19-como não se tornar um alvo móvel

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A madrugada estava silenciosa e fria, envolta na penumbra do amanhecer. Rebeca mal havia pegado no sono quando sentiu uma leve batida na porta, insistente o bastante para quebrar o torpor da noite. Ainda sonolenta, ela abriu os olhos e olhou para o relógio ao lado da cama, surpresa com a hora.

A batida se repetiu, desta vez acompanhada pela voz de Jinn, abafada, mas clara o suficiente para ela ouvir.

– Vamos, Rebeca. Tá na hora de levantar.

Ela bufou, afundando o rosto no travesseiro, desejando que aquilo fosse um sonho. Mas a voz persistente de Jinn estava longe de ser imaginária. Ele parecia genuinamente disposto a arrancá-la da cama.

Sem escolha, Rebeca se levantou, calçando o par de botas ao lado da cama e vestindo um casaco sobre o pijama. Ao abrir a porta, encontrou Jinn parado ali, braços cruzados e uma expressão nada amistosa no rosto. Ele a observou de cima a baixo, avaliando sua preparação.

– De pijama? É assim que vai pro treino? – ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Ela suspirou, ainda sem total controle sobre a irritação que se misturava com a sonolência.

– Você me acordou de madrugada, Jinn. Preciso de uns minutos pra estar completamente funcional.

Ele deu um leve sorriso de canto, claramente se divertindo com a irritação dela.

– Tudo bem. Mas não demore. Ellie já está lá fora, esperando. E, acredite, ela não gosta de esperar.

Rebeca fechou a porta e trocou de roupa rapidamente, optando por uma calça leve e uma camiseta que permitisse movimento. Quando desceu as escadas, encontrou Jinn e Ellie já prontos, parados no pátio da mansão sob o céu ainda escuro. Ellie a esperava com os braços cruzados e um olhar firme que a fez hesitar por um instante.

– Finalmente – disse Ellie, com um sorriso irônico. – Pensei que tivesse fugido.

Rebeca revirou os olhos, sentindo a pressão de estar sob o olhar crítico da wolfkin. – Eu estou aqui, não estou? – respondeu, tentando soar confiante.

Ellie sorriu de canto, como se já soubesse que Rebeca reagiria assim, e fez um sinal para que ela se aproximasse.

– Primeira regra – começou Ellie, caminhando em volta de Rebeca. – Nunca subestime seu oponente. Isso vale pra qualquer tipo de luta. Você não tem as nossas habilidades naturais, então precisa de algo a mais: estratégia e controle.

Rebeca assentiu, mas o olhar de Ellie deixava claro que ela esperava mais do que concordância.

– Entendi – respondeu Rebeca, com firmeza.

Jinn cruzou os braços e acrescentou, com um tom um pouco mais leve: – Vamos começar com os reflexos. Quero ver como você reage sob pressão.

Ele se colocou em posição, e antes que Rebeca pudesse fazer qualquer pergunta, ele avançou rapidamente, estendendo o braço como se fosse agarrá-la. Rebeca tentou desviar, mas seus movimentos ainda estavam um tanto lentos, e Jinn segurou seu pulso com facilidade.

– Lento demais, Rebeca – disse ele, soltando-a com um sorriso de quem já esperava esse resultado. – Vamos de novo.

Ellie observava tudo atentamente, como se avaliasse cada pequeno detalhe. Rebeca respirou fundo e se preparou, sentindo a adrenalina crescer.

Jinn atacou novamente, dessa vez com um pouco mais de velocidade. Ela conseguiu desviar parcialmente, mas ele ainda foi mais rápido, segurando-a pelo ombro. Ele a soltou com um leve aceno de cabeça, como se reconhecesse uma pequena melhora.

– Melhor, mas ainda precisa ser mais rápida. Vamos aumentar o ritmo.

E assim o treinamento prosseguiu. Eles repetiram o exercício inúmeras vezes, com Jinn mudando a velocidade e o ângulo dos ataques, enquanto Rebeca tentava acompanhar, suando e ofegante, mas sem desistir. Ellie, apesar de manter-se séria, deu algumas instruções ao longo do caminho, corrigindo sua postura ou mostrando como poderia girar o corpo para escapar de uma situação.

Após uma série de tentativas, Rebeca finalmente conseguiu desviar do ataque de Jinn com precisão, girando o corpo e escapando do alcance dele.

– Muito bom – disse Ellie, com uma expressão de aprovação. – Agora que pegou o jeito, vamos para a próxima etapa.

Jinn deu um passo para trás, e Ellie se colocou em posição diante de Rebeca. A postura dela era diferente da de Jinn, mais ágil e menos direta, como se estivesse pronta para reagir a qualquer movimento.

– Vou te ensinar a derrubar o oponente sem depender de força – disse Ellie. – Você não é forte como um wolfkin, mas pode usar a própria força do oponente contra ele.

Rebeca assentiu, concentrada, e Ellie a guiou através de alguns movimentos, mostrando como poderia desviar e desequilibrar o adversário com passos rápidos e precisos.

Depois de um tempo praticando, Ellie fez um sinal para que Jinn se juntasse a eles.

– Agora, vocês dois vão treinar juntos. Jinn vai te atacar, e você vai usar o que aprendeu pra derrubá-lo.

Jinn sorriu, com um brilho malicioso nos olhos. – Não vou pegar leve, Rebeca. Se quer aprender, precisa sentir a pressão de verdade.

Rebeca respirou fundo e se preparou. Quando Jinn avançou, ela focou nos passos ensinados por Ellie, esperando o momento certo para girar o corpo e desequilibrá-lo. No último instante, com uma leve torção, ela conseguiu usar o peso dele contra ele, forçando-o a perder o equilíbrio e recuar.

Ellie observou, uma sombra de satisfação em seu olhar.

– Muito bom. Agora, de novo.

O treinamento seguiu pela madrugada, até que o sol começou a espreitar no horizonte. Exausta, mas satisfeita, Rebeca conseguiu perceber o quanto havia progredido em poucas horas. Ela olhou para Ellie e Jinn, agradecida pela paciência, mesmo que eles não demonstrassem de maneira óbvia.

Jinn deu um tapinha no ombro dela, um sorriso raro em seu rosto.

– Nada mal para o primeiro treino. Quem sabe um dia você chegue a nos acompanhar.

Ellie cruzou os braços, balançando a cabeça com um sorriso discreto. – Você tem muito potencial, Rebeca. E a gente vai continuar até que você esteja pronta para lidar com qualquer coisa

Rebeca sentiu uma onda de determinação, sabendo que esse era apenas o início.

Marked by ShadowOnde histórias criam vida. Descubra agora