Capítulo 71

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Capítulo 71: O Despertar de Sans

Sans flutuava, ainda em sua forma de alma, vagando entre o espaço que separava os vivos dos mortos. Ele sabia que precisava encontrar seu corpo, seu receptáculo no mundo físico, para retornar de verdade. O caminho de volta não seria fácil, mas ele já havia enfrentado horrores suficientes em Necronacia. Agora, estava mais determinado do que nunca.

Enquanto vagava pelo Santuário do Sol, onde sua alma finalmente conseguia sentir algo familiar, ele percebeu uma energia peculiar ao longe. Uma força atraía sua alma de maneira quase magnética, e ele sabia que seu corpo devia estar por perto. Com um foco renovado, ele seguiu a direção da energia, sentindo o peso de sua existência na bruma entre os mundos.

Após algumas horas vagando, ele encontrou um jardim sereno, um lugar de descanso. O jardim pertencia a Toga, que morava no Santuário do Sol. Suas flores desabrochavam em tons suaves de rosa e violeta, espalhando uma fragrância reconfortante pelo ar. No centro do jardim, cercado por flores, Sans avistou o que procurava. Seu corpo estava deitado, como se estivesse dormindo, em um altar cercado por plantas medicinais. Seu corpo ainda estava perfurado e marcado pelas batalhas, mas ele havia sido mantido em segurança, quase como um memorial.

— Aí está você... — murmurou Sans em forma de alma, flutuando em direção ao seu corpo inerte.

Ele pairou sobre seu próprio corpo, observando cada cicatriz, cada ferida que quase lhe custou a vida. Uma sensação de nostalgia e urgência o preencheu. Ele precisava voltar. Sem hesitar mais, Sans fez um esforço concentrado para unir sua alma ao corpo físico, algo que exigia mais força do que ele antecipara.

Quando sua alma se fundiu novamente ao corpo, ele sentiu uma onda de choque atravessá-lo. Por um momento, ele perdeu a consciência, sua alma sendo arrastada pelas profundezas de sua própria mente. O retorno não era imediato. Havia um abismo escuro, como se ele estivesse preso entre o sono e a vigília, consciente apenas do fato de que estava em coma.

Dentro de seu próprio corpo, Sans agora podia ouvir vozes ao redor. Ele não podia se mover, não podia falar, mas seus sentidos lentamente começavam a funcionar. Vozes familiares ecoavam pelo jardim.

— Dois anos... Já faz dois anos que ele está nesse estado — uma voz feminina soou suavemente, quase como um sussurro melancólico.

Sans reconheceu a voz. Era Toga. Ela estava cuidando dele todo esse tempo?

— Dois anos... — outra voz repetiu, mais grave. Era Ashura. — Eu ainda não posso acreditar que ele não retornou. Ele era forte... Não podia simplesmente desaparecer.

Sans lutava para mover seus lábios, mas era como se estivesse preso, sua alma ainda tentando se ajustar ao corpo depois de tanto tempo afastado.

— E Kimi? — perguntou Toga. — Ela já perdeu a esperança?

— Não... Kimi ainda acredita. Ela vem aqui sempre que pode, mas até ela está começando a aceitar que talvez... talvez Sans não volte mais.

Dentro de sua mente, Sans lutava contra a escuridão que o envolvia. Dois anos? Ele estava morto por dois anos? Era como se o tempo não tivesse passado para ele. Para Sans, tudo parecia tão recente, como se tivesse acabado de ser derrotado.

Toga continuou falando com Ashura, sem perceber que Sans podia ouvir cada palavra.

— O jardim é o único lugar que traz um pouco de paz a todos nós. Mesmo que ele esteja... assim. Parece que Sans ainda está aqui de alguma forma.

Ashura suspirou profundamente. Sans podia sentir o peso na voz dele, a dor de alguém que perdera um amigo, um aliado.

— Se ao menos pudéssemos saber o que aconteceu de verdade... — Ashura disse, soando resignado.

Sans sabia que eles estavam errados. Ele não havia desistido. Sua alma estava de volta ao corpo, mas sua conexão era fraca. Ele precisava de tempo para se fortalecer, para despertar completamente. Dentro de sua mente, ele gritava, tentando romper o véu do coma. Um lampejo de luz começou a brilhar em sua mente, como uma porta sendo destrancada.

Mais vozes se aproximaram, desta vez mais agitadas. Eram Apolo e Kimi.

— Ele ainda está aqui? — Kimi perguntou, sua voz cheia de ansiedade. — Eu posso sentir... alguma coisa mudou.

Apolo, que também carregava uma preocupação profunda na voz, respondeu:

— Sim. Algo está diferente hoje. Eu senti isso quando cheguei. Parece que... ele está tentando voltar.

Sans sentiu uma força estranha dentro de si, como se o apoio das pessoas ao seu redor estivesse lentamente trazendo sua consciência de volta. Era como uma maré, puxando-o para a superfície de um oceano escuro.

Kimi se ajoelhou ao lado do corpo de Sans, colocando sua mão sobre o peito dele. Suas palavras eram suaves, mas carregadas de esperança.

— Sans, se você pode me ouvir... Estamos esperando por você. Eu sei que você está lutando. Por favor, volte.

A força das palavras de Kimi ressoou dentro dele. Algo em sua alma se agitou profundamente. Ele sentiu uma pequena faísca acender dentro de si. Sem aviso, seu corpo reagiu, embora sutilmente — um pequeno movimento de sua mão, quase imperceptível.

Kimi arfou, os olhos se arregalando.

— Ele se moveu! — gritou ela, cheia de esperança.

Todos se reuniram ao redor do corpo de Sans, observando com atenção. Embora ele ainda estivesse fraco, aquela pequena reação era um sinal. Lentamente, com muito esforço, Sans começou a abrir os olhos. A luz do dia era ofuscante, e suas pálpebras pesavam como chumbo, mas ele conseguia ver, mesmo que apenas por um momento, as silhuetas das pessoas que amava.

— Ele está... voltando... — disse Apolo, a voz trêmula de alívio.

Finalmente, após dois longos anos, Sans abriu os olhos completamente.

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