Visão de Lohan: Aproximadamente Dois Anos Antes...
— Majestade! O seu jantar está servido! — avisou-me Vera, uma das poucas servas que eu permitia entrar em minha presença sem ser convidada. Ela esteve comigo desde que eu era criança e a forma como zelava pelo meu bem-estar não mudou em nenhum momento. Ao longo dos últimos séculos, ela sempre aparecia nos mesmos horários, lembrando-me de seguir uma rotina chata e programada.
Olhei para ela, sentindo um vazio e indiferença dentro de mim. Vera não era diferente dos outros na forma de se relacionar comigo. Ela evitava fazer perguntas e estava sempre olhando para baixo, com o rosto tenso.
— Entendido. Pode se retirar!
Levantei-me e caminhei até a mesa de jantar. Olhei as opções sobre a mesa. Um dia, já gostei de cada um dos pratos, mas depois de comê-los tantas vezes, já não sentia mais prazer em fazer isso. Comer era como continuar vivendo. Para mim, não era mais do que uma obrigação, só mais uma maldição em minha vida monótona.
"Pelo menos não temos reunião hoje. Podemos caçar!", falou meu lobo, Ray, dentro de mim.
Caçar geralmente acabava me deixando mais entediado. Os animais são lentos e fracos demais. Por um tempo, eu gostava de acompanhar os guardas para procurar fugitivos, mas a criminalidade caiu drasticamente depois disso. Para o resto, meus homens eram eficientes até demais e dificilmente me traziam problemas.
"Vamos observar! Quem sabe algo novo acontece!", respondi para o meu lobo enquanto caminhava até o centro de observação e invocação. Não é como se gostasse de fazer isso, mas passar as noites acordado fazendo monitoramento era a desculpa perfeita para evitar as reuniões matinais chatas e repetitivas do conselho.
Ampliando meus sentidos, projetei minha consciência na zona de reflexão mágica interdimensional e me deitei comodamente sobre a cama. Assim como tudo em minha vida, o som que preencheu o ambiente era extremamente repetitivo e tedioso. Eu já estava tão acostumado com o som e com as paisagens que nem me incomodava mais em ficar olhando.
Antes, quando eu vinha, pegava um livro na biblioteca para ler enquanto esperava o horário da vigília encerrar. Depois de ler praticamente todos eles uma dezena de vezes, já não tinha mais vontade de fazê-lo. Na verdade, não sentia vontade de fazer nada. Odiava não ter mais nada para fazer sozinho, odiava não ter uma companhia para passar o tempo e odiava ter que continuar vivendo, ou por assim dizer, sobrevivendo!
"Ouça isso!", alertou meu lobo. Coloquei-me de pé e, amplificando os meus sentidos, encontrei uma voz doce e melodiosa. Parecia que alguém estava cantando. Meu lobo estava inquieto, tomado pelo desejo de encontrar a dona dessa voz. Era difícil lutar com ele quando ele se propunha a algo. Ray sempre foi extremamente forte e dominador.
Concentrei-me em remover todas as imagens em que eu não encontrava nada. Reduzindo as opções, rapidamente localizei de onde vinha o som.
"Algo novo!", exclamou meu lobo, Ray, empolgado com a visão à nossa frente. Uma jovem mulher estava sentada sobre uma rocha no meio do fluxo de água que descia perto de uma cachoeira. Estava olhando para a lua enquanto cantava uma canção bela e estimulante.
— Maravilhosa! — exclamei encantado, admirando cada um de seus traços belos e delicados. Seu corpo nu estava banhado pela luz do luar, seus cabelos negros e úmidos desciam ondulando por sua pele clara.
"Quero ela!", grunhiu meu lobo dentro de mim. Ele nunca tinha me dito algo assim antes sobre nenhuma mulher. Por algum tempo no passado, procurei alguém que pudesse agradá-lo, mas era uma missão quase impossível.
— Você só quer o que não pode ter. — respondi com seriedade enquanto continuava admirando a garota. Parecia tão pequena e frágil e, ao mesmo tempo, tão forte! Quando ela terminou sua canção, percebi que minha respiração estava mais acelerada. Eu não queria que ela parasse, não queria que ela se fosse!
"Ela não deve estar sozinha!", comentou meu lobo. Pensei o mesmo, ainda mais vendo a forma como a garota parou de cantar e olhava para os lados como se estivesse procurando por alguém. Mudei meu ângulo de visão procurando por quem quer que estivesse por perto. Lobos costumam correr em grupo, mas pelo visto, esse não era o caso da garota.
Se não havia ninguém, então o que ela estava procurando? Quanto mais eu observava o olhar desconfiado da garota, mais meus instintos me diziam que ela estava procurando por mim, o que teoricamente era impossível.
A garota estremeceu antes de se jogar na água e nadar até a margem. A visão de seu corpo se transformando fez o meu coração disparar novamente. A loba branca iniciou uma corrida e, assim que sumiu da minha vista, meu lobo rosnou com ferocidade dentro de mim:
"MINHA!" O poder que ele liberou foi tão forte que não contive a transformação. Assumindo o controle, ele se aproximou da imagem da cachoeira desejando ardentemente atravessar para o outro lado e perseguir a pequena loba branca.
"Ray, já chega!" Reprimi-o assumindo novamente a forma humana. A loba da garota é branca, exatamente como o desenho que eu recebi de Willow há quase nove anos. Mesmo que supostamente eu acreditasse que a sacerdotisa de Willow estivesse certa com a sua previsão, havia milhares de lobas brancas em meu reino, não só adultas, como para nascer. Não fazia sentido pensar que a minha companheira estaria justamente do outro lado entre os lobos mestiços.
— Já sou amaldiçoado demais para aceitar que os céus me dariam alguém que eu nunca vou ter. — não havia a menor chance de eu conseguir ter contato com a garota. Por que me iludir?
Deixei o centro de observação antes do horário. Meu humor ficou instável nos dias que se seguiram por causa do meu lobo. As imagens da bela garota continuavam invadindo minha cabeça, e isso era algo que nunca tinha acontecido comigo antes.
"Ray, ela não vai voltar!", lembrava-o constantemente, tentando dissipar essa ilusão o mais rápido possível, mas ele estava obstinado demais.
As horas se tornaram dias, e os dias viraram semanas enquanto Ray continuava ansioso, me fazendo passar mais tempo no centro de observação do que eu tinha o costume de fazer.
"O que temos a perder?", resmungou. Eu não tinha argumentos quanto a isso. Já não tínhamos nada, nem mesmo esperança. Com tempo sobrando e poucas atividades acontecendo recentemente, eu não tinha desculpas para contrariar os anseios de meu lobo.
A noite iniciara nublada, mas quando a chuva começou a cair, tornei a dividir as áreas, observando outros pontos. Se ela não ia até lá nem quando o céu estava aberto, quanto mais em uma noite chuvosa. Nenhum lobo gosta de sair para correr na chuva.
"Quero ver a cachoeira!", disse Ray algum tempo depois. Eu já nem estava prestando atenção em mais nada. "Escuto a voz dela!"
Imediatamente voltei o foco para uma única imagem. A garota estava de pé próximo à margem. A chuva escorria por sua pele nua enquanto seu olhar estava fixo sobre a queda.
"Tão bela!", pensei hipnotizado, enquanto acompanhava o trajeto da água escorrendo pela sua pele, imaginando que era minha mão fazendo aquele percurso. Já vi a imagem de muitas mulheres nuas por esses monitores, mas nunca nenhuma tinha me excitado dessa forma. Na verdade, nenhuma prendera meu interesse como essa garota fazia.
— Não precisa ser agora. Trarei os suprimentos amanhã e aproveito para averiguar. De qualquer forma, vamos precisar da barraca. — disse a garota, provavelmente conversando com a sua loba. Do nada, a garota começou a olhar para os lados como se tivesse sentido uma presença. Tomando a forma de loba, começou a sondar a área.
"O que acha que ela está procurando?", perguntei ao Ray. Ele acompanhou a loba com mais afinco do que eu, absolutamente fascinado com seu porte feminino e delicado. A pequena loba já tinha rodado tudo umas três vezes, insistindo em encontrar algo ou alguém que não estava ali.
"Acho que ela está nos procurando!", respondeu-me Ray depois que ela foi embora.
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Destino: O Rei Amaldiçoado
WilkołakiLivros 3 e 4 da saga Destino (Destino: O Rei Amaldiçoado) + (Destino: A Soberana das Bruxas) Sinopse: Em um mundo envolto em mistérios e magia, Eliza se vê conectada ao destino do enigmático Rei Lohan, um homem cujo passado é tão sombrio quanto seu...