A melodia de repente estava alta, tão alta que despertei. Quando abri os meus olhos, estava ofegante e até mesmo um pouco tonta. Olhei em volta, um pouco surpresa que isso tinha mesmo dado certo.
"Lisa, conseguimos!", pensei entusiasmada.
Dobrei meus joelhos sobre a areia. A areia vermelha, diferente do que eu imaginava, era fria, tanto quanto o vento que soprava os meus cabelos. Tirando Preciosa do pulso e colocando-a perto de mim, tomei a forma de lobo e comecei a cavar. Quanto mais fundo eu cavava, mais rápido meu coração disparava. Cavei até que a parte superior da porta estivesse exposta.
Não conseguiria descobrir a câmara toda, ainda mais com o vento trabalhando contra mim, sempre soprando de volta a areia que eu tirava. Esperava que apenas um pedaço da entrada fosse o suficiente. Tomei forma humana e, colocando a Preciosa no pulso, aproximei minha mão da porta com certa ansiedade.
"Minha nossa!", pensei assustada. Um vendaval se formou à minha volta enquanto a areia que cobria a porta era lançada ao longe. Quando dei por mim, a porta estava completamente destampada e todos os símbolos escritos nela estavam brilhando tão forte que me vi obrigada a fechar os olhos.
Quando os abri de novo, eu estava em um salão de uma caverna, sem qualquer entrada ou saída visível. Preciosa estava brilhando no meu pulso e meu corpo estava tomado pelos pelos brancos da Lisa. Várias cordas luminosas estavam flutuando no ar perto de mim, emitindo os mais variados sons. Até mesmo as pequenas estalagmites à minha volta faziam seu próprio barulho, tornando o ambiente sonoro caótico e confuso. Atentei-me a cada um dos sons, identificando as notas.
Uma luz suave saía da palma da minha mão quando a estiquei em direção à primeira corda. Assim que a toquei, tudo ficou em silêncio. Agora eu tinha espaço para criar a minha própria música. Assim como fora no outro mundo, Preciosa, Lisa e eu estávamos juntas nesse processo de criação musical. Deixei que os sentimentos de Lisa me invadissem e a alegria transbordasse na mais bela criação que eu fizera até hoje. Enquanto a melodia ecoava pela caverna, um calor intenso tomou o meu corpo e tudo à minha volta começou a brilhar.
Comecei a caminhar no meio da luz, sem saber aonde estava indo. A cada passo que eu dava, minha visão ficava mais clara. A luz deu lugar ao vasto deserto. Olhei para trás, somente para encontrar a porta da câmara fechada.
— Eu falhei? — perguntei, atordoada. Lohan dissera claramente que sair como lobo é aprovação e sair em forma humana é reprovação. Eu não estava na minha forma de lobo.
Me ajoelhei na areia, um sentimento de aflição muito grande enquanto as lágrimas cegavam a minha visão. Lohan disse que, como futura rainha, eu só teria uma chance. Se eu conseguisse, receberia grande bênção, do contrário, maldição.
"Eu falhei mesmo, Lisa? Eu falhei?" Não houve resposta. Até mesmo a Preciosa havia sumido do meu pulso. Olhei ao redor, desesperada, perguntando-me onde estava e temendo que eu a tivesse perdido dentro da câmara. Não havia qualquer sinal dela ou da voz de Lisa. Eu estava completamente só!
— LISA! — gritei com todas as minhas forças ao perceber que eu não mais a sentia. Por mais que eu procurasse por ela dentro de mim, não a encontrava. Então essa é a maldição que recebi? Perder a minha loba?
"Lisa, me responde, por favor!", implorei entre lágrimas. Qualquer coisa menos isso...
— ME DEVOLVE ELA, ME DEVOLVE! — bati minhas mãos desesperadamente inúmeras vezes contra a porta da câmara. Eu poderia suportar qualquer outra coisa, mas não suportaria viver sem a minha loba.
Não importava o quanto eu suplicasse, a câmara se recusava a me responder. Jamais pensei que atender ao chamado me custaria algo tão precioso. Tomada pela dor e pela perda, eu não conseguia parar de chorar e caí de joelhos, completamente sem forças, enquanto me deixava ser enterrada pela areia. O vento, aos poucos, soprava tudo de volta ao seu devido lugar.
— Filha, me dê a mão! — pediu suavemente uma voz feminina. As areias já estavam me cobrindo até a cintura quando Willow apareceu. Ela usava um vestido preto longo com mangas levemente caídas e compridas, de modelo ombro a ombro, com uma fenda lateral na saia. Olhei para ela, desamparada, desejando morrer ali mesmo. Perder minha loba significava perder meu companheiro também, e eu não poderia suportar isso.
— Mas minha loba... — solucei, inconformada.
— Ela ainda está com você! Venha comigo e eu lhe explicarei tudo!
Willow podia ter utilizado diversos métodos para me forçar a sair dali, mas estava inclinada sobre mim, esticando a mão na minha direção de forma amigável, deixando claro que não me forçaria a nada. Eu não tinha mais nada a perder, então decidi confiar nela e peguei sua mão. Uma fumaça negra e inodora começou a circular ao nosso redor quando Willow me abraçou. Fechei os olhos e me permiti ser levada.
— Onde estamos? — perguntei para ela. Passei um longo tempo na escuridão total enquanto era levada. Ao meu redor, havia um pequeno cômodo que não continha nada além de um grande tapete vermelho redondo com detalhes dourados.
— Em meu palácio — respondeu Willow com suavidade —, mais especificamente em uma das salas de isolamento mágico. Aqui, nenhuma magia é capaz de adentrar ou sair, tornando-nos invisíveis ao mundo. Isso é necessário para a sua segurança.
— Por quê? Minha segurança importa tanto assim?
— Mais do que imagina. Eliza, você é provavelmente a bruxa mais poderosa que surgiu em mais de cinquenta mil anos. Suas origens acabaram de se solidificar e estão emitindo ondas de magia muito poderosas. Isso é um chamariz perigoso para as bruxas maléficas.
— Bruxa, eu? — o estresse me fez rir de desgosto. Eu não queria ser uma bruxa, eu era uma loba! Nada disso fazia sentido. Eu estava tão confusa que sentia que estava enlouquecendo.
— Olhe para as suas marcas! — disse Willow, invocando aquele misterioso trono das sombras e sentando-se nele. Suspirei profundamente antes de virar o rosto. Realmente, havia uma marca no meu antebraço direito.
— Que marca é essa? — perguntei, incapaz de reconhecer o símbolo. Willow não respondeu. Parecia estar esperando. Tive que repassar mentalmente algumas vezes as palavras dela antes de captar que usara o termo no plural. Por instinto, olhei para o meu braço esquerdo e havia outra marca, ambas completamente desconhecidas para mim.
— Você, assim como eu, é uma bruxa com dois núcleos de poder, ou origens, se preferir. Eles são a fonte dos seus poderes. O símbolo em seu braço direito é de seu núcleo elemental: a luz. No seu braço esquerdo está o seu núcleo astral, o espiritual. A maioria das bruxas tem apenas uma origem, mas você não só tem duas, como também as mais raras que existem. E, se não bastasse, suas origens já estão no último estágio de evolução devido à quantidade de devoção que você já coletou.
— Eu não entendo, é confuso! — eu estava atordoada demais com essas informações. Era demais para mim processar e até mesmo irrelevante, considerando que apenas uma única coisa me importava no momento. — Cadê a minha loba? Você disse que ela ainda está comigo. Onde ela está?
— Ela é o receptáculo que originou uma de suas origens. Liberte-a e você a encontrará.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Destino: O Rei Amaldiçoado
Kurt AdamLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...