33 - A morte

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(Guilherme)

Eu a vi cair no chão envolta de uma poça de sangue. Senti todo o meu corpo gelar de pavor e corri na sua direção. A espada estava gravada no seu abdômen e mancha tudo de vermelho forte. Aquele não podia ser o sangue dela. Alicia não iria me deixar daquela forma.

Sem pensar me atirei no chão junto com seu corpo e a ergui nos meus braços como havia feito tantas vezes antes, senti sua pele macia contra a minha, seu cabelo roçando levemente meu braço, sua respiração fraca e pude perceber que seus olhos estavam começando a perder a vivacidade que fazia dela ser quem era.

- Alie. – sussurrei seu nome aproximando nossos rostos. – Por favor, não.

Um sorriso fraco surgiu nos lábios brancos e sem vida, o sangue começava a escorrer pelo canto da boca dela. Sua mão se ergueu na minha direção e deitei meu rosto ali, eu precisava que ela me tocasse para saber que não me abandonaria. Ela não podia estar me abandonando outra vez e não desta forma.

- Alie, por favor, fique. Você prometeu que ia ficar. – implorei deixando as lágrimas caírem sobre o seu rosto sujo.

- Vocês estão a salvo. – respondeu com um fio de voz e sua mão abandonou meu rosto. Vi a descida da sua mão em direção ao solo como se estivéssemos em câmera lenta, ela deu um ultimo suspiro pesado e seus olhos se fecharam como ultimo esforço do seu corpo.

- Alicia. – implorei colando meus lábios nos seus.

Estávamos em um país de magia, no meio do que parecia ser um conto de fadas, quem sabe um beijo pudesse salvá-la. Quem sabe o meu amor fosse o suficiente para deixá-la viva.

- Por favor, por favor. – implorei agarrando-me ao seu corpo como se pudesse manter sua alma ali.

- Tirem o corpo de Thales daqui. – soou a voz rígida de Clara próxima ao meu corpo. – Se já não estivesse morto, eu mesma o mataria.

Ergui meus olhos na direção de Clara e ela se abaixou ao meu lado. Sua mão pousou no meu ombro e senti seus lábios tocarem minha bochecha como forma de consolo.

- Você precisa deixá-la ir.

- Não, ela não pode partir. – falei deixando minhas lágrimas aumentarem ainda mais e enterrando meu rosto nos cabelos de Alicia. – Ela não pode.

Clara entendia. Se havia alguém ali que entendia a situação era ela. Sem mais nenhuma palavra, tocou meu rosto e se dirigiu para o restante das pessoas que estavam ali. Me desliguei do mundo a minha volta, eu não queria ouvir o som das vozes, não queria ver nenhum rosto. Tudo que havia restado naquele momento era o corpo de Alicia que ainda estava quente nos meus braços.

- Por favor, por favor, por favor.

Perdi a noção do tempo. Não notei as mãos que pousaram no meu ombro, não respondi as vozes que falavam comigo, não olhei para os rostos que paravam a minha frente. Fui apenas notando que cada vez mais escurecia, que tudo ia ficando mais silencioso e que o corpo de Alicia começava a esfriar nos meus braços.

Ela estava me deixando e eu não sabia o que faria da minha vida a partir daquele momento.

- Guilherme. – a voz embargada do rei fez com que eu levantasse meus olhos na direção dele.

Vi no seu olhar todo o sofrimento de perder a filha de uma forma violenta, vi seus olhos vermelhos e as lágrimas que riscavam seu rosto. Eu havia perdido o amor da minha vida, ele havia perdido sua única filha.

- Ela não pode nos deixar. – sussurrei voltando a admirar o rosto de Alicia.

- Ela fez o que estava destinada a fazer.

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora