14 - Complicado

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Caminhamos lado a lado por alguns minutos. Atravessamos os jardins e entramos em uma trilha que contornava os bosques. Havia alguns guardas rondando o castelo, mas nenhum pareceu se importar conosco caminhando na aurora. O silêncio estava se tornando uma novidade. Eu estava tão absorta nas sensações que os lábios dele haviam causado que minha mente não estava focada nas vozes que entravam e saiam da minha cabeça.

Chegamos a uma clareira que terminava abruptamente sobre o mar em uma queda que parecia ser infinita. Guilherme segurou minha mão e levou-nos até a borda, sentou com as pernas penduradas e indicou que eu sentasse ao seu lado. Eu não era a maior fã de altura, mas aceitei o convide e sentei com as pernas iguais as dele.

- Observe. – falou apontando para o horizonte.

Raras vezes eu havia assistido o nascer do sol e mais raras ainda eram às vezes em que aquele fenômeno da natureza havia me deixado deslumbrada. O sol começou a surgir aos poucos como se fosse de dentro da água. O céu foi mudando de cores lentamente até atingir o azul claro da manhã. Nada naquele lugar poderia me perturbar – até mesmo os pensamentos de Guilherme pareciam ter se calado.

Sem notar como havia acontecido, meu corpo encontrava-se encaixado sob o braço quente e protetor de Guilherme. Minha cabeça estava apoiada no seu peito e ele descia os dedos lentamente pelo meu braço causando pequenos arrepios. Novamente, a sensação era boa demais para que aquilo fosse certo.

- É lindo. – comentei deixando-me envolver pelo cenário romântico.

- É sim. – concordou apoiando o queixo no alto da minha cabeça. – Cada manhã parece diferente.

Ergui os olhos para poder ver sua expressão e dessa vez não foi preciso um livro e falas pré-determinadas para que nossos lábios se unissem. Ele tocou com cuidado nos meus lábios quase como se eu pudesse quebrar ao meio se houvesse muita pressão. Deixei que ele conduzisse nossas línguas naquela dança lenta e sensual. Era possível sentir todo o meu corpo queimando de cima a baixo e quanto mais nossos corpos ficavam próximos, mais eu podia sentir que ele estava entrando em combustão junto comigo.

Minhas costas afundaram na grama úmida e eu podia sentir alguns raios do sol matinal querendo passar sob minhas pálpebras fechadas. As mãos de Guilherme desciam pela lateral do meu corpo causando arrepios e deixando uma trilha de fogo onde seus dedos tocavam. Eu podia facilmente me perder naquelas mãos e naqueles lábios.

- Guilherme... – suspirei começando a voltar para a realidade. Aquilo não estava certo. Ele namorava a minha prima. Por mais que eu não gostasse dela, eu nunca fui o tipo de garota que causa discórdia nos relacionamentos. – Não.

Ele parou com os lábios no meu pescoço e as mãos na lateral do meu quadril. O não havia sido paralisante. Lentamente, ele começou a sentar na grama ao meu lado e por alguma distância entre nós. Eu sentia como se meu coração estivesse sendo partido, mas aquilo não podia continuar. Eu não o conhecia o suficiente para continuar de onde havíamos parado e ele era um cara comprometido – com uma familiar minha, o que era pior ainda.

- Eu prometi que não iria atacar você, desculpe. – falou começando a se levantar e oferecendo ajuda.

- O que quer que você esteja querendo de mim, não vai rolar. – falei aceitando a ajuda.

- Eu não sei o que quero de você. – respondeu soltando minha mão e indicando que o seguisse pela trilha. – Vamos voltar, daqui a pouco os outros vão acordar.

- Você não pode querer algo comigo. – insisti seguindo-o. – Eu não sei que tipo de relacionamento você tem com a minha prima, mas eu não vou me meter no meio dele.

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