Achei que era impossível me comunicar com o outro lado. Lohan, sendo tão poderoso como é, apenas conseguiu fazê-lo uma vez e acidentalmente. Será que estou imaginando coisas? Comecei a duvidar de mim mesma. Não parecia possível que uma loba fraca como eu pudesse fazer algo assim.
— O que está fazendo? — perguntou-me Lohan. Minhas mãos ainda estavam sobre o monitor, agora desligado. Olhei para trás. O obelisco havia sumido, e William estava deitado desacordado sobre a cama.
— Como ele está? — perguntei, correndo até Lohan. Ele estava observando atentamente o visitante, como se estivesse estudando suas condições vitais. O rosto de William estava muito pálido.
— Ele vai ficar bem. — Assim que terminou de pronunciar essas palavras, a porta da sala em que estávamos se abriu.
— Vossa Majestade, recebemos o seu chamado — disse um guarda. Ele estava acompanhado por outro guarda.
— Leve esse homem e seus pertences ao setor de cuidados especiais e me avise assim que ele acordar — ordenou ele.
Aqueles homens prontamente fizeram o que lhes fora ordenado. Ver William nesse estado lamentável fez com que todas as mágoas que eu sentia em relação a ele ficassem para trás. Meus sentimentos quanto a tê-lo por perto ainda eram contraditórios. Esperava que tudo se resolvesse da melhor forma possível, enquanto pensava em como poderia ajudá-lo, envolvendo-me o mínimo possível.
— Também sinto pena — comentou Lohan, segurando minha mão.
— É por isso que o aceitou? — perguntei, intrigada. O alfa não só pedira que William fosse aceito aqui, mas também que se tornasse um subordinado de Lohan. Com tantos guerreiros tremendamente fortes à disposição dele e tantos empregados bem treinados, William dificilmente encontraria um espaço aqui.
— Eu o aceitarei como o diplomata do clã de Siram. Ele aprenderá sobre este mundo e seus costumes para que possa falar aos seus quando vierem para cá.
Lohan falou essas palavras com tanta segurança que até parecia que planejara isso com antecedência. Poderia ele ter previsto que isso aconteceria?
— E agora? — perguntei, ainda preocupada com o estado de William. Se ele havia tentado suicídio, é porque estava psicologicamente destruído.
— Não há mais nada que possamos fazer no momento. Vamos voltar e descansar também. Assim que o visitante acordar, serei avisado.
— Tudo bem. — Me sentia comovida em ter um companheiro tão bom. A serenidade no rosto dele mostrava que ele não via William como rival, mas como um potencial aliado.
Não demorei a adormecer nos braços do meu companheiro. Sempre me sentia segura e aconchegada quando ele estava comigo, e acabava adormecendo rapidamente. Acordei sendo balançada suavemente por ele. Ele não precisou me dizer nada para eu entender do que se tratava.
— Vamos! — falei a ele, levantando-me imediatamente.
Enquanto nos aproximávamos, logo notei a comoção em torno do local para onde William fora levado. O som de rosnados incessantes preenchia todo o ambiente exterior, fazendo meu coração se agitar. Lohan sinalizou com a cabeça para que eu abrisse a porta, e aproximei a mão da maçaneta com um pouco de receio do que encontraria do outro lado.
Espiei pela fresta da porta. Um pequeno lobo de coloração castanho-avermelhada estava em posição defensiva no canto da sala, claramente confuso e amedrontado. Dois lobos imponentes e grandes o cercavam sem fazer qualquer tipo de movimento, e havia outros três guardas em forma humana mais atrás.
— Repito, não estamos aqui para te machucar — disse um dos guardas ao lobo de William. Ele parecia ser o chefe, considerando seu olhar de autoridade e postura tranquila. Estava recostado calmamente contra a cama, e todos os demais lobos e guardas demonstravam a mesma serenidade, como se estivessem lidando com uma simples birra de criança.
— Podem deixar comigo! — falei a eles, terminando de entrar na sala.
Os olhos do lobo de William encontraram os meus e, imediatamente, ele ignorou os lobos em sua frente e veio correndo até mim. Parou a meio metro, ao notar o homem que estava atrás de mim, e abaixou a cabeça apavorado.
— Não fique assim, William, ninguém aqui quer o seu mal — falei suavemente, me aproximando dele e acariciando sua cabeça. Sorri e deixei o espírito otimista de Lisa tomar conta da minha personalidade, na esperança de passar uma imagem mais amigável e acalmá-lo. — Bem-vindo à Celestria, o mundo onde todo tipo de magia acontece!
O efeito foi imediato. Tomando forma humana enquanto se levantava, sua respiração foi se acalmando enquanto mirava meu rosto. Seus olhos pareciam prestes a derramar lágrimas enquanto elevava uma de suas mãos em minha direção.
— Senti tanto a sua falta! — disse-me, com a mão a poucos centímetros do meu rosto, mas sem coragem de me tocar.
— Eu sei. Seu pai nos contou. Disse que você não estava se comportando bem e por isso te mandou para cá. Por enquanto, só quero que saiba que está seguro. Sei que deve estar cheio de perguntas, mas não se apresse. Prometo que encontrará suas respostas!
— Meu pai me mandou para cá? — A confusão ainda era nítida em seu olhar, mas pelo menos não estava mais tão apavorado. — E onde é aqui, exatamente?
— Luríon, capital real do reino de Éldrim, território dos lobisomens. Este lugar em específico é o palácio real.
— Palácio... — William recuou um pouco, observando melhor o ambiente à sua volta. Ele ainda se sentia intimidado pela presença de tantos guardas. Ao perceber isso, Lohan rapidamente tomou uma atitude.
— Deixem-nos a sós! — ordenou ele com seriedade.
— Como desejar, Majestade! — respondeu o chefe dos guardas. Todos os guardas se retiraram imediatamente, e o silêncio tomou conta do ambiente enquanto William tentava processar tudo aquilo.
— Lohan é um rei? — perguntou ele pausadamente.
— Sim — respondeu o próprio Lohan, tranquilamente, ao se aproximar de William e colocar a mão no ombro dele de forma amigável. — A pedido do seu pai, a partir de agora você viverá aqui como meu subordinado. Permitirei que continue vendo minha companheira, que ficará a cargo de lhe contar a verdade que envolve nossos mundos, mas entenda uma coisa: ela é minha mulher e, portanto, será sua rainha. Como tal, deverá se portar com dignidade e respeito. Ações invasivas não serão toleradas, está claro?
— Entendido! — William respondeu um pouco hesitante. Lohan assentiu com a cabeça para mim e depois saiu da sala, deixando-me a sós com William.
— Por que não me rejeitou depois que parti? — perguntei seriamente a ele. Mais do que sentir pena, eu estava preocupada. Ele perdera completamente o contato com a antiga vida e agora teria que assistir à mulher que acredita ser sua companheira estar ao lado de outro homem. — Você realmente acha que está melhor assim?
— Eu não sou tão forte quanto gostaria — sussurrou. Dito isso, elevou o olhar. Apesar de sua situação lamentável, havia um sorriso suave em seu rosto. — Depois que partiu, nada mais fazia sentido para mim. Eu não queria mais existir, não queria mais continuar sentindo a dor e acabei mergulhando no vazio. Agora, só de poder te olhar voltei a me sentir vivo. Mesmo que eu apenas possa te observar, ainda é melhor do que nada.
Definitivamente, William estava louco. Se eu era tão importante, por que ele não se portou corretamente comigo antes? Tem pessoas que só dão valor ao que perdem, e William era claramente uma dessas.
— Se você entende que é só isso que terá de mim, posso te oferecer minha companhia e te guiar. Desde que se comporte, terá a minha amizade e nada mais!
— Isso me basta! Eu posso... — Ele esticou os braços, sinalizando o que queria. Havia muita expectativa em seu olhar. Suspirei profundamente antes de me aproximar e abraçá-lo. Suas mãos se apertaram à minha volta e ele começou a fungar. William estava chorando. Senti que era meu dever ajudá-lo a superar isso.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Destino: O Rei Amaldiçoado
WerewolfLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...