25 - Novos começos

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Não sei quanto tempo fiquei sentada no chão chorando, não sei em que momento minha mente ficou tão exausta de sofrer que simplesmente entrou em estado de espera e se silenciou por completo. Era uma exaustão mental que eu nunca havia sofrido antes, não entendia como era possível um ser humano se desligar por completo dos próprios pensamentos, mas foi isso que aconteceu.

Uma batida na porta reativou meu cérebro que impulsionou meus músculos para cima e girei a maçaneta.

- Declan. – suspirei aliviada dando entrada para ele.

- Você está bem? – perguntou analisando meu rosto cuidadosamente. – O que aconteceu?

- Estou bem. – respondi deixando-o pegar meu rosto nas mãos e enxugar minhas lágrimas.

- Guilherme? – perguntou compreensivo.

- Não quero falar sobre isso.

- Tudo bem. Tudo vai ficar bem. – consolou me puxando para o meio dos seus braços e descansando minha cabeça no seu peito.

Não podia considerar o que eu tinha com Declan de amizade, mas, naquele momento, eu estava precisando de ombro para chorar e de alguém que em disse que tudo iria ficar bem. E ele estava ali. Deixei que me abraçasse e me embalasse com palavras de consolo que conseguiram acalmar meu coração dolorido.

Tudo iria ficar bem.

- Quero ir para casa. – pedi no meio dos seus braços.

- Tudo bem, vamos para casa então. – concordou com um sorriso na voz.

- Obrigada.

Dois dias depois eu estava terminando de me arrumar. Havia uma mala grande sobre a cama e eu corria de um lado para o outro enfiando coisas que eu acreditava que fariam falta em Squamaeigrae. Uma calça jeans, um tênis, um lenço desmaquilante – coisas que não existiam lá e que eram essenciais na minha existência.

Fazia dois dias que minha relação com Declan estava se firmando como uma amizade mais que promissora. E fazia dois dias que eu não tinha nem sinal de Guilherme pelo castelo. Ele estava cumprindo a risca meu pedido de não vê-ló enquanto estivesse no castelo.

Eu sabia que ele ainda estava lá, não era como se ele tivesse deixado o castelo para trás. Eu podia sentir nos corredores o aroma do perfume dele quando passava, podia ouvir sua voz ao longe ocasionalmente, podia até mesmo notar os olhares nervosos que Clara lançava na direção da porta quando os passos de Guilherme soavam no corredor do outro lado. Porém, ele não ficava mais no mesmo espaço em que eu.

Quando descia para tomar café-da-manhã, ele já havia saído. Quando circulava pelos corredores, ele parecia saber onde eu andava e pegava outro caminho. Estávamos nos evitando o máximo possível. Eu não sabia se era mais doloroso saber que ele estava sumindo da minha vida lentamente ou se seria mais doloroso ter que vê-lo a todo momento. Entretanto, as coisas estavam seguindo por rumos que eu nunca havia imaginado.

- Está na hora. – anunciou Declan entrando no quarto com as mãos nas costas.

- O que você tem aí? – perguntei finalizando uma trança.

- Mandaram de Squamaeigrae. – ele apoiou o embrulho grande sobre a cama e me chamou. – Se você não gostar, podemos mandar fazer outro.

Ergui uma sobrancelha na sua direção e me aproximei.

Declan estava se mostrando mais gentil e atencioso do que eu havia esperado. Depois de me deixar chorar no seu colo por quase uma noite toda, ele me tratava com delicadeza, quase como se eu pudesse quebrar a qualquer momento. No meio da noite, quando já havia encharcado a camiseta dele e não me sobrava mais nenhuma lágrima, Declan havia chamado meu nome baixinho e sussurrado:

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