Marked by Shadow

1 - O Acidente

A madrugada em Nova Orleans estava vibrante. Nos becos escuros e nos bares escondidos do French Quarter, onde aqueles que vivem nas sombras da sociedade humana se reúnem. Viktor, um vampiro do norte europeu, estava em um dos bares exclusivos para o submundo, conhecidos apenas pelos seres sobrenaturais da cidade. As paredes eram cobertas por veludo escuro amarronzado, e o som de jazz suave preenchia o ambiente, proporcionando uma atmosfera que camuflava a natureza predatória dos clientes.

Ao seu lado estava Petal, uma bruxa tão poderosa quanto enigmática, que se destacava com seu olhar intenso e um sorriso misterioso. Os dois conversavam em tom baixo sobre as recentes tensões territoriais com uma clã rival, enquanto Viktor bebia uma mistura forte, desenvolvida especificamente para vampiros.

No entanto, naquela noite, algo que o vampiro jamais imaginaria aconteceu. Uma jornalista humana, Rebeca, entrou no bar. Ela tinha seguido rumores de um local "secreto", onde a sociedade comum jamais pisaria. Rebeca era conhecida por sua intuição aguçada e por uma curiosidade que, na maioria das vezes, a colocava em situações perigosas. Mas, naquela noite, ela estava prestes a se deparar com algo que ultrapassava qualquer limite da sua compreensão.

Quando Rebeca entrou, o ambiente se silenciou por um breve segundo. Olhares de estranheza, dúvida e alarme a seguiram. "Será uma bruxa? Mas não tem nem um sinal de mana..." "Wolfkins? Sem cheiro..." Essas perguntas ecoavam na mente dos frequentadores do bar, mas a jornalista parecia alheia a tudo, fascinada pela atmosfera única do local. Viktor, por outro lado, sentiu uma atração inexplicável por ela e, antes que pudesse se conter, aproximou-se, as palavras saindo com um charme que a bebida só acentuava.

- Você está no lugar errado, sabe disso? - ele murmurou, em tom de advertência, mas seus olhos traíam uma curiosidade intensa.

Rebeca, mesmo um pouco assustada pela aproximação repentina, não recuou. Ela ergueu uma sobrancelha, desafiadora.

- E por que isso? - respondeu, com um sorriso provocante. - O lugar parece fascinante. Mas e você? Quem é, afinal? - perguntou, intrigada pelo magnetismo daquele olhar.

- Viktor - ele respondeu, e o nome pareceu ecoar como uma ameaça e uma promessa ao mesmo tempo. - Mas acho que é o suficiente, por enquanto. Me diga, o que a trouxe a um lugar como este?

- Intuição. E... talvez uma sede de respostas - disse Rebeca, com um sorriso leve. - Já que estamos nos apresentando, meu nome é Rebeca.

- Intuição pode ser uma amiga traiçoeira, especialmente em um lugar como este, Rebeca.

De repente, Petal apareceu ao lado deles, o olhar fixo em Viktor.

- Você tem certeza de que isso é uma boa ideia, Viktor? Já estamos lidando com a questão do clã e, agora... isso? - sussurrou ela, estreitando os olhos para ele.

Rebeca franziu o cenho, ouvindo algo sobre um "clã", mas, antes que pudesse questionar, Petal virou-se para ela, oferecendo um sorriso educado.

- Eu sou Petal, a propósito. Sabe, Viktor é... conhecido por desafiar os limites.

- Limites? - Rebeca perguntou, ainda sem entender. - Do que exatamente estamos falando?

Petal hesitou, escolhendo bem as palavras, enquanto Viktor a observava com um leve sorriso divertido.

- Digamos que estamos... envolvidos com assuntos que exigem certas habilidades. Mas são questões internas - explicou Petal, desviando o olhar de Rebeca.

Rebeca riu, meio incrédula.

- É claro. Só espero que vocês não sejam de algum clube secreto ou... - e ela parou, percebendo a expressão dos dois. Viktor e Petal se entreolharam, e Rebeca sentiu um arrepio inesperado. - Vocês estão... falando sério?

Viktor se inclinou ligeiramente, aproximando o rosto do dela, a voz baixa e hipnotizante.

- Depende do que você acredita, Rebeca. A noite revela muitas verdades que a luz do dia prefere esconder.

O tom misterioso de Viktor apenas aguçou ainda mais sua curiosidade, mas, antes que ela pudesse reagir, ele deu um passo atrás, lançando-lhe um olhar profundo.