27 - Despertar

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Uma luz clara passava por baixo das minhas pálpebras, eu podia sentir meu corpo começando a despertar, minha mente se ligando aos poucos, procurando por onde tudo havia desandado. Eu lembrava de Ambika, lembrava de Clara gritando e de sons de luta, mas nada parecia ser real, apenas a dor latejante que queimava no centro do peito e se espalhava para o resto dos meus membros.

Preocupada com o que ia encontrar, comecei a abrir os olhos lentamente a procura de algo familiar. A luz fraca vinha de um abajur próximo a cama e os sons de conversa que cessaram imediatamente vinham do pé da cama.

As silhuetas começavam a tomar forma lentamente e vi o rosto preocupado de mamãe se aproximar de onde eu estava deitada. Apoiei as mãos na cama e tentei erguer meu corpo contra os travesseiros, mas a queimação pareceu se intensificar e com uma careta desisti de me movimentar.

- Como está se sentindo? – perguntou mamãe fazendo um carinho sem realmente me tocar.

- Parece que acenderam uma fogueira no meu peito, mas estou viva. Eu acho. – respondi olhando em dúvida na direção de Guilherme. Se alguém podia me dizer se eu estava viva ou não de certeza era Guilherme.

Ele sorriu ao compreender minha pergunta apenas com o olhar e acenou em afirmação. Eu estava viva. Havia sido atacada, havia quase morrida, mas meu coração ainda batia no lugar que deveria ficar: dentro da minha caixa torácica.

- Está conosco de verdade desta vez, Alteza? – questionou aproximando-se de mamãe.

- Alguma vez não estive? – devolvi a pergunta e fui respondida com uma risada divertida.

- Você lembra do que aconteceu, Alie? – perguntou mamãe chamando minha atenção para si novamente.

- Está tudo meio embaralhado. – respondi pousando a mão de leve sobre a centro de queimação do peito. – Lembro de estar deitada em uma mesa de pedra presa, lembro da faca vindo na minha direção, depois disso, é tudo preto.

Mamãe suspirou cansada e sorriu de modo aconchegante. Ela tocou meus cabelos, beijou minha testa antes de levantar da cama e disse:

- Vamos conversar depois. Agora, quero que você descanse um pouco.

- Não estou cansada. – respondi tentando sentar mais uma vez.

- Você precisa dormir, seu corpo não está 100% curado.

- Mas, mamãe...

- Eu disse: durma, Alicia. – falou com seu tom autoritário que ela guardava para alguns momentos.

Suspirei contrariada e puxei as cobertas até o pescoço. Pelo canto do olho vi Guilherme sorrir divertido antes de começar a se dirigir para a porta.

- Mamãe? – chamei meio em dúvida. Eu sabia que não deveria provocá-la quando usava aquele tom comigo.

Ela virou na minha direção a meio caminho da porta e ergueu uma sobrancelha.

- Preciso usar o banheiro.

Sem dizer nada, Guilherme aproximou-se da cama e afastou as cobertas do meu corpo, foi só nesse momento que me dei conta da minha real situação. Tirando alguns arranhões e alguns hematomas, meu corpo estava bem de um modo geral, mas o enorme curativo que envolvia meu peito e escondia meus seios fez minhas mãos suarem frias. O quão grave havia sido o machucado?

Olhei na direção de mamãe e Guilherme com desespero nos olhos. O que havia acontecido comigo? Eu lembrava da faca, imaginava que havia levado a facada pela dor que irradiava no meu corpo, porém, era apenas imaginação. Eu acreditava que era um machucado superficial, algo sem profundidade, mas pelo modo como meu corpo estava enfaixado, não parecia ter sido algo simples de resolver.

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