2 - Alucinações

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Dizer não para Brina e Otavio não havia sido apenas uma desculpa para me livrar de vê-los se agarrando ao meu lado no cinema – apesar de ter sido um grande fator influenciador na resposta. Eu tinha mesmo um encontro com Thales, meu namorado.

O que eu posso contar sobre Thales? Apenas que ele se revelou uma grande surpresa em alguns momentos cruciais da minha vida e que ele ainda era uma parte importante dela apesar de suas diferenças de fase.

Thales era uma grande caixa de complexidade que se resolvia facilmente. Ele era o filho adotivo do diretor da nossa escola e tinha o sorriso que conquistava qualquer um – provavelmente traria paz para o mundo se ele não o usasse para seu próprio beneficio. Ele era o que você espera e não espera de um filho de diretor. Suas notas eram perfeitas e sua conduta acadêmica era exemplar, mas dentro desse comportamento se escondia um rebelde que tinha mãos mágicas e uma mente toda voltada para o mal. Não havia um único pedaço de Thales que não fosse deliciosamente um mau-caminho. E eram esses contrastes que fazia com que eu caísse de quatro por ele – não literalmente, ainda.

Vesti minha calça jeans mais apertada e coloquei a jaqueta de couro antes de sair do quarto. Não era como se Thales precisasse de uma superprodução da minha parte para que fizesse eu me sentir bem e, além do mais, iríamos para outra balada, eu precisava estar confortável para dançar como se não houvesse amanhã.

Estava no meio das escadas quando ouvi algo caindo na cozinha. Será que mamãe já havia voltado? Ela estava com o habito de tentar cozinhar e a cozinha sempre acabava como se um furacão tivesse atravessado o cômodo.

- Mamãe? – chamei terminando de descer as escadas.

Minha resposta um foi silêncio completo.

Aparentemente, mamãe não estava em casa. A janela deve estar aberta e o vento derrubou algo, raciocinei enquanto andava em direção a cozinha.

Primeiro, meu cérebro parou de funcionar e se uniu a um universo imaginário onde tudo era possível e real.

Segundo, meu corpo desabou na cadeira da mesa como se pesasse um chumbo.

O que era aquilo na minha frente?

Na verdade, eu sabia, a resposta era bem obvia. Os bigodes compridos e as orelhas pontudas não me deixavam ter duvidas quanto a que animal era aquele, mas aquele sorriso humano e aqueles olhos que pareciam conhecer tudo não podiam ser reais. Senti meu corpo entrar em choque ao mesmo tempo em que a minha mente.

- O gato comeu a sua língua?

Não existia outra reação além de gritar e sair correndo, era a coisa mais lógica a se fazer. Mas apenas uma dessas reações aconteceu. O grito que saiu dos meus lábios foi tão alto que a gata se assustou e desapareceu no ar, surgindo o mais longe possível de mim.

Sim, era uma gata. O laço na cabeça e o timbre da voz era uma indicação obvio de que estávamos falando de uma gata. Uma gata que sorria. Uma gata que falava. Uma gata que se tele-transportava!

Encarei aquela criatura como se a qualquer momento meu cérebro voltasse a funcionar e eu acordaria na minha cama. Esperei por um momento, ainda chocada, que tudo se desfizesse em uma nuvem de fumaça e eu abrisse meus olhos para o teto do meu quarto.

Não foi o que aconteceu.

Levei a mão até meu braço e belisquei com força minha pele, deixando uma marca vermelha no lugar. Pelo menos agora eu iria acordar.

Errei mais uma vez.

- Como isso é possível? – murmurei em estado de choque.

- Ora, querida Princesa, você não se lembra de mais da sua gata de estimação? – soou a voz da gata vinda de cima da geladeira.

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora