada sobre mim me humilhe e diga que não sou digna!

— Filha, você está sendo muito prepotente! — reclamou meu pai. Ele estava preocupado com o que Lohan pensaria. Meu companheiro, por outro lado, escutava meus desabafos em silêncio, com um sentimento interno de culpa e preocupação.

— Estou? Agora que você é um lobo de verdade, acha que consegue me enfrentar e me vencer? Talvez agora você tenha alguma chance!

— Você será redirecionada para um treinamento mais apropriado — Lohan finalmente interveio. — Sua loba precisa ficar mais forte, e já consegui uma instrutora para você.

— Acha que Fiona é adequada para me instruir? — perguntei, cética quanto a isso.

— Como sabe que é ela? — Ele fez um gesto negativo com a cabeça e baixou o olhar. — Bem, posso te garantir que não conheço outra pessoa mais adequada.

Havia uma certa admiração e confiança dentro de Lohan ao pensar nela. Queria que ele tivesse a mesma confiança em mim. Comecei a dedilhar a mesa enquanto organizava meus pensamentos. Eu ainda precisava seguir o meu chamado, então não tinha tempo para ficar fingindo treinar com Fiona. Por outro lado, eu queria muito entender as pretensões de Fiona e saber se ela estava em complô com Edward para me separar do meu companheiro.

— Muito bem! — Esbocei um sorriso falso e assenti com a cabeça. — Fiona tem alguns séculos de vida a mais que eu. Deve saber o que faz.

Ela podia ter muito mais experiência e maturidade do que eu, mas eu também tinha algo que ela não tinha: preparação para combate real e experiência em batalha. Quando Éldrim viveu a última guerra, nem mesmo o pai de Fiona havia nascido. Eu não conhecia sua história, mas o pouco que sabia de seu histórico e sua vida de viagens e festas me dizia que ela viveu uma porcentagem alta de sua vida numa comodidade que eu nunca tive o luxo de ter. No entanto, se ela me respeitasse, eu a respeitaria. Como amiga de Lohan, é o mínimo que eu podia oferecer.

Eu podia ver que ficaram muito satisfeitos com minha resposta positiva. Meus pais ficaram um pouco aliviados, mas não podia dizer o mesmo de Lohan. A preocupação que sentia não o deixara por um único instante, o que me dava certeza de que eu era a culpada disso.

— Você está bem? — perguntou-me assim que entramos no quarto. Percebi sua intenção de me abraçar por trás e me esquivei. Eu não estava com humor para isso.

— Você deveria confiar mais em mim, companheiro! — Sentei-me na cama e desfiz a visão espiritual. Eu já havia ultrapassado meus limites para um dia e comecei a sentir a exaustão por conta disso. Precisava desse poder para lidar com a minha suposta rival. — Eu sou mais forte do que pensa. Não entrei na sua vida para ser um fardo, mas para te ajudar, mesmo que eu seja só uma ferramenta para você usar.

— O que quer dizer com isso? — A voz dele saiu irritada. Eu não precisava ler a sua energia para saber que ele se sentiu ofendido.

— Não se irrite, companheiro. Só estou repetindo o que seu avô me disse. — Olhei para ele seriamente. Eu precisava estabelecer uma comunicação o quanto antes para que tudo ficasse claro entre nós. Chega de mal-entendidos!

— Meu avô? — Lohan franziu a testa e se aproximou a passos lentos. Depois disso, se agachou de frente para mim e pegou minhas mãos. — O que mais ele te disse?

— Era sobre isso que eu queria te falar — respondi-lhe suavemente. — Edward me mostrou um pergaminho com um desenho de uma loba branca, disse que você sabia o que procurar e que nossa relação não foi um milagre, mas algo premeditado. Ele disse que você só queria me encontrar porque precisava de mim para neutralizar suas calamidades, que sou só um instrumento para ser usado.

— Algo mais? — Ele definitivamente estava irritado. Suspirei profundamente e deslizei para os braços dele.

— Sim, mas é melhor você não saber. — Eu não queria que ele achasse que considerei as palavras do avô dele, ou que estava com ciúmes. Também não queria envolver Fiona sem ter certeza de que ela realmente tinha segundas intenções.

— Minha pequena, se ele anda enchendo sua cabeça de dúvidas, preciso saber o que é.

— Então não precisa, porque em nenhum momento duvidei de você! — falei-lhe amorosamente. Ele me envolveu em seus braços e habilmente me posicionou sobre a cama, jogando o corpo dele por cima do meu. — Eu te amo, Lohan. Só preciso que confie em mim tanto quanto eu confio em você! Pode fazer isso?

Ele me encarou por um momento com profundidade e afetuosidade. A forma como sorria me desarmou completamente. Seus lábios desceram sobre os meus com certa urgência e senti em cada gesto, em cada toque, o quanto ele também sentiu minha falta. 

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora