Capítulo 85

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O início da história conta sobre bons tempos, em uma sociedade antiga onde as bruxas podiam escolher o amor em vez dos seus poderes. Trata-se da antiga civilização das bruxas ancestrais. Nela, a autora de nome Lydia conta um pouco sobre a vida que levava.

Nesta civilização, o sonho de conhecer o amor tomava o coração das jovens, que podiam optar por despertarem ou não como bruxas. Diferente das bruxas comuns, bruxas ancestrais e homens de diferentes raças conviviam juntos nessa sociedade até que o grande desastre de quinze mil anos atrás ocorreu. De dentro para fora, aquela civilização foi extinta por infiltrados que prometeram amor e trouxeram destruição.

"Que cruel!" Lisa estava muito brava, e não é por menos. O medo do poder advindo da semente, que se provou ser muito forte após inúmeras gerações de não despertos, fez com que alguns povos se unissem para derrubá-las, por medo do que essa civilização poderia se tornar se crescesse ainda mais. Após serem traídas dessa forma, não me admira que as bruxas não queiram se comprometer mais. A história se mostrou impiedosa para com as que tentaram ser diferentes.

A própria autora, uma das poucas sobreviventes ancestrais pertencente à geração desperta, vagou sem rumo por várias nações, coletando devoção com o intuito de evoluir seu poder de luz para a última fase.

No meio da obra, Lydia faz uma viagem a um passado ainda mais distante, em um mundo governado pela desordem e caos, um mundo cheio de guerras intermináveis por disputas territoriais e poder. Neste mundo, os céus interviram, conferindo aos escolhidos de cada raça o poder para governar os seus.

Então, são citados nomes de grande relevância, tais como Selene e Ariandel, as gêmeas às quais a primeira profecia real das bruxas foi direcionada, onde luz e trevas surgiram para governar o reino das bruxas. Ambas as gêmeas governaram por mais de três mil anos. Elas foram as primeiras bruxas ômegas da história.

Vários nomes de reis antigos foram citados, e foi então que descobri que os Black não faziam parte da primeira geração de famílias reais. Na verdade, os "Black" sequer foram mencionados em toda a obra. Em vez disso, o nome dos "Feralis" era tratado com muito respeito pela escritora como a família suprema dos lobisomens.

Uma curiosidade muito grande sobre a história antiga acendeu-se em mim por causa das referências utilizadas pela autora, referências essas que não pude compreender totalmente por não conhecer a história.

Por que a autora tinha uma necessidade tão grande de evoluir para o modo ômega? Por que a história de Selene e Ariandel importa tanto? Seria isso o que Willow queria que eu descobrisse?

Passei dias interpretando cada uma das páginas do livro em busca de explicações e até mesmo reli a obra pensando que devia ter deixado algo importante escapar. A parte final trata apenas da grande guerra territorial de mais de treze mil anos atrás. A guerra envolveu o povo com o maior território do mundo, Éldrim. Naquela época, não existia o território dos monstros, então Éldrim fazia fronteira direta com o território das bruxas, que era ainda maior e mais vasto do que atualmente.

Nessa guerra, vários dos povos que fazem fronteira com Éldrim, incluindo as bruxas, se uniram em um planejamento de longo prazo para pegar seus adversários desprevenidos e avançar suas fronteiras. Tal guerra resultou na extinção completa da família real, os Feralis, que se colocaram na linha de frente em prol de seu povo. Nem mesmo a morada dos Feralis foi poupada. O palácio real, que antes era situado próximo ao clã dos lobos sacerdotais, foi completamente destruído, restando somente cinzas. Lembrei-me de quando o ancião disse a Lohan sobre não haver registros mais antigos que essa guerra, e agora entendo o motivo.

Nessa batalha feroz, a autora considera errônea a decisão dos povos em contrariar a vontade divina que dividiu a terra e diz que o céu iria puni-los por tal afronta. Ela escolhe dar a vida dela lutando ao lado dos Feralis. A partir dessa decisão, a história da autora se encerra. Tal diário foi enviado à rainha das bruxas da época, Ellis. Embora ela não tenha participado diretamente da guerra, fechou os olhos ao que estava acontecendo. Arrependida, adicionou ao diário um resumo sobre o final da guerra como um lembrete às gerações vindouras.

No dia em que o último membro da família escolhida pelos céus para reinar sobre Éldrim foi extinto, uma grande maldição se espalhou por toda Celestria, atingindo até mesmo os povos não envolvidos. Os únicos imunes à maldição foram os lobos, enquanto os demais viram sua população se reduzir drasticamente, resultando na morte de até um terço da população nos territórios mais atingidos.

Ellis acredita que a luta de Lydia por Éldrim fez com que ela coletasse a admiração que lhe restava para atingir o estágio final, e que em seu último suspiro de vida, ela foi a responsável por lançar a magia que protegeu Éldrim de ser atingida pela maldição.

Tal maldição foi chamada de Maldição de Fer, e ela resultou em uma nova guerra, onde os povos que antes ignoraram a situação se uniram para punir todos os envolvidos pela morte dos Feralis. Apenas quando todos os culpados foram encontrados e executados, a maldição desapareceu.

No dia em que devolvi o livro para Willow, ela me questionou se eu havia descoberto o porquê de o livro ser tão importante. Minha resposta única pareceu tê-la satisfeito:

— Este livro é o diário da minha ancestral.

Destino: O Rei AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora