Capítulo 72: O Retorno do Imortal
O brilho do sol ofuscava os olhos de Sans enquanto ele lentamente piscava, ajustando-se à luz. Sua visão ainda estava embaçada, como se estivesse preso entre o mundo dos sonhos e a realidade. O murmúrio ao seu redor ficou mais nítido, e ele percebeu que não estava sozinho. Kimi, Apolo, Toga, Ashura e os outros estavam ali, observando-o com expectativa e alívio.
Sans tentou falar, mas sua voz parecia presa em sua garganta, como se não a usasse há séculos. Ele sentia o corpo pesado, cada movimento parecia arrastado, como se estivesse lutando contra correntes invisíveis. Mesmo assim, ele se esforçou para se mover, seus dedos tremendo ligeiramente sobre o tecido do altar em que estava deitado.
Kimi, com os olhos cheios de lágrimas, segurou a mão de Sans.
— Você conseguiu... — ela sussurrou, a voz embargada pela emoção. — Eu sabia que você voltaria.
Sans piscou mais algumas vezes, finalmente ajustando sua visão. Ele encarou os rostos ao seu redor, notando a expressão de cada um. Kimi estava chorando, com um sorriso entre lágrimas. Apolo, ao lado dela, parecia aliviado, mas mantinha uma postura firme, como se ainda estivesse processando o que estava acontecendo. Ashura e Toga também estavam ali, ambos com olhares mistos de descrença e esperança.
— Dois anos... — murmurou Sans, com a voz rouca. — Quanto tempo eu... fiquei fora?
Ashura deu um passo à frente, cruzando os braços enquanto olhava para Sans com um olhar sério.
— Dois anos, Sans. Você esteve morto... ou pelo menos, fora deste mundo. Todos nós... temíamos que você nunca mais voltasse.
— Morrer... — repetiu Sans, enquanto as memórias começavam a inundar sua mente. Ele lembrou-se de Necronacia, do reino sombrio onde enfrentou Yokais, do kitsune gigante e da alma que ele capturou. Mas o mais marcante foi a sensação de estar preso entre mundos, de observar o inferno e o céu, sem poder se mover ou agir. — Eu... estive em outro lugar... um lugar entre a vida e a morte.
Kimi apertou sua mão com mais força, como se estivesse com medo de que ele desaparecesse novamente.
— O importante é que você voltou, Sans. Nós não vamos deixar você ir de novo.
Sans olhou para ela, o peso da realidade começando a se instalar. Ele estava de volta, mas seu corpo ainda estava frágil. O tempo perdido, as feridas que marcaram sua carne... Tudo isso fazia parte da sua nova realidade. No entanto, ele não estava sozinho.
— Eu vi coisas... lugares que jamais imaginei existir — disse Sans, lutando para se sentar. — Não foi fácil... mas eu sabia que precisava voltar. Eu não podia deixar vocês. Não podia deixá-los assim.
Apolo se aproximou, pousando uma mão firme no ombro de Sans.
— Você voltou. E isso é o que importa. Mas agora, precisamos entender o que aconteceu de verdade. Há muitas perguntas sem respostas, e o mundo mudou muito desde que você partiu.
Sans olhou ao redor, percebendo que algo estava errado. O mundo... havia mudado? Ele podia sentir isso na energia ao seu redor, algo no ar parecia diferente, pesado. As pessoas ao seu redor também pareciam diferentes, mais marcadas pelo tempo, pela batalha e pela perda.
— O que aconteceu? — Sans perguntou, a voz agora mais firme. — O que mudou nesses dois anos?
Toga, que havia permanecido em silêncio, deu um passo à frente.
— Muita coisa mudou, Sans. Após sua morte, o equilíbrio dos reinos começou a se desestabilizar. Houve guerras... reinos caíram, alianças foram feitas e quebradas. O Santuário do Sol permaneceu em relativa paz, mas o mundo lá fora... está um caos.
Kimi assentiu, ainda segurando a mão de Sans.
— Nós perdemos muitos amigos, Sans. Muitos dos nossos aliados caíram ou desapareceram. Mas nós continuamos lutando, acreditando que você retornaria.
Sans franziu a testa, sentindo o peso da situação cair sobre ele. Ele não estava preparado para o que estava por vir, mas sabia que não poderia se permitir fraquejar.
— Eu vou... precisar de tempo — disse Sans, olhando para Kimi e Apolo. — Preciso recuperar minhas forças, entender o que aconteceu. Mas saibam disso: não vou deixar vocês lutarem sozinhos. Não de novo.
Ashura deu um leve sorriso, algo raro vindo dele.
— Isso é o que esperamos ouvir. Mas, por enquanto, descanse. O mundo lá fora pode esperar mais um pouco.
Sans assentiu, mas sabia que o tempo era uma mercadoria rara. Ele precisava se preparar, pois o mundo que ele conhecia já não era o mesmo. Ele estava mais determinado do que nunca a entender o que o aguardava e a proteger aqueles que ainda permaneciam ao seu lado.
Enquanto Sans se acomodava, sentindo o cansaço finalmente se instalar, ele fechou os olhos por um momento, deixando-se levar pela sensação de segurança que o Santuário do Sol oferecia. Contudo, em algum lugar em seu subconsciente, ele sabia que a verdadeira batalha ainda estava por vir.